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VISÃO À ESQUERDA
Política muda pouco sob Mantega
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Guido Mantega não é o "novo
Palocci", dizem economistas críticos da política adotada pelo governo. Ainda assim, eles não avaliam que o novo ministro da Fazenda fará mudanças significativas na área econômica, apesar de
dizerem acreditar que alguma alteração de ênfase deve ocorrer.
"Ele vai mudar a ênfase", diz Ricardo Carneiro, professor do Instituto de Economia da Unicamp.
Carneiro diz que há espaço para
alguma mudança. Nada radical,
ele ressalva. Na avaliação do economista, com o cenário externo
tranqüilo, o Brasil poderá reduzir
os juros de forma um pouco mais
rápida e criar algum mecanismo
para segurar o câmbio, ou seja,
evitar a valorização do real.
"É preciso dizer que isso o Palocci já vinha sendo pressionado a
fazer. É uma demanda da sociedade, dos grupos empresariais e de
grupos dentro do próprio governo", conclui Carneiro. A redução
do superávit primário, algo que
pode ser encarado como uma flexibilização promovida pelo novo
ministro, nem sequer entra na lista de mudanças do economista.
"No campo fiscal, o espaço de manobra é reduzir o superávit para a
meta, para os 4,25% do PIB [Produto Interno Bruto]. Mas isso iria
ocorrer mesmo sem a mudança
de ministro, afinal estamos em
ano eleitoral."
Fernando Cardim de Carvalho,
economista da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro),
concorda. "O essencial [da política econômica] será mantido", diz.
Ele também avalia que o cenário
eleitoral terá mais impacto econômico do que a mudança de ministros. "Já era esperado que, com ou
sem Palocci, o gasto público seria
maior. Afinal, o presidente quer
ser reeleito", diz.
O que ele espera que mude de
forma mais significativa é a definição da TJLP, taxa de juros de
longo prazo, fixada pelo CMN
(Conselho Monetário Nacional).
"Acompanhando todo o esperneio do Guido em torno da TJLP,
o mínimo que se espera é que ele a
reduza", argumenta Cardim. No
mais, muda mais a retórica do
que a política propriamente dita,
avalia o economista da UFRJ. "A
retórica conservadora sai, entra a
retórica do crescimento."
Cardim lembra que, dada a conjuntura política, com menos de
nove meses para o fim do governo, é difícil esperar qualquer mudança. "O que, quando olhamos
para o longo prazo, é negativo.
Significa que vamos continuar rumando para nossa terceira década
perdida", diz.
Paulo Nakatani, da Universidade Federal do Espírito Santo, também avalia que, se ocorrerem, as
mudanças serão pequenas e, ainda assim, diz acreditar que elas
ocorreriam de qualquer forma
neste ano. "A política fiscal já foi
flexibilizada desde o início do
ano. Por haver a percepção de
mudança se os juros passarem a
cair um ponto percentual [a cada
reunião do Copom], mas é uma
mudança muito pequena", diz o
economista. "Não é uma mudança para a adoção de uma política
em favor do crescimento, da melhor distribuição de renda", completa Nakatani.
Já o também economista da
UFRJ João Sicsu espera mudanças
mais significativas. Ele diz que,
caso mantenha "a palavra", Mantega terá que pressionar pela redução mais rápida da taxa básica
de juros. "Ele tem sido um crítico
da taxa elevada, e, se mantiver a
palavra, deve reduzi-la."
Para Sicsu, apenas reduções de
cerca de três pontos percentuais
na taxa [em cada reunião do Copom], hoje em 16,25%, mostrariam compromisso do novo ministro da Fazenda com seu discursos anterior. "Dadas as declarações anteriores do ministro, eu espero uma velocidade maior na
queda dos juros", completa.
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