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ANÁLISE
Ministro não dissipa incerteza
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As declarações iniciais de
Guido Mantega sugerem que
a política econômica será mantida numa espécie de piloto automático, mas são insuficientes para prever o que ocorrerá se houver
necessidade de um vôo manual.
Como disse Mantega, a economia vive "céu de brigadeiro": não
há sinal de pressões inflacionárias
ou de crises externas, nem decisões de alta complexidade ou votações polêmicas no Congresso.
Os juros estão em queda e assim
devem continuar nos próximos
meses; o governo já havia decidido reduzir o superávit primário
deste ano à meta oficial; o saldo da
balança comercial permanece
confortável; o crescimento deverá
superar o do ano passado sem necessidade de medidas adicionais.
A missão de Mantega, como
deixam claro suas entrevistas, é
não gerar incertezas no curto prazo em um mercado financeiro
que se tornou aliado do governo
petista. Permanecerá, contudo, a
insegurança em relação ao que
Mantega faria, por exemplo, no
caso de uma disparada do dólar.
Nos próximos dias, o ministro
será testado em cada medida ou
declaração. Amanhã, ele será um
dos três votantes na reunião do
Conselho Monetário Nacional
que fixará a TJLP -dias atrás, na
presidência do BNDES, Mantega
militava publicamente por uma
redução mais forte da taxa.
Até o final de junho, Mantega,
que já defendeu metas de inflação
menos ambiciosas, participa da
definição da meta de 2008.
Terá de negociar com o Congresso a aprovação do Orçamento
deste ano. Resta pendente, ainda,
um pacote de benefícios para o setor agrícola. Em todos os casos, o
mercado esperará dele o papel de
frear a generosidade que os políticos demonstram em ano eleitoral.
Seu antecessor, Antonio Palocci
Filho, não conquistou a confiança
do investidor local e estrangeiro
com frases economicamente corretas sobre o respeito aos contratos e a importância do controle da
inflação -mas com medidas que
soam hoje muito mais difíceis.
Palocci elevou o superávit primário de 3,75% para 4,25% do
PIB; patrocinou a elevação dos juros a 26,5% ao ano; bancou uma
reforma da Previdência que indispôs o governo com aliados tradicionais; renovou o acordo com o
FMI; reconheceu méritos das políticas iniciadas pelos tucanos.
Desde 2003, quando tudo isso
foi feito de uma vez, Lula mostra
uma disposição decrescente em
tomar novas medidas que contrariam o discurso histórico do PT.
Mantega, com seu visível apreço à
coerência intelectual, não parece
inclinado a assumir o papel de líder dos ortodoxos no governo.
(GUSTAVO PATU)
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