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São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2003

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TRABALHO

Trabalhadores desistem de reposição automática e aceitam abono em troca de resolver impasse na GM de São José

Governo intervém e grevista "esquece" gatilho

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI

DA REPORTAGEM LOCAL

Depois da intervenção do governo nas negociações salariais entre representantes dos trabalhadores e da GM, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos recuou e retirou a exigência de gatilho salarial de 3%.
A reivindicação fazia parte da campanha da categoria para repor perdas da inflação.
A decisão foi anunciada ontem à noite em reunião entre o secretário de Relações do Trabalho, Osvaldo Bargas, o presidente do sindicato, Luiz Carlos Prates, o Mancha, e o vice-presidente da GM, José Carlos Pinheiro Neto.
Na tentativa de resolver a greve na unidade de São José, parada há uma semana, os metalúrgicos fizeram uma contraproposta à empresa: pagamento de abono de R$ 900 em uma única parcela, discussão do reajuste salarial de 10,39% na data-base da categoria (novembro), estabilidade no emprego e pagamento dos dias parados. "Se mantivéssemos o pedido de gatilho, não teríamos a chance de chegar a um acordo. Esse assunto voltará na próxima campanha", afirmou Prates.
Pinheiro Neto informou que a empresa mantém a proposta fechada anteriormente com a CUT e a Força Sindical, que prevê abono de R$ 900 pago em em maio e julho. Nova reunião está marcada para hoje, às 10h, entre representantes do Sinfavea (sindicato das montadoras) e dos trabalhadores. A GM informou que os prejuízos acumulados com a greve em São José, que afetou a produção em Gravataí (RS) e em São Caetano do Sul (SP), já somam US$ 30 milhões. Segundo o sindicato, 15% dos 10.500 operários de São José retornaram ontem ao trabalho após pressão da empresa.
Horas antes de os metalúrgicos retirarem o gatilho salarial de sua pauta de exigências, o ministro do Trabalho, Jaques Wagner, afirmou que iria intervir nas negociações salariais caso empresas e metalúrgicos optassem por esse mecanismo de reposição da inflação.
"Uma das demandas dos metalúrgicos da GM é a tentativa de fixar uma espécie de gatilho salarial. Isso seria incompatível com a lei. Se isso for acertado entre eles, o governo vai intervir", disse o ministro durante evento na Fundacentro.
O papel das DRTs (Delegacias Regionais do Trabalho), diz, é mediar os conflitos que existem entre patrões e empregados, desde que as partes queiram a mediação. "Intervenção existiu no período do regime militar. Estamos bem longe dele", afirmou. "É evidente que temos interesse num setor tão importante para a economia e por isso nos colocamos à disposição. Se for chamado para ir à porta da fábrica, irei."
O ministro disse que vê com naturalidade e ao mesmo tempo com preocupação as greves que acontecem em São Paulo. "Existia uma demanda reprimida havia algum tempo, já que, no ano passado, a inflação ultrapassou os padrões em que vinha se mantendo. Agora, nos interessa a pacificação das relações capital/trabalho por meio de negociações para que se tenha um ambiente que seja favorável à geração de emprego."

Surpresa desagradável
José Maria de Almeida, membro da direção nacional da CUT e presidente do PSTU, que defende o gatilho salarial cada vez que a inflação bater em 3%, disse que a afirmação do ministro do Trabalho é "mais uma surpresa desagradável" do governo Lula. "O governo não interveio quando as empresas aumentaram os preços dos remédios, da gasolina, da energia elétrica e do gás, mas vai intervir quando o trabalhador conseguir aumento de salário?"
Para ele, as afirmações do ministro mostram que "o governo está na defesa do lucro das empresas e contra o aumento do poder de compra dos trabalhadores".
Segundo o secretário de Relações do Trabalho, não houve "interferência" do governo. "Estamos cumprindo nosso papel. O ministério participou das negociações com a Vasp e há um pedido para mediar uma audiência entre esse mesmo sindicato de São José e a Embraer."


Colaborou a Folha Vale


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