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entrevista
Fiocca diz não ver risco maior para o Brasil
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
Defensor da política fiscal
do governo e fiel escudeiro
do ministro Guido Mantega
(Fazenda), o economista Demian Fiocca, presidente do
BNDES (Banco Nacional do
Desenvolvimento Econômico e Social), diz que o Brasil
não tem motivos para se assustar com turbulências.
FOLHA - Como o sr. explica a turbulência da semana passada? O
Brasil será atingido?
DEMIAN FIOCCA - O mercado
internacional estava em uma
situação de excepcional liquidez. Mesmo que ele transite para uma situação de liquidez apenas boa, o cenário
continua positivo. Quanto ao
Brasil, não vejo riscos maiores. O país alcançou nos últimos anos a melhor situação
de fundamentos das últimas
décadas, e, quem dizia que a
meta fiscal estava em risco, já
começou a ser desmentido
pelos resultados do quadrimestre. Quanto à taxa de
câmbio, não creio que, após
três anos de apreciação, alguma pequena desvalorização
apresente riscos.
FOLHA - O sr. acha que a política
fiscal está na direção correta?
FIOCCA - A política fiscal é
boa, é correta. Nós vínhamos
de oito anos de crescimento
seguido da dívida pública e
hoje estamos numa trajetória de queda desde 2003. Só
esse indicador mostra que a
atual política fiscal não só é
correta, do ponto de vista da
sua eficácia, como ela também é melhor do que a praticada antes desse governo.
FOLHA - Muitos críticos da atual
política são céticos em relação à
promessa do governo de cumprir
a meta de 4,25% do PIB de superávit primário.
FIOCCA - O ministro da Fazenda já disse que a meta será cumprida. Espero que quem pôs em dúvida a meta e
que, ao final do ano, estiver
errado, venha a público e admita que o ministro da Fazenda estava certo. É muito
fácil fazer críticas e depois
esquecer o que disse. Desde
1999, eu escuto de algumas
pessoas que a meta está sob
risco. E, de 1999 até hoje, a
meta de superávit primário
sempre foi cumprida todos
os anos, seja pelo governo
passado seja pelo atual.
FOLHA - O sr. está falando de
quem?
FIOCCA - Prefiro não dar o
nome, mas é um dos principais especialistas em política
fiscal [ele se referia ao economista Raul Velloso].
FOLHA - O governo não estaria
gastando demais com custeio?
FIOCCA - Há uma crítica muito comum de que o governo
estaria gastando esse dinheiro com o inchaço da máquina
ao contratar um monte de
pessoas. Essa crítica é a que
eu considero mais errada, inclusive porque ela se vale
quase de uma desinformação. A desinformação resulta
de utilizar termos para a opinião pública que, no jargão
orçamentário, tem sentido
diferente. Quais termos?
Gasto corrente ou custeio,
no jargão orçamentário e
contábil, significam, na verdade, tudo o que não é investimento fixo. Agora, para a
população, quando se diz que
aumentou o custeio, fica a
impressão de que o que se está gastando é com viagens,
conta de luz ou celular. Isso é
uma desinformação deslavada. Os gastos que estão sendo
feitos são aqueles que resultam diretamente na prestação de mais serviços à população, de mais transferência
de renda à população. São
gastos com saúde ou com o
Bolsa-Família, mas que são
chamados de custeio.
FOLHA - A política fiscal não seria a principal causa dos juros altos?
FIOCCA - A política fiscal não
pode ser responsabilizada
pelo atual nível de juros. Se
você pegar países como Japão, Índia, Colômbia, França, EUA, Inglaterra, Canadá
e México, todos têm a relação dívida/PIB parecida com
a do Brasil ou ainda maior, e,
mesmo assim, os juros são
mais baixos. Se compararmos o déficit nominal do
Brasil em relação a 14 países,
aqueles com os maiores déficits, a taxa de juro média desses países é de 0,7%, e eles
possuem o mesmo nível de
déficit nominal do Brasil.
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