São Paulo, sábado, 29 de abril de 2000


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POLÍTICA MONETÁRIA
Diretor da instituição afirma que o compulsório só voltará a cair se crédito ficar mais barato
BC pressiona bancos para cortar juros

VALDO CRUZ
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília

VIVALDO DE SOUSA
Coordenador de Economia da Sucursal de Brasília

O Banco Central só voltará a reduzir o compulsório sobre os depósitos à vista caso os bancos repassem esse benefício a seus clientes na forma de juros mais baixos.
"O compulsório só continuará caindo se o benefício se refletir em redução da taxa final de juros", disse à Folha o diretor de Política Monetária do BC, Luiz Fernando Figueiredo.
Hoje, de cada R$ 1.000 depositados em seus caixas, os bancos são obrigados a recolher ao Banco Central R$ 550,00. O dinheiro fica parado no BC, sem nenhum rendimento.
Ou seja, de R$ 1.000 depositados, a instituição financeira fica apenas com R$ 450,00 para aplicar e, com isso, lucrar com o dinheiro de seu cliente.
O depósito compulsório, que hoje está em 55%, já foi de 65% até março. O recolhimento é semanal. Sua cobrança, segundo os bancos, é um dos principais motivos do elevado custo de empréstimos bancários hoje.
Figueiredo disse que a redução do compulsório sobre depósitos à vista tem um objetivo claro: diminuir os juros cobrados de pessoas físicas e jurídicas. Se o compulsório for reduzido e isso não gerar queda dos juros finais, quem lucra são apenas os bancos, afirmou.
Na avaliação do BC, os juros cobrados pelos bancos nas operações de crédito ainda estão elevados. No ano passado, o governo adotou uma série de medidas para tentar reduzir os juros dos empréstimos bancários, mas a queda não foi grande.
Em dezembro de 99, por exemplo, os juros médios cobrados nos financiamentos para pessoas físicas estavam em 89,4% ao ano. Em março último, essa taxa ficou em 78,3%. No mesmo período, os juros do cheque especial subiram de 138,8% para 144,8% ao ano.
Figueiredo disse que a última redução do compulsório, que entrou integralmente em vigor em abril, já repercutiu parcialmente nas taxas cobradas pelos bancos em março, as menores desde junho de 94, conforme levantamento feito pelo BC.
A posição do BC, segundo o diretor, já foi manifestada aos bancos. Figueiredo disse ainda que outro item importante na redução do compulsório é seu impacto sobre o crescimento econômico. Afinal, a medida libera recursos que os bancos poderão destinar a empréstimos.
Esse crescimento, segundo ele, tem de ser compatível com as metas de inflação fixadas pelo governo para este ano -que deve ficar entre 4% e 8%. A previsão do BC é que o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) ficará próximo de 4% neste ano.
Quanto à taxa de juros básica do BC, Figueiredo disse que a intenção é continuar com a política de redução gradual até o final do ano. A taxa está em 18,5% ao ano. Na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) não houve redução.
Otimista, Figueiredo disse que os investimentos estrangeiros no setor produtivo, que já superaram US$ 7 bilhões neste ano, serão suficientes para cobrir o déficit nas contas externas brasileiras. Ele também afirma que as vendas externas vão melhorar.
O aumento das exportações de produtos manufaturados, segundo ele, está sendo lento porque o país está conquistando mercados novos. Figueiredo disse que o crescimento das exportações é maior nas empresas estrangeiras do que nas empresas nacionais.
A participação das empresas estrangeiras nas exportações mostra, segundo ele, que o ingresso de recursos externos ajuda a consolidar a estabilização da economia brasileira.
""Os investimentos diretos não são uma bomba-relógio", afirmou o diretor.


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