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TROCA DE COMANDO
Ministro fala em continuísmo, mas rechaça redução de tarifas de importação e de gastos defendida por antecessor
Mantega rejeita choque liberal de Palocci
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O novo ministro da Fazenda,
Guido Mantega, foi empossado
ontem com a promessa de manter
a política econômica, mas descartando continuar as iniciativas de
aprofundamento do ajuste fiscal e
da abertura comercial que vinham sendo formuladas por seu
antecessor, Antonio Palocci Filho.
Sem equipe definida, Mantega
também não dispõe, assumidamente, de uma agenda de longo
prazo, de medidas para um eventual segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Não estamos pensando em segundo mandato, em 2007."
Em seu discurso, procurou conciliar seu pensamento desenvolvimentista e a necessidade de mostrar austeridade. "Continuo fiel a
mim mesmo e às minhas idéias. O
desenvolvimento que defendo é
responsável, avesso às aventuras e
ao entusiasmo juvenil."
Na entrevista concedida no Planalto, logo depois da cerimônia
de transmissão do cargo, Mantega rejeitou as idéias de um plano
de longo prazo de controle das
despesas permanentes e de ampla
rodada de redução de alíquotas de
importação -duas propostas
polêmicas que Palocci tentava
convencer o governo a adotar.
"Não existe nenhum programa
de longo prazo, porque eu acredito que estamos fazendo uma política fiscal austera", disse o ministro, com o argumento de que o
governo Lula já elevou a meta de
superávit primário -a economia
destinada ao abatimento da dívida pública- de 3,75% para
4,25% do PIB. "Estamos gastando
adequadamente os recursos do
setor público."
Não era essa a avaliação de Palocci e sua equipe, que, desde o
ano passado, insistiam na necessidade de conter o crescimento das
despesas permanentes, caso de
pessoal, previdência e assistência
social. Por esse diagnóstico, o
ajuste conduzido até aqui é de má
qualidade, por se concentrar em
aumento da carga tributária e corte de investimentos.
Palocci pregava a adoção de medidas politicamente difíceis, como a eliminação de gastos sociais
mínimos fixados na Constituição
e a desvinculação das aposentadorias com o salário mínimo.
A resposta de Mantega para o
estímulo às importações seguiu a
mesma linha. "Não há nenhum
plano oficial do Ministério da Fazenda nesse sentido", afirmou.
"Eu acredito que um câmbio nesse patamar, que favorece muito as
importações, é como se você já estivesse praticando uma redução
das alíquotas."
Essa visão de Mantega está em
sintonia com a dos industriais,
que temem perder a disputa com
os produtos importados barateados com a queda do dólar.
Se não deu sinais de que pretenda aprofundar a ortodoxia liberal
da qual sempre foi crítico, Mantega se preocupou em mostrar fidelidade aos pilares já estabelecidos
da política econômica. Foi genérico ao discorrer sobre a possibilidade de alterações na dosagem de
juros e superávit fiscal.
"Não seria nenhum pecado
mortal se houvesse alguma mudança de dosagem", disse, citando como exemplo eventual pressão inflacionária, que exigiria juros mais altos. Na situação atual,
prosseguiu, a inflação sob controle permite a queda das taxas.
Confrontado com as críticas
que fez no ano passado à política
do Banco Central, Mantega disse
que, agora, os juros estão caindo
no ritmo certo. "O ritmo bom para 2006 é um crescimento [econômico] de 4,5%, 5%", avaliou, repetindo as previsões de Palocci.
Pela manhã, em entrevista à TV
Globo, o ministro havia sido mais
incisivo. "O Brasil tem de ter taxas
de juros civilizadas, que permitam estimular a produção e o consumo. A inflação estando sob
controle, não há nada que impeça
a queda das taxas de juros."
Equipe
Mantega não terá em sua equipe
os dois principais expoentes do
pensamento ortodoxo na gestão
Palocci. Murilo Portugal deixou a
secretaria-executiva, segundo
posto na hierarquia do ministério, e o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, confirmou
que deixará o cargo para assumir
um posto no BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Convidado por Mantega para
ser diretor do BNDES, onde está
atualmente, o economista Carlos
Kawall é um dos nomes cotados
para assumir um cargo no Ministério da Fazenda.
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