São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 2006

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VISÃO À DIREITA

Estrangeiro vê turbulência passageira

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A troca de comando na Fazenda parece não ter afetado a disposição dos investidores internacionais em comprar títulos da dívida brasileira nem a percepção das agências que avaliam as notas de crédito dos papéis brasileiros.
As três principais agências de risco do mundo manifestaram-se ontem serenamente em relação à saída do ministro Antonio Palocci Filho, mas não deixaram também de demonstrar cautela a respeito dos primeiros passos de Guido Mantega no cargo.
A Standard & Poor's argumenta que é a manutenção da atual política econômica e fiscal que interessa para a concessão do "rating" brasileiro. "Olhamos um panorama mais amplo. Os mercados podem estar mais voláteis agora, mas as nossas notas olham para além dessa volatilidade", disse Lisa Schineller, principal analista de crédito para o Brasil.
Sobre a escolha de Mantega, a economista argumenta que, por ser um nome menos conhecido, deverá haver um "período de ajuste" do mercado. Mesmo uma eventual saída do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, não chega a ser um motivo de preocupação para a entidade.
A expectativa, assim como no caso da substituição de Palocci, é que um novo nome não signifique mudanças no atual quadro da política monetária. "Trabalhamos com a hipótese de que qualquer alteração na equipe econômica seja acompanhada da manutenção de políticas prudentes", avalia Schineller.
Em comunicado divulgado ontem em Nova York, a agência Fitch enfatizou que um dos pilares da melhoria da nota brasileira tem sido a manutenção do superávit em 4,25% do PIB. No boletim para investidores, a Fitch não mencionou nenhuma perspectiva de mudança do "rating" (nota de crédito). Atualmente, ela atribui ao Brasil "BB-" para títulos da dívida denominados em reais e em moeda estrangeira.
"Não olhamos pessoas. Olhamos programas. O que é importante e essencial para o Brasil é que a política austera do governo Lula seja mantida", disse Rafael Guedes, diretor-executivo da Fitch em São Paulo.
Já a Moody's não emitiu nenhum comunicado oficial sobre a entrada de Mantega na Fazenda. A assessoria da agência afirmou que as notas atribuídas pela instituição refletem uma visão de longo prazo e que, por isso, já se leva em consideração mudanças de percurso. Hoje, a nota concedida para o Brasil é "Ba3", três níveis abaixo do chamado "grau de investimento".

Investidor estrangeiro
A queda de 1% registrada ontem pelo Global 40, principal papel negociado da dívida brasileira, foi vista como fruto de volatilidade normal do mercado e não significa, necessariamente, que haja uma fuga expressiva de investidores apreensivos com os rumos do Ministério da Fazenda.
"Há muita confiança no mercado com o histórico recente da economia brasileira", disse Brad Durham, diretor da Emerging Portfolio. A consultoria monitora 10 mil fundos em todo o mundo, o que representa uma carteira total de US$ 5 trilhões.
Para Durham, a saída de Palocci tende a ser esquecida facilmente pelo mercado, o que fará a atual turbulência se dissipar. Esse cenário, obviamente, é traçado a partir da convicção de que não haverá alterações na condução da economia brasileira.
Sobre o comportamento dos títulos brasileiros no mercado, o analistas afirma: "Os investidores devem aumentar sua exposição ao Brasil. Afinal, o país é um dos poucos que apresentam projeção de alta do crescimento aliada à queda das taxas de juros", disse.
De acordo com a consultoria, em fevereiro a participação do Brasil na carteira de emergentes era de 16,8%, depois de ter iniciado o ano com 17,4%.
No mês passado, fundos que já detêm US$ 3,4 bilhões em títulos da dívida brasileira aumentaram em US$ 7 milhões suas aplicações. Em janeiro, essa entrada de recursos havia sido de US$ 116 milhões.


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