São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 2006

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ANÁLISE

Ministro não dissipa incerteza

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As declarações iniciais de Guido Mantega sugerem que a política econômica será mantida numa espécie de piloto automático, mas são insuficientes para prever o que ocorrerá se houver necessidade de um vôo manual.
Como disse Mantega, a economia vive "céu de brigadeiro": não há sinal de pressões inflacionárias ou de crises externas, nem decisões de alta complexidade ou votações polêmicas no Congresso.
Os juros estão em queda e assim devem continuar nos próximos meses; o governo já havia decidido reduzir o superávit primário deste ano à meta oficial; o saldo da balança comercial permanece confortável; o crescimento deverá superar o do ano passado sem necessidade de medidas adicionais.
A missão de Mantega, como deixam claro suas entrevistas, é não gerar incertezas no curto prazo em um mercado financeiro que se tornou aliado do governo petista. Permanecerá, contudo, a insegurança em relação ao que Mantega faria, por exemplo, no caso de uma disparada do dólar.
Nos próximos dias, o ministro será testado em cada medida ou declaração. Amanhã, ele será um dos três votantes na reunião do Conselho Monetário Nacional que fixará a TJLP -dias atrás, na presidência do BNDES, Mantega militava publicamente por uma redução mais forte da taxa.
Até o final de junho, Mantega, que já defendeu metas de inflação menos ambiciosas, participa da definição da meta de 2008.
Terá de negociar com o Congresso a aprovação do Orçamento deste ano. Resta pendente, ainda, um pacote de benefícios para o setor agrícola. Em todos os casos, o mercado esperará dele o papel de frear a generosidade que os políticos demonstram em ano eleitoral.
Seu antecessor, Antonio Palocci Filho, não conquistou a confiança do investidor local e estrangeiro com frases economicamente corretas sobre o respeito aos contratos e a importância do controle da inflação -mas com medidas que soam hoje muito mais difíceis.
Palocci elevou o superávit primário de 3,75% para 4,25% do PIB; patrocinou a elevação dos juros a 26,5% ao ano; bancou uma reforma da Previdência que indispôs o governo com aliados tradicionais; renovou o acordo com o FMI; reconheceu méritos das políticas iniciadas pelos tucanos.
Desde 2003, quando tudo isso foi feito de uma vez, Lula mostra uma disposição decrescente em tomar novas medidas que contrariam o discurso histórico do PT. Mantega, com seu visível apreço à coerência intelectual, não parece inclinado a assumir o papel de líder dos ortodoxos no governo.
(GUSTAVO PATU)


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