São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2004

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QUEIXA

Acionista minoritário da Embratel, banco questiona venda à Telmex

BNDES sai perdendo, diz Lessa

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do BNDES, Carlos Lessa, disse ontem que, com a venda da Embratel para a Telmex, o banco estatal receberá menos dinheiro.
"Eu sou acionista minoritário [da Embratel]. Como minoritário eu vou receber pelas minhas ações menos do que receberia se o Calais [consórcio do qual fazem parte as teles fixas Telefônica, Telemar e Brasil Telecom] tivesse ganho", disse.
Ele afirmou que espera da CVM (Comissão de Valores Mobiliários, órgão que fiscaliza o mercado financeiro) uma resposta sobre o fato de a venda da Embratel ter sido feita pelo menor valor oferecido.
"Para mim, é muito difícil entender uma preferência por uma proposta que paga menos em relação a uma proposta que paga mais. Agora, eles [MCI, controladora da Embratel] devem ter suas altas razões para tomar essa decisão. Eu não tenho nem por que questionar isso", disse.
Lessa informou ainda que o departamento jurídico do banco está estudando o que fazer em relação a uma "pendência" da Claro, operadora de celular que pertence à América Móvil, empresa de Carlos Slim, dono da Telmex. A "pendência" seria uma dívida de aproximadamente US$ 358 milhões.
Ele explicou que o BNDES investiu, durante a privatização do setor, em ações preferenciais (sem direito a voto) da Americel (operadora da banda B em Brasília) e da Telet (operadora de banda B no Rio Grande do Sul). Hoje essas empresas fazem parte da Claro.
O BNDES alega que suas ações preferenciais nessas operadoras também tinham de ter sido compradas pela Claro, quando o grupo mexicano adquiriu as operadoras de celular. "Essas ações, pelas regras do passado, deveriam ter sido adquiridas quando foram adquiridas as ordinárias [com direito a voto] da Telet e da Americel. E na ocasião não foram", disse.

Concorrência
O ministro Eunício Oliveira (Comunicações) voltou a dizer que o governo espera o aumento da concorrência no setor com a venda da Embratel para a mexicana Telmex. "Nós sempre dissemos e reafirmamos: o que nós queremos é a ampliação da concorrência", disse.
Oliveira informou que a Telmex se comprometeu a procurar o governo brasileiro para reafirmar a posição de conceder uma golden share (ação especial com direito a voto e veto em determinados assuntos, definidos em acordo de acionistas) na Star One, operadora de satélites da Embratel.
O governo quer ter participação na Star One porque tem preocupações estratégicas com as informações militares que trafegam pelos satélites.

Tarifas
Questionado sobre o fato de a Telmex cobrar as tarifas mais altas da América, Oliveira disse esperar que a empresa chegue ao Brasil para ampliar a concorrência. Ele afirmou ainda que o governo vai conversar com a Telmex sobre manutenção de empregos na Embratel.
Em relação aos documentos revelados pela Folha, no último domingo, que demonstram que as operadoras locais iriam alinhar "tarifas pelo teto" no caso de conseguirem comprar a Embratel, Oliveira disse que só recebeu informações pelos jornais. "Não conheço o documento. Não chegou às minhas mãos até agora. Recebi informações por meio da mídia."
Na reportagem, a Folha revela que as três empresas tinham como objetivo da compra da Embratel reduzir descontos e mesmo repassar inflação a suas tarifas, o que seria possível com a eliminação da concorrência.


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