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BASTIDORES
Insatisfação com condução da política de juros leva Fazenda a buscar nomes como o do diretor do Goldman Sachs
Governo sonda Leme para diretoria do BC
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O economista Paulo Leme, diretor de pesquisa de mercados
emergentes do banco Goldman
Sachs, de Nova York, foi sondado
para ocupar uma diretoria do
Banco Central. Segundo a Folha
apurou, Leme demonstrou simpatia pela idéia.
Como antecipou a Folha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
pediu ao ministro da Fazenda,
Antonio Palocci Filho, que articulasse trocas na diretoria do BC.
Leme é cotado para substituir
Afonso Sant'ana Bevilaqua, diretor de Política Econômica, ou Alexandre Schwartsman, diretor de
Assuntos Internacionais. Por seu
perfil, é maior a chance de substituir Schwartsman.
Tais trocas não têm o objetivo
de mudar a política econômica,
mas de arejar as discussões sobre
taxas de juros. Leme, por exemplo, é forte adepto da política de
rigor fiscal e monetário.
Há uma avaliação do próprio
Palocci de que o problema é de
dosagem, não de remédio. Lula,
insatisfeito com a atual diretoria,
que julga conservadora em excesso, concorda com o ministro.
A Folha ouviu de um membro
da cúpula do governo que o perfil
ideal para a diretoria do Banco
Central é o de Armínio Fraga, ex-presidente do BC e antecessor do
atual, Henrique Meirelles. Ou seja, com experiência na operação
de mesa de câmbio, com conhecimento de economia real.
Uma das queixas em relação à
atual diretoria, especificamente
sobre Bevilaqua, é de suposto excesso de academicismo. Leme
tem reconhecida carreira internacional e perfil de operador.
Em fevereiro de 1999, Armínio o
convidou para diretor de Assuntos Internacionais do BC. Mas um
artigo do colunista da Folha Luís
Nassif, recapitulando uma série
de avaliações negativas dele sobre
a economia brasileira, lhe tirou
apoio político para assumir.
À época, o próprio Armínio era
muito criticado por ter trabalhado para o megainvestidor George
Soros, com petardos na linha "raposa que toma conta do galinheiro". Ao final de sua gestão, saiu
respeitado até pelos críticos.
Armínio é ouvido
Pela ligação com o governo FHC
e porque só o cargo de presidente
o interessaria, são remotas as
chances de Armínio Fraga retornar ao BC. Mas ele tem sido bastante ouvido por Palocci e pelo secretário especial de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Marcos Lisboa.
Ao contrário do que a Fazenda
deseja fazer crer para consumo
externo, as críticas à diretoria do
BC, batizadas de "fogo amigo",
não partem do entorno de Lula ou
de um suposto grupo de ministros que defendem expansão de
gastos públicos. Hoje, elas vêm
principalmente de Lisboa, de Palocci e do próprio Lula.
Na transição FHC-Lula, no final
de 2002, Palocci trabalhou com a
possibilidade de pedir que Armínio continuasse a presidir o BC.
José Dirceu, hoje ministro da Casa Civil e então coordenador político da transição, o vetou sob o argumento de que seria um sinal
político péssimo manter um nome forte do governo FHC. Palocci
enfrentava dificuldade para achar
um presidente do BC, mas aquiesceu.
Como saldo da boa relação com
Armínio, Palocci recebeu à época
conselho para chamar Lisboa para sua equipe. Hoje é Lisboa quem
conversa muito com Armínio, de
quem escuta críticas moderadas à
atual política monetária.
Nesta semana, a ata do Copom
(Comitê de Política Monetária) sinalizou que virão novas altas da
taxa básica de juros, a Selic, e que,
uma vez elevada, permanecerá
inalterada por longo período. A
Selic está hoje em 18,25% ao ano.
O Copom, formado pelo presidente do BC mais seus oito diretores, reúne-se mensalmente para
fixar a taxa básica de juros.
Outra possibilidade de mudança na diretoria do BC é o eventual
deslocamento do diretor de Política Monetária, Rodrigo Azevedo,
para o posto de Bevilaqua. Apesar
de conservador e de ter endossado o atual processo de elevação
dos juros, Azevedo tem ligações
políticas com o presidente do Senado, José Sarney. No governo,
dizem que demonstra maior jogo
de cintura do que Bevilaqua, que,
por exemplo, recusa-se a receber
parlamentares.
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