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RECEITA ORTODOXA
Superávit primário no 1º bimestre chega a 6,59% do PIB, maior índice para o período desde 1994
Aperto fiscal de Lula já supera anos FHC
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nos dois primeiros meses de governo do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, o esforço fiscal realizado pelo setor público atingiu
valor recorde e superou os registrados, para o mesmo período,
nos oito anos do governo FHC. O
superávit primário (receitas menos despesas, exceto gastos com
juros) acumulado no período por
União, Estados, municípios e estatais chegou a R$ 16,084 bilhões,
o equivalente a 6,59% do PIB.
Desde 1994 o setor público não
conseguia um resultado fiscal tão
elevado nos dois primeiros meses
do ano. O superávit primário acumulado entre janeiro e fevereiro
daquele ano representou 8,08%
do PIB do período. Na época, porém, os resultados eram favorecidos pela inflação elevada.
O superávit obtido no primeiro
bimestre deste ano já é suficiente
para o cumprimento da meta estabelecida no acordo com o FMI
(Fundo Monetário Internacional), segundo o qual o setor público deveria economizar R$ 15,4 bilhões entre janeiro e março.
Em seu programa de governo, o
então candidato Lula criticava o
aperto feito no segundo mandato
de FHC: "A âncora fiscal que procura evitar o crescimento acelerado da dívida pública interna, pela
via dos superávits primários, exige um esforço enorme de todos os
brasileiros, afetando especialmente a viabilidade dos programas sociais do poder público".
Ainda assim, o mesmo programa de governo justificava a necessidade de manter o aperto por
tempo não-determinado, devido
à "realidade que o futuro governo
vai herdar e que não poderá reverter num passe de mágica".
O que se viu neste início do ano
é que, pelo menos por enquanto,
falou mais alto a necessidade de
manter o aperto fiscal, numa tentativa de conter o crescimento da
dívida pública e de ganhar a confiança do mercado.
Agentes do mercado financeiro
sempre cobraram de Lula um
compromisso mais forte com a
obtenção de resultados fiscais primários elevados, para garantir o
pagamento dos juros da dívida
pública. Já os investimentos do
governo foram afetados com os
recentes cortes feitos no Orçamento da União, adotados justamente para garantir o superávit.
As receitas obtidas pelo Tesouro
Nacional no bimestre, por exemplo, cresceram R$ 5,3 bilhões em
relação ao mesmo período do ano
passado, chegando a R$ 48,3 bilhões. Os gastos, por sua vez, aumentaram R$ 3 bilhões e somaram R$ 37,3 bilhões.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes,
disse ontem que o resultado fiscal
registrado no início do ano "mostra que o governo está comprometido com a estabilidade fiscal".
Dos R$ 16,084 bilhões economizados no primeiro bimestre do
ano, 70% foram obtidos pelo chamado governo central (Tesouro,
BC e Previdência). Outros 25%
vieram de Estados e municípios, e
o restante, das estatais.
Todo esse esforço fiscal conseguiu estabilizar a relação entre dívida pública e PIB, índice acompanhado pelo mercado como um
indicador da solvência do país.
No mês passado, o endividamento foi a R$ 904,365 bilhões (56,6%
do PIB). Segundo Lopes, essa relação pode cair para 55,5% neste
mês caso o dólar se mantenha na
casa dos R$ 3,40. Cerca de metade
da dívida do setor público é corrigida pelo câmbio.
Em dezembro passado, o endividamento representava 56,5%
do PIB. Anteriormente, o BC havia anunciado que essa proporção
havia ficado em 55,9%, mas revisou esse número depois que foram anunciados os valores oficiais do PIB do ano passado.
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