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São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2003

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FEIRA

Evento apresenta novos equipamentos e tecnologia, mas crédito é escasso

Agrishow prioriza pequeno produtor

Joel Silva/Folha Imagem
Vista da Agrishow, feira agrícola realizada em Ribeirão Preto (SP) que está em sua décima edição


ALESSANDRA MILANEZ
ENVIADA ESPECIAL A RIBEIRÃO PRETO
EVANDRO SPINELLI
DA FOLHA RIBEIRÃO

A décima edição da Agrishow -Feira de Tecnologia Agrícola em Ação, a maior feira do agronegócio do país- começou ontem em Ribeirão Preto embalada pela onda do governo Lula, dando ênfase ao pequeno produtor.
Apesar de serem apresentados vários produtos para esse segmento, como maquinário, novos cultivares e desenvolvimento de tecnologia, bancos e empresas dizem que ainda não há nada de concreto em termos de aumento de crédito para esse segmento.
O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que transferiu seu gabinete para a feira e participou da abertura, reafirmou que a agricultura familiar é uma das prioridades do governo Lula.
Ressaltou, porém, que o setor é de competência do Ministério do Desenvolvimento Agrário e que os instrumentos específicos para seu desenvolvimento serão decididos naquele âmbito.
Para Paulo Herrmann, diretor de marketing da John Deere, uma das maiores fabricantes de maquinário agrícola do país, as empresas têm tecnologia suficiente para atender produtores de todos os tipos. O problema, para ele, é que o pequeno produtor tem que conseguir crédito para comprar as máquinas. "A questão é: quando o agricultor entra no banco para tomar empréstimo, que tipo de garantia ele pode oferecer?"
Um dos principais programas do governo federal para a modernização da agricultura no Brasil -o Moderfrota, que financia a compra de equipamentos agrícolas- também pode faltar.
Em fevereiro, o governo disponibilizou cerca de R$ 800 milhões para o programa. A previsão é que esse dinheiro se acabe já durante a Agrishow, e Rodrigues diz que novos aportes para o Moderfrota não estão na agenda do dia do governo.
O Banco do Brasil, principal instituição de financiamento agrícola, instalou neste ano um sistema na feira que permite ao produtor fazer o pedido de crédito diretamente ao banco.
Segundo o banco, em 2002 foram liberados R$ 50 milhões em financiamento. O BB acredita que esse volume possa dobrar em 2003.
O montante destinado aos pequenos produtores durante o evento, no entanto, fica entre 10% e 20%, afirma Ricardo Conceição, vice-presidente de agronegócio do BB. "Na feira, o pequeno produtor não tem muita vez porque as máquinas são muito caras."

Renda mínima
O ministro da Agricultura disse que o governo federal está instituindo um programa de renda mínima para o produtor rural.
Segundo ele, o projeto está sendo estudado. Deve primeiro identificar os diferentes perfis do produtor e determinar qual é a renda mínima para cada um deles. O dinheiro para o projeto viria de três fontes: do Tesouro Nacional, de tributação compensatória sobre produtos importados que são subsidiados na origem e do próprio produtor.
Rodrigues não quis, porém, dar detalhes de nenhum novo plano do governo voltado para a agricultura. Segundo ele, o anúncio caberá ao presidente da República, que estará na feira na próxima sexta-feira.

CPR privada
O grupo Santander Banespa lançou ontem na Agrishow a primeira CPR (Cédula do Produto Rural) totalmente privada do país. O Banco do Brasil domina 95% do mercado de CPRs do país.
A CPR é um título que o produtor compra em um banco para depois vendê-lo no mercado. A garantia é a própria produção.
De acordo com o presidente do grupo Santander Banespa, Gabriel Jaramillo, a instituição vai garantir a compra de todas as CPRs emitidas pelo banco, ou seja, o produtor terá a garantia de compra do título e não precisará participar dos leilões feitos pelos bancos no mercado para a venda de seu título. "É importante para o produtor ter várias alternativas de financiamento", disse.
O Santander Banespa vai trabalhar apenas com a CPR financeira, não com a física -em que é entregue o produto ao banco. Com isso, o produtor terá de liquidar o título com o dinheiro da venda de sua produção, assumindo o risco de uma possível queda do preço de seu produto no mercado.
O superintendente de agronegócios do banco, Itamar Bernal, disse que serão garantidas inicialmente apenas as principais commodities -soja, café, milho, pecuária, entre outros-, que representam 80% do mercado.
A taxa de juros que o banco vai adotar como básica será de 36% ao ano, em média. " A taxa vai variar de acordo com o ciclo agrícola. Se ele quer o empréstimo no início do plantio, o risco é maior", disse Bernal. O banco espera emitir mais de R$ 1 bilhão em títulos.
A feira estará aberta até sábado, das 8h às 18h.

A jornalista Alessandra Milanez viajou a Ribeirão Pretro a convite do pool de imprensa da Agrishow.


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