São Paulo, quinta, 29 de janeiro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DISPUTA INTERNA
Veto do Previ à associação com a CSN coincide com alertas contra o empresário que chegaram a FHC
Ex-aliado lidera a oposição a Steinbruch

da Reportagem Local

Na última reunião do Conselho de Administração da Vale do Rio Doce em 97, o Previ -fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil- firmou posição a favor dos bancos Opportunity e Liberal contra o projeto do empresário Benjamin Steinbruch de associar a Vale à CSN, para que, juntas, as duas empresas comprassem a siderúrgica venezuelana Sidor.
O presidente Fernando Henrique Cardoso já tinha sido "envenenado" pelas fofocas contra Steinbruch.
Steinbruch alarmou-se com a resistência dos demais conselheiros ao seu projeto. Procurou explicações e reclamou com um amigo da associação do Previ com o Opportunity e o representante do megainvestidor George Soros, o Banco Liberal. Eles disputam com Steinbruch o controle da Vale.
Oficialmente, a quem lhe pergunta sobre as conversas e fofocas que chegaram aos seus ouvidos tratando da Vale, o presidente FHC diz que recebeu as informações apenas como as considera: informações. FHC não nega as conversas. A um assessor que na última terça-feira lhe perguntou sobre a influência do Previ na derrota do projeto de Steinbruch de comprar a Sidor, respondeu: "A Vale é uma empresa privada. O governo não tem nada com isso".
A história real é um pouco diferente e nem mesmo alguns amigos com os quais o presidente se aconselha politicamente acham que o governo não tem nada com isso. Na segunda semana de janeiro, o governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), jantou no Palácio da Alvorada a sós com o presidente. Externou suas preocupações com a associação sistemática do Previ contra Steinbruch e a CSN no Conselho da Vale.
Amigo de Benjamin Steinbruch e sobretudo interessado nos quase R$ 1,5 bilhão que o grupo Vicunha e a CSN estão investindo em projetos industriais no seu Estado, Tasso não foi ao Palácio só para falar disso. Conversaram sobre a política nacional e cearense, as reformas constitucionais e também sobre a Vale
"Estão fazendo muitas fofocas sobre o Benjamin. Acho que você deve observar toda a conjuntura", recomendou o governador.
Após a conversa, FHC recebeu informações de outros interlocutores, que recomendaram cautela na associação do Previ com o Banco Liberal, pois esta instituição representaria os interesses de Soros no Brasil.
Soros quebrou o Banco da Inglaterra em 90, por meio de uma aposta contra o poder de fogo financeiro do governo inglês. No ano passado foi acusado pelo governo malaio de ser um dos responsáveis pela bancarrota financeira da Malásia, ao retirar de vez suas posições de investimento na Bolsa de Valores local.
"A falta de clareza das diretrizes administrativas que o Benjamin Steinbruch quer impor para a Vale do Rio Doce gerou uma série de boatos no mercado. Isso não é bom para a empresa nem para o processo de privatização brasileiro. Teme-se, no mercado, que ele não tenha como honrar a dívida com o NationsBank, que vencerá em maio", alerta o consultor financeiro Jouji Kawasaki, da Lafis - Latin American Financial Information Service. (LUÍS COSTA PINTO)


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.