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COLAPSO DA ARGENTINA
Para novo ministro, adoção de câmbio fixo dificultaria negociação com FMI; inflação no ano passa de 20%
Agora, Lavagna diz que o dólar será livre
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
Após nove dias sem operações,
o câmbio vai reabrir livre hoje na
Argentina e, segundo declarações
do novo ministro da Economia,
Roberto Lavagna, deve permanecer assim. "Não haverá sistema de
câmbio fixo, mas liberdade de
mercados", disse ele em entrevista ao jornal "Clarín".
A afirmação do ministro contraria a disposição demonstrada
nos últimos dias por membros do
governo. Na sexta-feira, o secretário-geral da Presidência, Aníbal
Fernandez, chegou a afirmar que
a missão de "ancorar" o câmbio já
havia sido passada a Lavagna pelo
presidente Eduardo Duhalde.
O próprio presidente chegou a
dizer que a implementação do
câmbio fixo era "perfeitamente
possível". Anteontem, na mesma
linha, o chefe de Gabinete, Jorge
Capitanich, questionado insistentemente por jornalistas, recusou-se a descartar a adoção de um sistema de câmbio fixo, dizendo
apenas que a Argentina "persegue
a estabilidade cambial".
Lavagna, porém, passou todo o
sábado convencendo o presidente
e líderes peronistas de que o câmbio fixo criaria dificuldades nas
negociações para fechar um acordo com o FMI (Fundo Monetário
Internacional) e obter nova ajuda
financeira já no mês de maio. O
FMI desaprova a adoção do sistema de câmbio fixo.
Após obter o respaldo do peronismo, o ministro tratou de definir os instrumentos que serão utilizados para evitar a disparada do
dólar a partir de hoje. Lavagna
reuniu-se ontem com o presidente do Banco Central, Mario Blejer,
e com diversos banqueiros para
discutir como fortalecer as intervenções.
O BC deverá manter com os
bancos o acordo pelo qual as instituições revenderão os dólares
repassados pela autoridade monetária ao público com um ágio
máximo de 0,05 peso. Além disso,
o BC já anunciou que vai leiloar
170 milhões de pesos em títulos
para diminuir a grande quantidade de dinheiro do mercado.
Intervenção forte
No sábado, por telefone, Lavagna discutiu alternativas para o
modelo cambial argentino com o
subsecretário do Tesouro dos
EUA para assuntos internacionais, John Taylor, segundo a Folha apurou. O ministro, porém,
não teria adiantado a Taylor uma
decisão sobre o assunto.
O governo dos EUA avalia que
os argentinos optarão pelo câmbio livre, mas serão obrigados a
fazer intervenções fortes no mercado para acalmar os setores peronistas e a sociedade, descontentes com a desvalorização do peso.
Inflação
Manter o dólar pelo menos no
patamar atual -de 3,28 pesos por
US$ 1, no último dia 19- é um
dos pontos centrais do plano do
governo argentino.
Impulsionada pela forte desvalorização cambial, a inflação deve
ser de 10% em abril, chegando a
20,6% nos quatro primeiros meses do ano. "Essa é a informação
que me passou a equipe econômica anterior", disse Lavagna.
Se confirmada, a alta de abril supera a inflação de todo o primeiro
trimestre, que foi de 9,7%. A taxa
de março foi de 4%.
A escalada dos preços está diretamente relacionada à desvalorização cambial. A situação deve se
agravar ainda mais nos próximos
meses, quando o governo deverá
negociar o reajuste das tarifas de
serviços essenciais, como água,
luz, energia e telefone.
Lavagna também admitiu que
deverá ressuscitar, com algumas
alterações, o "plano Bonex"
-que prevê a devolução dos depósitos bloqueados no curralzinho em forma de títulos.
Na reunião com os banqueiros,
ontem, Lavagna tentou convencer as instituições financeiras a
garantir uma parcela de 20% dos
títulos a serem entregues aos correntistas. Os outros 80% seriam
garantidos pelo governo.
Lavagna também estuda uma
forma de dar preferência aos correntistas que possuírem valores
mais baixos depositados nos bancos. O plano inicial previa que todos os depósitos em dólar seriam
trocados por bônus de dez anos, e
as aplicações em pesos, por papéis
de cinco anos.
Essas negociações só serão concluídas em até 30 dias, segundo o
governo. De acordo com estudo
do FMI, os bancos argentinos vão
perder 80% do capital somente
neste ano devido à política econômica de Duhalde. Por isso, o Fundo propõe a restruturação dos
bancos privados e a privatização
das instituições públicas.
Colaborou Marcio Aith, de Washington
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