São Paulo, sábado, 29 de janeiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BASTIDORES

Insatisfação com condução da política de juros leva Fazenda a buscar nomes como o do diretor do Goldman Sachs

Governo sonda Leme para diretoria do BC

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O economista Paulo Leme, diretor de pesquisa de mercados emergentes do banco Goldman Sachs, de Nova York, foi sondado para ocupar uma diretoria do Banco Central. Segundo a Folha apurou, Leme demonstrou simpatia pela idéia.
Como antecipou a Folha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, que articulasse trocas na diretoria do BC. Leme é cotado para substituir Afonso Sant'ana Bevilaqua, diretor de Política Econômica, ou Alexandre Schwartsman, diretor de Assuntos Internacionais. Por seu perfil, é maior a chance de substituir Schwartsman.
Tais trocas não têm o objetivo de mudar a política econômica, mas de arejar as discussões sobre taxas de juros. Leme, por exemplo, é forte adepto da política de rigor fiscal e monetário.
Há uma avaliação do próprio Palocci de que o problema é de dosagem, não de remédio. Lula, insatisfeito com a atual diretoria, que julga conservadora em excesso, concorda com o ministro.
A Folha ouviu de um membro da cúpula do governo que o perfil ideal para a diretoria do Banco Central é o de Armínio Fraga, ex-presidente do BC e antecessor do atual, Henrique Meirelles. Ou seja, com experiência na operação de mesa de câmbio, com conhecimento de economia real.
Uma das queixas em relação à atual diretoria, especificamente sobre Bevilaqua, é de suposto excesso de academicismo. Leme tem reconhecida carreira internacional e perfil de operador.
Em fevereiro de 1999, Armínio o convidou para diretor de Assuntos Internacionais do BC. Mas um artigo do colunista da Folha Luís Nassif, recapitulando uma série de avaliações negativas dele sobre a economia brasileira, lhe tirou apoio político para assumir.
À época, o próprio Armínio era muito criticado por ter trabalhado para o megainvestidor George Soros, com petardos na linha "raposa que toma conta do galinheiro". Ao final de sua gestão, saiu respeitado até pelos críticos.

Armínio é ouvido
Pela ligação com o governo FHC e porque só o cargo de presidente o interessaria, são remotas as chances de Armínio Fraga retornar ao BC. Mas ele tem sido bastante ouvido por Palocci e pelo secretário especial de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Marcos Lisboa.
Ao contrário do que a Fazenda deseja fazer crer para consumo externo, as críticas à diretoria do BC, batizadas de "fogo amigo", não partem do entorno de Lula ou de um suposto grupo de ministros que defendem expansão de gastos públicos. Hoje, elas vêm principalmente de Lisboa, de Palocci e do próprio Lula.
Na transição FHC-Lula, no final de 2002, Palocci trabalhou com a possibilidade de pedir que Armínio continuasse a presidir o BC. José Dirceu, hoje ministro da Casa Civil e então coordenador político da transição, o vetou sob o argumento de que seria um sinal político péssimo manter um nome forte do governo FHC. Palocci enfrentava dificuldade para achar um presidente do BC, mas aquiesceu.
Como saldo da boa relação com Armínio, Palocci recebeu à época conselho para chamar Lisboa para sua equipe. Hoje é Lisboa quem conversa muito com Armínio, de quem escuta críticas moderadas à atual política monetária.
Nesta semana, a ata do Copom (Comitê de Política Monetária) sinalizou que virão novas altas da taxa básica de juros, a Selic, e que, uma vez elevada, permanecerá inalterada por longo período. A Selic está hoje em 18,25% ao ano. O Copom, formado pelo presidente do BC mais seus oito diretores, reúne-se mensalmente para fixar a taxa básica de juros.
Outra possibilidade de mudança na diretoria do BC é o eventual deslocamento do diretor de Política Monetária, Rodrigo Azevedo, para o posto de Bevilaqua. Apesar de conservador e de ter endossado o atual processo de elevação dos juros, Azevedo tem ligações políticas com o presidente do Senado, José Sarney. No governo, dizem que demonstra maior jogo de cintura do que Bevilaqua, que, por exemplo, recusa-se a receber parlamentares.


Texto Anterior: Depois de "pito", Furlan defende política externa
Próximo Texto: Chefe do setor de operações deixará o cargo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.