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Banco concentrou financiamentos entre 2000 e 2002
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
Do total de financiamentos
aprovados pelo BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) nos últimos
três anos (2000 a 2002), cerca de
20% foram destinados a apenas 12
empresas. Dessas, somente quatro (Brasil Telecom, Rio Polímeros, Aracruz e Embraer) podem
ser consideradas empresas nacionais puras.
Nesses últimos três anos, o total
de aprovações de recursos do
BNDES somou R$ 95,8 bilhões,
para um desembolso, nesse mesmo período, de R$ 86,8 bilhões.
As maiores aprovações foram para empresas internacionais: Continental Express, Volkswagen,
American Eagle, Barracuda & Caratinga Leasing Company (leia-se
Petrobras e Halliburton), Eletropaulo (leia-se AES), Light (leia-se
EDF - Electricité de France) e
Chautauqua Airlines.
Para o economista Júlio Sérgio
Gomes de Almeida, diretor do Iedi (Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial), esses números mostram que "a
prioridade do governo passado
foi financiar o capital estrangeiro
com dinheiro nacional".
Gomes de Almeida faz a ressalva que uma boa parte dessas
aprovações foi para a Embraer, de
forma disfarçada. Isso porque os
financiamentos do BNDES-Exim,
o braço do banco para a exportação, foram para empresas aéreas
(Continental, American Eagle e
Chautauqua) adquirirem aviões
fabricados pela Embraer. Mesmo
assim, o economista acha que
houve privilégio por parte do
BNDES ao capital estrangeiro.
Outra conclusão é que o governo não privilegiou a indústria nacional. Das 12 empresas beneficiadas pelo BNDES, só três são do setor industrial e de capital nacional: Aracruz, Rio Polímeros (o
pólo petroquímico do Rio) e Embraer.
Segundo Gomes de Almeida,
esse quadro das maiores aprovações do BNDES nos últimos três
anos é um reflexo claro do fato de
o governo ter deixado de formular uma política industrial para o
país. "Nós vamos pagar muito caro por isso", diz o economista.
De acordo com os estudos do
Iedi, a indústria brasileira já está
no limite de sua capacidade por
não ter investido nos últimos
anos. Com crescimento de 10%
das exportações e de 2% do PIB
(Produto Interno Bruto) previstos para este ano, o Iedi calcula
que a indústria brasileira irá terminar 2003 com ocupação de
mais de 90% de sua capacidade
instalada.
As consequências de a indústria
brasileira ter batido no teto no uso
de sua capacidade são de aumento da inflação e de restrições à volta do crescimento e do aumento
das exportações. "O efeito inflacionário já está sendo sentido neste ano, mas, a partir de 2004, os
grandes problemas serão os limites da indústria para o crescimento e a ampliação das exportações", diz o economista do Iedi.
Segundo Gomes de Almeida, os
investimentos para a indústria já
estão atrasados. Para ele, o
BNDES já deveria ter dado a partida nesse novo ciclo há algum
tempo. Durante os anos do governo FHC, segundo Gomes de Almeida, as prioridades do BNDES
foram os financiamentos à privatização e à Embraer.
A participação da indústria no
total de financiamentos concedidos pelo BNDES caiu de 70% em
1990 para 45% em 2002. Em 1997 e
em 1998, a indústria recebeu apenas cerca de 35% do total de recursos liberados pelo banco.
As prioridades do BNDES devem mudar a partir de agora. O
próprio presidente do BNDES,
Carlos Lessa, já disse que o banco
irá privilegiar a empresa nacional.
Gomes de Almeida acredita que
a indústria de base voltará a se
tornar prioridade do BNDES, como ocorreu nos anos 70. Para ele,
empresas nacionais dos setores de
siderurgia, de não-ferrosos, de
não-metálicos, de papel e celulose, de química e petroquímica e
outros, que estão no limite da capacidade, devem voltar a fazer
parte da lista das cinco com maior
aprovação de financiamentos do
BNDES.
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