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OPINIÃO ECONÔMICA
Presente de 1º de Maio: desemprego
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
O 1º de Maio se aproxima. Os
trabalhadores têm pouco a
comemorar. Um deles chegou à
Presidência da República, algo
inédito na história do país. Mas a
situação social não mudou para
melhor. Chegou a piorar em certos sentidos.
A política econômica brasileira
continua prisioneira dos mesmos
preconceitos e esquemas de poder
que prevaleceram no governo anterior. A economia cresce lentamente. O mercado de trabalho
ainda não saiu da UTI. A taxa de
desemprego está aumentando.
É uma lástima. Tenho sido,
muito a contragosto, um crítico
da política econômica e dos seus
resultados sociais. Gostaria que o
governo acertasse um pouco
mais. Primeiro porque se trata do
governo do Brasil. O país não
agüenta mais a continuação das
políticas econômicas medíocres
dos últimos dez anos.
Segundo porque os beneficiários de um fracasso do presidente
Lula estão aí, à vista de todos. O
único partido que oferece, por enquanto, uma alternativa nacional é o PSDB, com Fernando
Henrique Cardoso ou algum outro político mais ou menos equivalente. Os tucanos já estão assanhadíssimos, mal disfarçam a sua
satisfação com os tropeços do governo Lula. Os demais partidos
conservadores são, essencialmente, coligações de lideranças regionais e não parecem capazes de
oferecer candidaturas viáveis à
Presidência da República em
2006. Por outro lado, não existe
até agora opção visível à esquerda de Lula.
Que situação! Veja, leitor, o
quadro paradoxal que começa a
se desenhar. Se o governo Lula
terminar em fracasso, uma das
principais causas terá sido a sua
incapacidade de se desvencilhar
do modelo macroeconômico seguido no período FHC. E quem
colheria os frutos de um eventual
fracasso? Possivelmente, os próprios políticos que implantaram
esse modelo... A política econômica é o presente de grego de FHC
para Lula.
O eleitorado brasileiro estava
bastante sóbrio em 2002. É a minha impressão, pelo menos. A
maioria não acreditava em promessas mirabolantes ou em soluções rápidas. O que se esperava do
presidente Lula -e foi o que ele
prometeu na campanha- era
uma mudança gradual e cautelosa. Mas, frise-se, mudança -e
não a simples continuação das teses, atitudes e políticas anteriores.
É de espantar, por exemplo, o
que está acontecendo com o salário mínimo. Brandindo exatamente os mesmos argumentos
das administrações anteriores, o
governo irá propor, pelo segundo
ano consecutivo, um aumento insignificante do salário mínimo
em termos reais.
Ora, o presidente é, na origem,
um operário, um homem do povo. O seu partido, o partido que
ajudou a criar e lidera desde o
início, é o "Partido dos Trabalhadores" (isso tudo parece pré-história). O governo tinha a obrigação
de ter trabalhado duro para ter
agora condições de dar um aumento razoável para o mínimo.
Essa decisão ajudaria a distribuir
renda e a reativar a demanda de
consumo e o mercado interno,
que andam muito deprimidos.
Foram desanimadores os dados
de desemprego e renda real, divulgados nos últimos dias pelo IBGE e por outras instituições. É
verdade que essas estatísticas dizem respeito aos principais centros urbanos. É possível que nas
cidades menores e nas áreas rurais o quadro não seja tão adverso. É verdade, também, que as
pesquisas estão mostrando alguma recuperação do nível de emprego e dos rendimentos reais.
No entanto, a recuperação em
curso é muito modesta. Os salários reais permanecem deprimidos. Os empregos gerados são insuficientes para atender os que
ingressam no mercado de trabalho. Em conseqüência, aumenta o
desemprego.
Em março, os jovens (com menos de 24 anos) representavam
nada menos que 47% dos desocupados nas seis regiões metropolitanas investigadas pelo IBGE. Isso
equivale a um total estimado de
quase 1,3 milhão de jovens desempregados. É o exército industrial de reserva do narcotráfico e
do crime organizado, como observou Hélio Jaguaribe.
Existem meios de mudar essa situação? Sim, sem dúvida. Não estamos de forma nenhuma condenados à estagnação e ao desemprego. Mas ilude-se quem imagina ser possível melhorar a vida
dos brasileiros sem abandonar o
modelo econômico herdado do
governo anterior.
A herança é mesmo maldita.
Continuá-la pode ser fatal para o
governo Lula. Para o Brasil, a sua
continuação significará provavelmente uma terceira década perdida em termos de desenvolvimento.
Paulo Nogueira Batista Jr., 49, economista e professor da FGV-EAESP, escreve
às quintas-feiras nesta coluna. É autor
do livro "A Economia como Ela É..." (Boitempo Editorial, 3ª edição, 2002).
E-mail - pnbjr@attglobal.net
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