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São Paulo, sábado, 29 de março de 2003

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RECEITA ORTODOXA

Superávit primário no 1º bimestre chega a 6,59% do PIB, maior índice para o período desde 1994

Aperto fiscal de Lula já supera anos FHC

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Nos dois primeiros meses de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o esforço fiscal realizado pelo setor público atingiu valor recorde e superou os registrados, para o mesmo período, nos oito anos do governo FHC. O superávit primário (receitas menos despesas, exceto gastos com juros) acumulado no período por União, Estados, municípios e estatais chegou a R$ 16,084 bilhões, o equivalente a 6,59% do PIB.
Desde 1994 o setor público não conseguia um resultado fiscal tão elevado nos dois primeiros meses do ano. O superávit primário acumulado entre janeiro e fevereiro daquele ano representou 8,08% do PIB do período. Na época, porém, os resultados eram favorecidos pela inflação elevada.
O superávit obtido no primeiro bimestre deste ano já é suficiente para o cumprimento da meta estabelecida no acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), segundo o qual o setor público deveria economizar R$ 15,4 bilhões entre janeiro e março.
Em seu programa de governo, o então candidato Lula criticava o aperto feito no segundo mandato de FHC: "A âncora fiscal que procura evitar o crescimento acelerado da dívida pública interna, pela via dos superávits primários, exige um esforço enorme de todos os brasileiros, afetando especialmente a viabilidade dos programas sociais do poder público".
Ainda assim, o mesmo programa de governo justificava a necessidade de manter o aperto por tempo não-determinado, devido à "realidade que o futuro governo vai herdar e que não poderá reverter num passe de mágica".
O que se viu neste início do ano é que, pelo menos por enquanto, falou mais alto a necessidade de manter o aperto fiscal, numa tentativa de conter o crescimento da dívida pública e de ganhar a confiança do mercado.
Agentes do mercado financeiro sempre cobraram de Lula um compromisso mais forte com a obtenção de resultados fiscais primários elevados, para garantir o pagamento dos juros da dívida pública. Já os investimentos do governo foram afetados com os recentes cortes feitos no Orçamento da União, adotados justamente para garantir o superávit.
As receitas obtidas pelo Tesouro Nacional no bimestre, por exemplo, cresceram R$ 5,3 bilhões em relação ao mesmo período do ano passado, chegando a R$ 48,3 bilhões. Os gastos, por sua vez, aumentaram R$ 3 bilhões e somaram R$ 37,3 bilhões.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, disse ontem que o resultado fiscal registrado no início do ano "mostra que o governo está comprometido com a estabilidade fiscal".
Dos R$ 16,084 bilhões economizados no primeiro bimestre do ano, 70% foram obtidos pelo chamado governo central (Tesouro, BC e Previdência). Outros 25% vieram de Estados e municípios, e o restante, das estatais.
Todo esse esforço fiscal conseguiu estabilizar a relação entre dívida pública e PIB, índice acompanhado pelo mercado como um indicador da solvência do país. No mês passado, o endividamento foi a R$ 904,365 bilhões (56,6% do PIB). Segundo Lopes, essa relação pode cair para 55,5% neste mês caso o dólar se mantenha na casa dos R$ 3,40. Cerca de metade da dívida do setor público é corrigida pelo câmbio.
Em dezembro passado, o endividamento representava 56,5% do PIB. Anteriormente, o BC havia anunciado que essa proporção havia ficado em 55,9%, mas revisou esse número depois que foram anunciados os valores oficiais do PIB do ano passado.


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