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São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2003

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Meirelles vê espaço para câmbio cair mais

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou ontem que ainda há espaço para o real se apreciar ante o dólar. ""Muitas pessoas e setores da economia estão preocupados com o fato de que o real está se fortalecendo muito. A essas pessoas, eu digo: descansem, não se preocupem. Ainda há muito espaço para a moeda se apreciar."
Segundo Meirelles, em relação à evolução das cotações de uma cesta de 15 moedas nos últimos 14 anos, o valor do real diante do dólar poderia ser hoje de R$ 2,24. Por essa comparação, diz o presidente do BC, ""o real ainda está depreciado"".
Ontem, pela primeira vez desde agosto de 2002, o dólar fechou abaixo dos R$ 3,00, a R$ 2,962.
Meirelles descartou qualquer hipótese de intervenções no câmbio para controlar as cotações do dólar. Afirmou também que a atual trajetória das cotações é ""compatível"" com as projeções do Banco Central de um superávit comercial em 2003 na faixa de US$ 15 bilhões a US$ 16 bilhões".
Segundo Meirelles, a única meta perseguida pelo BC é a de inflação. ""E ainda é prematuro declarar vitória contra o aumento de preços. Mesmo neste momento de otimismo, vamos manter a serenidade e a determinação."
Segundo ele, a possibilidade de uma redução nos preços da gasolina seria ""um fator importante" para a queda da inflação.
Meirelles esteve em Washington para participar do fórum ""Crise e oportunidade para a América Latina", promovido pelo Conselho das Américas, no Departamento de Estado norte-americano.
Durante uma exposição de 20 minutos a empresários, banqueiros e funcionários do governo dos EUA, o presidente do BC defendeu várias vezes o ajuste fiscal brasileiro e disse que a relação entre a dívida pública e o PIB (Produto Interno Bruto) deve fechar o mês de abril em 53% -contra os 56,6% de fevereiro e o pico de 62,5% de setembro de 2002.
O presidente do BC disse ainda que deve viajar ao Canadá nos próximos dias para estudar o modelo de BC autônomo do país. Embora a decisão sobre como a autonomia vai funcionar dependa do Congresso, Meirelles defendeu que a área de inspeção bancária permaneça no BC.
Durante o mesmo encontro no Departamento de Estado, o secretário do Tesouro norte-americano, John Snow, voltou a elogiar o Brasil, mas também cobrou do país mais "flexibilidade" na economia.
"Em tempos de crise, a economia norte-americana reage mais rapidamente pelo fato de ser muito mais flexível", afirmou.
Snow revelou aos presentes, durante almoço fechado, detalhes da conversa que teve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando visitou o Brasil há poucos dias.
"Ele me disse que, se fosse ouvir os economistas, não iria a lugar nenhum. Desistiria", disse Snow. "Comentei que a economia é a "ciência da decepção". Lula pegou uma caneta e anotou a frase."
O secretário do Tesouro dos EUA elogiou a "liderança" de Lula "tanto na economia quanto na política". "É impossível não gostar dele", disse.


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