São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2008

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entrevista

Soma de fatores agrava crise, diz especialista

DO ENVIADO ESPECIAL A BERNA

O plano que a ONU prepara para enfrentar a crise mundial de escassez alimentar tem como um dos pilares o seu PMA (Programa Mundial de Alimentos), responsável por colocar comida no prato de 73 milhões de pessoas em 78 países.
Com a disparada nos preços, a agência pediu US$ 755 milhões adicionais aos países doadores para não interromper suas missões mundo afora.
Em entrevista concedida em um dos intervalos da reunião de ontem em Berna, na Suíça, Josette Sheeran, diretora-executiva do PMA, falou com a Folha.

 

FOLHA - O que a sra. quis dizer com "tsunami silencioso"?
JOSETTE SHEERAN
- Quando o PMA lida com uma onda de fome, geralmente ela é localizada e ocorre em um determinado período, com um grupo específico de pessoas. Chamei a crise atual de um tsunami silencioso porque ela está se movendo em torno do globo e nós não sabemos exatamente onde e quem está atingindo. Sabemos que as principais vítimas são as pessoas mais vulneráveis, aquelas que vivem com menos de US$ 1 por dia.

FOLHA - Entre as várias razões da crise, há alguma que precisa de atenção especial?
SHEERAN
- Eu chamo essa crise de uma tempestade perfeita, porque não há um único fator causando a disparada de preços. Há uma combinação de fatores, mas em última instância é uma questão de suprimento e demanda. O fato é que o mundo está consumindo muito mais do que está produzindo.

FOLHA - Os biocombustíveis, por exemplo?
SHEERAN
- O alto preço do petróleo está tendo dois efeitos. Um deles é que está aumentando o custo da produção, dos preços do diesel ao dos fertilizantes, e em toda a cadeia produtiva. Também está transformando os alimentos em um produto atraente para usos industriais. Portanto, quando o preço do petróleo é muito alto, as pessoas começam a fazer combustíveis a partir de um espectro muito maior de matérias-primas. O que estamos vendo é que o uso de alimentos para a produção de combustíveis teve uma aceleração mais rápida do que a capacidade do mundo de suprir produtos como milho, oleaginosas e trigo.

FOLHA - Algo deve ser feito para deter a produção de biocombustíveis?
SHEERAN
- Acho que [os biocombustíveis] são um desafio e uma oportunidade. O fato é que as famílias mais pobres do mundo precisam ter acesso a energia a preços viáveis, mas também alimentos a preços que possam pagar. (MARCELO NINIO)


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