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ENERGIA
Projeto de aumento de produção de energia com termelétricas pode fracassar por falta de equipamento no mercado
Plano do governo sofre de falta de turbina
LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo anunciou com estardalhaço, em fevereiro, um megaprograma de estímulo à construção de 49 termelétricas, a fim de
instalar mais 15 mil megawatts no
país até 2003 e diminuir os problemas de falta de energia. O plano era ambicioso, mas Brasília esqueceu de avisar os fabricantes de
turbinas de que haveria tantos pedidos.
O resultado é que as multinacionais não têm dado conta da demanda de equipamentos e já há
gente que admite que apenas a
metade da meta poderá ser alcançada.
"As encomendas para usinas a
gás estão extremante aquecidas
no mundo. Talvez o governo tenha de ser menos rígido nas metas. A metade da capacidade prevista é compatível com a disponibilidade de equipamentos", afirma o presidente da VBC Energia,
Eduardo Bernini.
A VBC, que quer construir uma
termelétrica com capacidade de
750 megawatts em Carioba, no interior paulista, conseguiu garantir
as turbinas para o projeto porque
uma de suas sócias, a Intergen
-aliança da Shell com a Pecht-,
trabalha com a perspectiva de vários empreendimentos no mundo
inteiro. Portanto, faz encomendas
antecipadas para empresas como
a General Electric (GE).
"É por isso que estamos associados a grupos estrangeiros. Eles
têm mobilidade para redirecionar
turbinas termogeradoras já encomendadas", ressalta Bernini.
Prioridade nos EUA
A falta de máquinas para as termelétricas brasileiras ocorre por
dois motivos. O país é praticamente virgem nesse tipo de empreendimento, e não existe, portanto, nenhuma empresa que fabrique turbinas do gênero aqui.
As peças são importadas.
No entanto, a principal causa
desse desabastecimento, que pegou o Ministério de Minas e Energia de calças curtas, é a enorme
demanda de turbinas que ocorre
atualmente nos Estados Unidos.
Diante do aquecimento de sua
economia, os norte-americanos
iniciaram nos últimos anos um
programa agressivo de expansão
energética. Assim, conseguem
prioridade nas encomendas.
"As empresas de energia norte-americanas ampliaram o ritmo de
crescimento de 4.000 megawatts
para 30 mil megawatts por ano",
explica o gerente-geral da área de
energia da Siemens no Brasil, José
Vicente Camargo.
Com duas fábricas de turbinas
termogeradoras no mundo, uma
em Berlim, na Alemanha, e outra
em Hamilton, no Canadá, adquirida com a compra da Westinghouse, a multinacional germânica não tem hoje praticamente como atender os brasileiros.
"As fábricas estão completamente lotadas para os pedidos do
mercado norte-americano. Mas
temos alguns termogeradores reservados para o Brasil, que serão
usados nos projetos que decidirmos", ressalta Camargo.
Segundo o executivo, somente
depois de 2003 ou 2004 a Siemens
terá condições de voltar a atender
normalmente as encomendas das
termelétricas.
Para azar do governo, 2003 é
justamente o prazo final dado para os investidores se beneficiarem
do Programa Prioritário de Termelétricas, que garante recursos
do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) e também a compra da
energia que as usinas não conseguirem vender no mercado.
Ágio
Existem hoje basicamente quatro fabricantes mundiais de termogeradores, além da Siemens: a
GE, ABB Alstom Power, Rolls
Royce e Mitsubishi.
A GE também tem se dedicado a
suprir o mercado norte-americano. Sua assessoria dá a entender,
em comunicado enviado por fax à
Folha, que a demanda brasileira
enfrenta mesmo problemas de ser
atendida.
"Como uma fornecedora de
equipamentos, a GE depende de
fatores externos para que sejam
estabelecidas as bases para viabilizar os projetos de utilização de geradores de turbinas a gás e a vapor."
A multinacional norte-americana considera que o mercado de
energia do país é promissor, mas
aponta a agressividade do programa emergencial do governo,
"tanto do ponto de vista do seu escopo quanto de prazo".
No mercado já se fala, inclusive,
na cobrança de ágio e na criação
de um mercado paralelo para
conseguir equipamentos com
empresas que tiveram seus pedidos atendidos.
"Um investidor que tinha planos de construir uma usina na
Ásia, por exemplo, e desistiu do
projeto, pode vender a turbina
encomendada para um grupo
brasileiro", diz Maurício Botelho,
diretor da Companhia de Força e
Luz Cataguazes-Leopoldina.
Projetos
O grupo mineiro tem duas usinas termelétricas projetadas para
os próximos anos, ambas inscritas no programa emergencial do
governo. Uma em Juiz de Fora,
Minas Gerais, e outra em Sergipe,
em cidade ainda não determinada. O investimento total é de R$
220 milhões. No entanto, os equipamentos para as usinas ainda
não foram encomendados.
"Não podemos fazer isso antes
de termos os projetos completamente definidos", alega.
O grupo Inepar também não
encomendou equipamentos para
a usina de Pitanga, no Paraná, inscrita no programa do governo.
"Será uma pequena termelétrica,
com capacidade para 20 megawatts. Ainda não completamos os
estudos", diz Ricardo Aquino, diretor de desenvolvimento.
O conglomerado quer construir, porém, mais duas usinas,
que não constam das metas oficiais do governo. Uma em Sepetiba, no Rio, e outra em Londrina,
no Paraná. Esta última teria 480
megawatts, com a British Petroleum entre os sócios.
O início da operação seria em
2004 ou 2005, mas Aquino admite
que, além de problemas para garantir a chegada de gás ao local, "a
fila de entrega de equipamentos
pode atrasar o projeto".
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