São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 2006

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Moedas e Bolsas devem continuar voláteis

Nervosismo prossegue enquanto persistirem as incertezas sobre o futuro das economias chinesa e norte-americana

Consenso entre os analistas é que a economia mundial vai crescer menos em 2007 e que os emergentes vão ser os mais afetados pela freada

Justin Lane - 17.mai.2006/EFE
Criança dentro de um barraco de lona em um acampamento montado pelos sem-terra do MST, em Teixeira de Freitas, na Bahia


MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Bolsas e moedas por todo o mundo continuarão voláteis, enfrentando dias de nervosismo e incerteza nas próximas semanas. Enquanto durarem as incertezas que hoje pairam sobre o futuro da economia global -leia-se o futuro das economias chinesa e norte-americana-, as realocações de recursos seguirão abalando mercados por todo o mundo.
Ninguém sabe ao certo no que desaguará a volatilidade que tomou conta das finanças mundiais nas últimas semanas. Por enquanto, há quase consenso de que não será em uma grande crise, mas também é unânime a opinião de que demorará um pouco para que os mercados financeiros voltem a operar com menos nervosismo.
"Ainda existe muita indefinição [sobre o que ocorrerá com a política monetária nos EUA]", diz Emy Shayo, economista-chefe da Bear Stearns. Ela explica que hoje os investidores se dividiram em dois grandes grupos: o dos que enxergam um cenário de pressões inflacionárias nos EUA e o dos que avaliam que não há esse risco, ou que ele é reduzido.
"Há uma certa divergência de opiniões sobre a política monetária norte-americana. Enquanto ela persistir, vai haver volatilidade", diz o economista Nuno Câmara, do Dresdner.
O cenário confuso acaba contribuindo para aumentar a volatilidade nos mercados financeiros, já que a reação à incerteza acaba sendo realocações sistemáticas de recursos. Junte-se à dificuldade de prever as pressões pelas quais pode passar a economia norte-americana o fato de haver um novo presidente no Fed (Federal Reserve), e tem-se um quadro ainda mais tenso. "O novo presidente ainda está sendo testado pelo mercado", diz Álvaro Gonçalves, sócio da Stratus.

Consenso
Se não há consenso sobre o quanto terá que aumentar os juros nos EUA para conter possíveis pressões inflacionárias, há em relação ao cenário para a economia mundial em 2007. Ela passará a crescer menos, e, claro, o menor crescimento global terá impactos nos países emergentes. Daí a onda de especulação e queda de Bolsas e moedas por todo o mundo emergente. Vale lembrar que Bolsas caíram em todos os mercados nas últimas semanas, mas as oscilações são sempre mais fortes nos países emergentes. E isso apesar de toda a melhora dos indicadores econômicos da maior parte dos países em desenvolvimento.
"Apesar de terem feito o dever de casa, os emergentes continuam sendo uma alocação alternativa de investimentos. Eles melhoraram muito, mas não entraram no mapa dos investimento do "daqui eu não saio de jeito nenhum'", diz Gonçalves.
Mas o sócio da Stratus vê com naturalidade os movimentos bruscos que ocorreram nos últimos dias. Diz acreditar que eles devem continuar por algum tempo. "Quando você tem juros mais altos em algum lugar", diz, referindo-se à elevação dos juros nos EUA, "o fluxo de recursos para lá aumenta".
Com a mudança no cenário de juros nos EUA, argumenta Gonçalves, era esperada uma realocação geral das carteiras de bancos e fundos de todo o mundo, ainda que ocorra em meio ao nervosismo visto nas últimas semanas. Ele lembra ainda que era esperada também uma correção de preços pelo mundo emergente, cujas Bolsas e moedas vinham valorizando-se nos últimos meses.
Walter Molano, da BCP Securities, faz avaliação parecida. Ele também prevê que o mundo conviverá com certa "emoção" nos mercados nas próximas semanas, mas diz que ela não deve ter consequências muito graves para as economias emergentes. "As economias estão em boa forma, com indicadores sólidos, não vejo vulnerabilidades [que sinalizem que as economias dos países em desenvolvimento possam entrar em crise por conta do estresse no mercado]."
Gonçalves concorda: "Ninguém decidiu sair do Brasil porque avaliou que ficou mais arriscado. Não houve, como nos anos 90, o "aspirador de pó", com investidores tirando recursos de "lugares perigosos"."
"A boa notícia é que o Brasil está muito mais resistente a choques externos. Não estamos preocupados, porque o dever de casa foi feito", diz Câmara, do Dresdner. É verdade que a moeda brasileira oscilou mais fortemente que as moedas da maioria dos emergentes. Mas, diz avaliar o economista do Dresdner, o impacto relativamente maior ocorreu por conta de aspectos técnicos, não pela avaliação de que o Brasil oferecia mais riscos que os demais.


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