São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 2006

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VISÃO À ESQUERDA

Política muda pouco sob Mantega

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Guido Mantega não é o "novo Palocci", dizem economistas críticos da política adotada pelo governo. Ainda assim, eles não avaliam que o novo ministro da Fazenda fará mudanças significativas na área econômica, apesar de dizerem acreditar que alguma alteração de ênfase deve ocorrer.
"Ele vai mudar a ênfase", diz Ricardo Carneiro, professor do Instituto de Economia da Unicamp. Carneiro diz que há espaço para alguma mudança. Nada radical, ele ressalva. Na avaliação do economista, com o cenário externo tranqüilo, o Brasil poderá reduzir os juros de forma um pouco mais rápida e criar algum mecanismo para segurar o câmbio, ou seja, evitar a valorização do real.
"É preciso dizer que isso o Palocci já vinha sendo pressionado a fazer. É uma demanda da sociedade, dos grupos empresariais e de grupos dentro do próprio governo", conclui Carneiro. A redução do superávit primário, algo que pode ser encarado como uma flexibilização promovida pelo novo ministro, nem sequer entra na lista de mudanças do economista. "No campo fiscal, o espaço de manobra é reduzir o superávit para a meta, para os 4,25% do PIB [Produto Interno Bruto]. Mas isso iria ocorrer mesmo sem a mudança de ministro, afinal estamos em ano eleitoral."
Fernando Cardim de Carvalho, economista da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), concorda. "O essencial [da política econômica] será mantido", diz. Ele também avalia que o cenário eleitoral terá mais impacto econômico do que a mudança de ministros. "Já era esperado que, com ou sem Palocci, o gasto público seria maior. Afinal, o presidente quer ser reeleito", diz.
O que ele espera que mude de forma mais significativa é a definição da TJLP, taxa de juros de longo prazo, fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional). "Acompanhando todo o esperneio do Guido em torno da TJLP, o mínimo que se espera é que ele a reduza", argumenta Cardim. No mais, muda mais a retórica do que a política propriamente dita, avalia o economista da UFRJ. "A retórica conservadora sai, entra a retórica do crescimento."
Cardim lembra que, dada a conjuntura política, com menos de nove meses para o fim do governo, é difícil esperar qualquer mudança. "O que, quando olhamos para o longo prazo, é negativo. Significa que vamos continuar rumando para nossa terceira década perdida", diz.
Paulo Nakatani, da Universidade Federal do Espírito Santo, também avalia que, se ocorrerem, as mudanças serão pequenas e, ainda assim, diz acreditar que elas ocorreriam de qualquer forma neste ano. "A política fiscal já foi flexibilizada desde o início do ano. Por haver a percepção de mudança se os juros passarem a cair um ponto percentual [a cada reunião do Copom], mas é uma mudança muito pequena", diz o economista. "Não é uma mudança para a adoção de uma política em favor do crescimento, da melhor distribuição de renda", completa Nakatani.
Já o também economista da UFRJ João Sicsu espera mudanças mais significativas. Ele diz que, caso mantenha "a palavra", Mantega terá que pressionar pela redução mais rápida da taxa básica de juros. "Ele tem sido um crítico da taxa elevada, e, se mantiver a palavra, deve reduzi-la."
Para Sicsu, apenas reduções de cerca de três pontos percentuais na taxa [em cada reunião do Copom], hoje em 16,25%, mostrariam compromisso do novo ministro da Fazenda com seu discursos anterior. "Dadas as declarações anteriores do ministro, eu espero uma velocidade maior na queda dos juros", completa.


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