São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 2006

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ECONOMIA GLOBAL

Taxa vai a 4,75% ao ano, e BC dos EUA sugere que altas adicionais podem ser necessárias para conter a inflação

Fed eleva juros e indica novos aumentos

VIKAS BAJAJ
DO "NEW YORK TIMES"

O Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) aumentou ontem sua taxa básica de juros em um quarto de ponto percentual, para 4,75%, e indicou que pode haver necessidade de novos aumentos para evitar a inflação.
Em sua primeira atuação sobre os juros sob a presidência de Ben Bernanke, que substituiu Alan Greenspan, o Fed indicou que por enquanto seguirá as opiniões de Greenspan sobre inflação e política monetária.
Foi o 15º aumento na campanha de quase dois anos do banco para endurecer a política monetária, que começou em junho de 2004, quando os juros estavam em 1%.
As ações e os títulos do Tesouro americano se recuperaram depois da decisão do Fed, e o dólar subiu ante o euro. Na tarde de ontem, o rendimento dos papéis do Tesouro com vencimento em dez anos havia subido para 4,77%, ante 4,70% na segunda-feira.
A decisão é negativa para o Brasil, porque torna os títulos dos EUA, considerados os mais seguros, mais atraentes. Com isso, investidores podem tirar dinheiro de países emergentes para investir nos Estados Unidos.
Em seu comunicado, o Fed repetiu a frase: "Um certo endurecimento adicional da política pode ser necessário para manter aproximadamente em equilíbrio os riscos da conquista do crescimento econômico sustentável e da estabilidade de preços".
A declaração do Fed também enfatizou que o crescimento retomou o ritmo depois de desacelerar no quarto trimestre e que os diretores do órgão continuam preocupados com a inflação.
"O crescimento econômico teve uma forte recuperação neste trimestre, mas parece provável que assumirá um ritmo mais moderado e sustentável", segundo o comunicado.
"Até agora, o aumento dos preços da energia e de outras matérias-primas parece ter tido apenas um efeito modesto sobre o núcleo da inflação, os atuais ganhos de produtividade ajudaram a conter o crescimento dos custos unitários do trabalho e as expectativas para a inflação permanecem contidas. Ainda assim, possíveis aumentos na utilização de recursos, em combinação com os elevados preços da energia e de outras matérias-primas, têm o potencial de aumentar as pressões inflacionárias", disse o comunicado.

Mais altas
A maioria dos economistas leu a declaração de cinco parágrafos como um sinal de que o Federal Reserve vai aumentar a taxa para 5% em sua próxima reunião, em maio, e alguns disseram que o Fed pode ir ainda mais longe nos meses seguintes.
Alguns analistas sugeriram que o Fed poderá chegar a 5,5% antes de parar, porque está preocupado com o aumento dos preços das matérias-primas e dos salários.
Além disso, dizem esses especialistas, Bernanke ainda precisa assegurar Wall Street de que, como Greenspan, seu principal enfoque como presidente do banco central será o combate à inflação.
Em fevereiro, o índice de preços ao consumidor subiu 3,6% em relação a fevereiro de 2005, contra 4% em janeiro, e o "núcleo" da inflação, que não inclui energia e alimentação, aumentou 2,1%.
Alguns economistas não têm tanta certeza de que o Fed precisa ir muito além, ao notar que os salários, embora tenham aumentado, estiveram de modo geral estagnados, especialmente se comparados com o aumento dos custos de energia, alimentação e outros produtos e serviços.
Eles também temem que, embora a economia esteja crescendo num ritmo ágil agora, corra o perigo de uma desaceleração significativa no segundo semestre, por causa do enfraquecimento das vendas de moradias e do aumento das taxas de juros.
Enquanto o Fed aumentou as taxas de curto prazo, as taxas de juros de prazo longo permaneceram baixas, o que achatou a curva de rentabilidade, que é a margem entre as curvas de rendimento de curto e de longo prazo.
O título do Tesouro para dez anos, por exemplo, tinha uma rentabilidade de 4,774% ontem à tarde, pouco depois da decisão do Fed, ligeiramente menor que a do título para dois anos, de 4,782%.
Os especialistas têm diversas teorias sobre essa curva. Alguns dizem que o achatamento é reflexo das grandes aquisições de títulos de longo prazo do Tesouro dos EUA. Outros dizem que a curva achatada, que às vezes se inverte, como fez ontem à tarde, é sinal de que há probabilidade de recessão.


Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves


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