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Derrota retira trunfo dos ricos, afirma Amorim
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA, EM BRUXELAS
O ministro Celso Amorim
(Relações Exteriores) acredita que a decisão da OMC
(Organização Mundial do
Comércio) a favor do Brasil e
contra os subsídios americanos tire dos países ricos "um
instrumento que eles queriam usar como barganha na
negociação agrícola, o que
talvez os faça andar mais rápido" nas concessões a países como o Brasil.
Traduzindo: se, cedo ou
tarde, a OMC vai considerar
ilegais os subsídios (internos
ou à exportação), os países
que os adotam talvez considerem melhor derrubá-los
de uma vez, claro que em
troca de concessões de seus
parceiros na OMC.
O ministro lembra um antecedente remoto: durante a
Rodada Uruguai, o ciclo de
negociações liberalizantes
que foi de 1986 a 1993, houve
uma disputa similar à do algodão, mas em torno das
oleaginosas e entre União
Européia e EUA (o Brasil era
parte interessada, mecanismo previsto nas regras da
época e de agora).
A Europa perdeu e "viu
que não podia continuar ficando na negativa absoluta
nas negociações agrícolas",
rememora o chanceler.
De fato, a Rodada Uruguai
marca o momento em que a
agricultura, pela primeira
vez, entrou nas negociações
agrícolas, embora o resultado final tenha sido pobre:
um acordo posterior entre
UE e EUA limitou muitíssimo a abertura.
Amorim diz que não é o
caso de "triunfalismo" em
torno da vitória no caso do
algodão, mas ele próprio
tem dificuldades para contê-lo, porque a decisão de entrar com o pedido de julgamento foi dele, pessoalmente, embora depois aprovada
por outros ministros. O
chanceler tem a gentileza de
reconhecer que o mérito deve ser estendido ao governo
anterior, por conta de um
episódio que ele conta agora:
quem teve a primeira idéia
foi Pedro de Camargo Netto,
então secretário de Política
Agrícola do Ministério da
Agricultura, no governo Fernando Henrique Cardoso.
Camargo Netto, participante ativo das negociações
agrícolas, seja como ruralista, seja como membro do
governo, foi a Amorim, então embaixador em Genebra, quando este se recuperava de uma operação.
Pediu sugestões e Amorim
recomendou a contratação
de um advogado especializado em litígios. "Você pode
ter toda a razão do mundo,
mas é preciso ver se você tem
também um caso", disse à
época e rememora agora.
O advogado foi de fato
contratado, o norte-americano Scott Andersen, sem
falar no economista Daniel
Summer, ex-funcionário do
governo norte-americano e
hoje professor da Universidade da Califórnia em Davis.
Há um segundo motivo
para o entusiasmo do chanceler: ele acredita que o caso
do algodão seja exemplar na
luta do G20 para equiparar
justiça social e comércio
(G20 é o grupo de países em
desenvolvimento, liderado
por Brasil e Índia, que luta
pela abertura agrícola dos
países ricos).
De fato, a derrubada dos
subsídios vai beneficiar o
Brasil, mas principalmente
países africanos como Mali,
Chade, Benin e Burkina Faso. Neles, o algodão é responsável pelo emprego de 15
milhões de pessoas, que correm o risco de ficar sem o
trabalho.
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