São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 2000


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ENERGIA

Projeto de aumento de produção de energia com termelétricas pode fracassar por falta de equipamento no mercado

Plano do governo sofre de falta de turbina


LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo anunciou com estardalhaço, em fevereiro, um megaprograma de estímulo à construção de 49 termelétricas, a fim de instalar mais 15 mil megawatts no país até 2003 e diminuir os problemas de falta de energia. O plano era ambicioso, mas Brasília esqueceu de avisar os fabricantes de turbinas de que haveria tantos pedidos.
O resultado é que as multinacionais não têm dado conta da demanda de equipamentos e já há gente que admite que apenas a metade da meta poderá ser alcançada.
"As encomendas para usinas a gás estão extremante aquecidas no mundo. Talvez o governo tenha de ser menos rígido nas metas. A metade da capacidade prevista é compatível com a disponibilidade de equipamentos", afirma o presidente da VBC Energia, Eduardo Bernini.
A VBC, que quer construir uma termelétrica com capacidade de 750 megawatts em Carioba, no interior paulista, conseguiu garantir as turbinas para o projeto porque uma de suas sócias, a Intergen -aliança da Shell com a Pecht-, trabalha com a perspectiva de vários empreendimentos no mundo inteiro. Portanto, faz encomendas antecipadas para empresas como a General Electric (GE).
"É por isso que estamos associados a grupos estrangeiros. Eles têm mobilidade para redirecionar turbinas termogeradoras já encomendadas", ressalta Bernini.

Prioridade nos EUA
A falta de máquinas para as termelétricas brasileiras ocorre por dois motivos. O país é praticamente virgem nesse tipo de empreendimento, e não existe, portanto, nenhuma empresa que fabrique turbinas do gênero aqui. As peças são importadas.
No entanto, a principal causa desse desabastecimento, que pegou o Ministério de Minas e Energia de calças curtas, é a enorme demanda de turbinas que ocorre atualmente nos Estados Unidos.
Diante do aquecimento de sua economia, os norte-americanos iniciaram nos últimos anos um programa agressivo de expansão energética. Assim, conseguem prioridade nas encomendas.
"As empresas de energia norte-americanas ampliaram o ritmo de crescimento de 4.000 megawatts para 30 mil megawatts por ano", explica o gerente-geral da área de energia da Siemens no Brasil, José Vicente Camargo.
Com duas fábricas de turbinas termogeradoras no mundo, uma em Berlim, na Alemanha, e outra em Hamilton, no Canadá, adquirida com a compra da Westinghouse, a multinacional germânica não tem hoje praticamente como atender os brasileiros.
"As fábricas estão completamente lotadas para os pedidos do mercado norte-americano. Mas temos alguns termogeradores reservados para o Brasil, que serão usados nos projetos que decidirmos", ressalta Camargo.
Segundo o executivo, somente depois de 2003 ou 2004 a Siemens terá condições de voltar a atender normalmente as encomendas das termelétricas.
Para azar do governo, 2003 é justamente o prazo final dado para os investidores se beneficiarem do Programa Prioritário de Termelétricas, que garante recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e também a compra da energia que as usinas não conseguirem vender no mercado.

Ágio
Existem hoje basicamente quatro fabricantes mundiais de termogeradores, além da Siemens: a GE, ABB Alstom Power, Rolls Royce e Mitsubishi.
A GE também tem se dedicado a suprir o mercado norte-americano. Sua assessoria dá a entender, em comunicado enviado por fax à Folha, que a demanda brasileira enfrenta mesmo problemas de ser atendida.
"Como uma fornecedora de equipamentos, a GE depende de fatores externos para que sejam estabelecidas as bases para viabilizar os projetos de utilização de geradores de turbinas a gás e a vapor."
A multinacional norte-americana considera que o mercado de energia do país é promissor, mas aponta a agressividade do programa emergencial do governo, "tanto do ponto de vista do seu escopo quanto de prazo".
No mercado já se fala, inclusive, na cobrança de ágio e na criação de um mercado paralelo para conseguir equipamentos com empresas que tiveram seus pedidos atendidos.
"Um investidor que tinha planos de construir uma usina na Ásia, por exemplo, e desistiu do projeto, pode vender a turbina encomendada para um grupo brasileiro", diz Maurício Botelho, diretor da Companhia de Força e Luz Cataguazes-Leopoldina.

Projetos
O grupo mineiro tem duas usinas termelétricas projetadas para os próximos anos, ambas inscritas no programa emergencial do governo. Uma em Juiz de Fora, Minas Gerais, e outra em Sergipe, em cidade ainda não determinada. O investimento total é de R$ 220 milhões. No entanto, os equipamentos para as usinas ainda não foram encomendados.
"Não podemos fazer isso antes de termos os projetos completamente definidos", alega.
O grupo Inepar também não encomendou equipamentos para a usina de Pitanga, no Paraná, inscrita no programa do governo. "Será uma pequena termelétrica, com capacidade para 20 megawatts. Ainda não completamos os estudos", diz Ricardo Aquino, diretor de desenvolvimento.
O conglomerado quer construir, porém, mais duas usinas, que não constam das metas oficiais do governo. Uma em Sepetiba, no Rio, e outra em Londrina, no Paraná. Esta última teria 480 megawatts, com a British Petroleum entre os sócios.
O início da operação seria em 2004 ou 2005, mas Aquino admite que, além de problemas para garantir a chegada de gás ao local, "a fila de entrega de equipamentos pode atrasar o projeto".


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