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VISÃO À DIREITA
Estrangeiro vê turbulência passageira
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
A troca de comando na Fazenda
parece não ter afetado a disposição dos investidores internacionais em comprar títulos da dívida
brasileira nem a percepção das
agências que avaliam as notas de
crédito dos papéis brasileiros.
As três principais agências de
risco do mundo manifestaram-se
ontem serenamente em relação à
saída do ministro Antonio Palocci
Filho, mas não deixaram também
de demonstrar cautela a respeito
dos primeiros passos de Guido
Mantega no cargo.
A Standard & Poor's argumenta que é a manutenção da atual
política econômica e fiscal que interessa para a concessão do "rating" brasileiro. "Olhamos um panorama mais amplo. Os mercados podem estar mais voláteis
agora, mas as nossas notas olham
para além dessa volatilidade", disse Lisa Schineller, principal analista de crédito para o Brasil.
Sobre a escolha de Mantega, a
economista argumenta que, por
ser um nome menos conhecido,
deverá haver um "período de
ajuste" do mercado. Mesmo uma
eventual saída do presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles, não chega a ser um motivo de
preocupação para a entidade.
A expectativa, assim como no
caso da substituição de Palocci, é
que um novo nome não signifique mudanças no atual quadro da
política monetária. "Trabalhamos com a hipótese de que qualquer alteração na equipe econômica seja acompanhada da manutenção de políticas prudentes",
avalia Schineller.
Em comunicado divulgado ontem em Nova York, a agência
Fitch enfatizou que um dos pilares da melhoria da nota brasileira
tem sido a manutenção do superávit em 4,25% do PIB. No boletim para investidores, a Fitch não
mencionou nenhuma perspectiva
de mudança do "rating" (nota de
crédito). Atualmente, ela atribui
ao Brasil "BB-" para títulos da dívida denominados em reais e em
moeda estrangeira.
"Não olhamos pessoas. Olhamos programas. O que é importante e essencial para o Brasil é
que a política austera do governo
Lula seja mantida", disse Rafael
Guedes, diretor-executivo da
Fitch em São Paulo.
Já a Moody's não emitiu nenhum comunicado oficial sobre a
entrada de Mantega na Fazenda.
A assessoria da agência afirmou
que as notas atribuídas pela instituição refletem uma visão de longo prazo e que, por isso, já se leva
em consideração mudanças de
percurso. Hoje, a nota concedida
para o Brasil é "Ba3", três níveis
abaixo do chamado "grau de investimento".
Investidor estrangeiro
A queda de 1% registrada ontem
pelo Global 40, principal papel negociado da dívida brasileira, foi
vista como fruto de volatilidade
normal do mercado e não significa, necessariamente, que haja
uma fuga expressiva de investidores apreensivos com os rumos do
Ministério da Fazenda.
"Há muita confiança no mercado com o histórico recente da economia brasileira", disse Brad
Durham, diretor da Emerging
Portfolio. A consultoria monitora
10 mil fundos em todo o mundo, o
que representa uma carteira total
de US$ 5 trilhões.
Para Durham, a saída de Palocci
tende a ser esquecida facilmente
pelo mercado, o que fará a atual
turbulência se dissipar. Esse cenário, obviamente, é traçado a partir
da convicção de que não haverá
alterações na condução da economia brasileira.
Sobre o comportamento dos títulos brasileiros no mercado, o
analistas afirma: "Os investidores
devem aumentar sua exposição
ao Brasil. Afinal, o país é um dos
poucos que apresentam projeção
de alta do crescimento aliada à
queda das taxas de juros", disse.
De acordo com a consultoria,
em fevereiro a participação do
Brasil na carteira de emergentes
era de 16,8%, depois de ter iniciado o ano com 17,4%.
No mês passado, fundos que já
detêm US$ 3,4 bilhões em títulos
da dívida brasileira aumentaram
em US$ 7 milhões suas aplicações.
Em janeiro, essa entrada de recursos havia sido de US$ 116 milhões.
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