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São Paulo, sábado, 29 de março de 2003

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Banco concentrou financiamentos entre 2000 e 2002

GUILHERME BARROS

EDITOR DO PAINEL S.A.

Do total de financiamentos aprovados pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) nos últimos três anos (2000 a 2002), cerca de 20% foram destinados a apenas 12 empresas. Dessas, somente quatro (Brasil Telecom, Rio Polímeros, Aracruz e Embraer) podem ser consideradas empresas nacionais puras.
Nesses últimos três anos, o total de aprovações de recursos do BNDES somou R$ 95,8 bilhões, para um desembolso, nesse mesmo período, de R$ 86,8 bilhões. As maiores aprovações foram para empresas internacionais: Continental Express, Volkswagen, American Eagle, Barracuda & Caratinga Leasing Company (leia-se Petrobras e Halliburton), Eletropaulo (leia-se AES), Light (leia-se EDF - Electricité de France) e Chautauqua Airlines.
Para o economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), esses números mostram que "a prioridade do governo passado foi financiar o capital estrangeiro com dinheiro nacional".
Gomes de Almeida faz a ressalva que uma boa parte dessas aprovações foi para a Embraer, de forma disfarçada. Isso porque os financiamentos do BNDES-Exim, o braço do banco para a exportação, foram para empresas aéreas (Continental, American Eagle e Chautauqua) adquirirem aviões fabricados pela Embraer. Mesmo assim, o economista acha que houve privilégio por parte do BNDES ao capital estrangeiro.
Outra conclusão é que o governo não privilegiou a indústria nacional. Das 12 empresas beneficiadas pelo BNDES, só três são do setor industrial e de capital nacional: Aracruz, Rio Polímeros (o pólo petroquímico do Rio) e Embraer.
Segundo Gomes de Almeida, esse quadro das maiores aprovações do BNDES nos últimos três anos é um reflexo claro do fato de o governo ter deixado de formular uma política industrial para o país. "Nós vamos pagar muito caro por isso", diz o economista.
De acordo com os estudos do Iedi, a indústria brasileira já está no limite de sua capacidade por não ter investido nos últimos anos. Com crescimento de 10% das exportações e de 2% do PIB (Produto Interno Bruto) previstos para este ano, o Iedi calcula que a indústria brasileira irá terminar 2003 com ocupação de mais de 90% de sua capacidade instalada.
As consequências de a indústria brasileira ter batido no teto no uso de sua capacidade são de aumento da inflação e de restrições à volta do crescimento e do aumento das exportações. "O efeito inflacionário já está sendo sentido neste ano, mas, a partir de 2004, os grandes problemas serão os limites da indústria para o crescimento e a ampliação das exportações", diz o economista do Iedi.
Segundo Gomes de Almeida, os investimentos para a indústria já estão atrasados. Para ele, o BNDES já deveria ter dado a partida nesse novo ciclo há algum tempo. Durante os anos do governo FHC, segundo Gomes de Almeida, as prioridades do BNDES foram os financiamentos à privatização e à Embraer.
A participação da indústria no total de financiamentos concedidos pelo BNDES caiu de 70% em 1990 para 45% em 2002. Em 1997 e em 1998, a indústria recebeu apenas cerca de 35% do total de recursos liberados pelo banco.
As prioridades do BNDES devem mudar a partir de agora. O próprio presidente do BNDES, Carlos Lessa, já disse que o banco irá privilegiar a empresa nacional.
Gomes de Almeida acredita que a indústria de base voltará a se tornar prioridade do BNDES, como ocorreu nos anos 70. Para ele, empresas nacionais dos setores de siderurgia, de não-ferrosos, de não-metálicos, de papel e celulose, de química e petroquímica e outros, que estão no limite da capacidade, devem voltar a fazer parte da lista das cinco com maior aprovação de financiamentos do BNDES.


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