São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 2006

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entrevista

Fiocca diz não ver risco maior para o Brasil

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

Defensor da política fiscal do governo e fiel escudeiro do ministro Guido Mantega (Fazenda), o economista Demian Fiocca, presidente do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), diz que o Brasil não tem motivos para se assustar com turbulências.
 

FOLHA - Como o sr. explica a turbulência da semana passada? O Brasil será atingido?
DEMIAN FIOCCA
- O mercado internacional estava em uma situação de excepcional liquidez. Mesmo que ele transite para uma situação de liquidez apenas boa, o cenário continua positivo. Quanto ao Brasil, não vejo riscos maiores. O país alcançou nos últimos anos a melhor situação de fundamentos das últimas décadas, e, quem dizia que a meta fiscal estava em risco, já começou a ser desmentido pelos resultados do quadrimestre. Quanto à taxa de câmbio, não creio que, após três anos de apreciação, alguma pequena desvalorização apresente riscos.

FOLHA - O sr. acha que a política fiscal está na direção correta?
FIOCCA
- A política fiscal é boa, é correta. Nós vínhamos de oito anos de crescimento seguido da dívida pública e hoje estamos numa trajetória de queda desde 2003. Só esse indicador mostra que a atual política fiscal não só é correta, do ponto de vista da sua eficácia, como ela também é melhor do que a praticada antes desse governo.

FOLHA - Muitos críticos da atual política são céticos em relação à promessa do governo de cumprir a meta de 4,25% do PIB de superávit primário.
FIOCCA
- O ministro da Fazenda já disse que a meta será cumprida. Espero que quem pôs em dúvida a meta e que, ao final do ano, estiver errado, venha a público e admita que o ministro da Fazenda estava certo. É muito fácil fazer críticas e depois esquecer o que disse. Desde 1999, eu escuto de algumas pessoas que a meta está sob risco. E, de 1999 até hoje, a meta de superávit primário sempre foi cumprida todos os anos, seja pelo governo passado seja pelo atual.

FOLHA - O sr. está falando de quem?
FIOCCA
- Prefiro não dar o nome, mas é um dos principais especialistas em política fiscal [ele se referia ao economista Raul Velloso].

FOLHA - O governo não estaria gastando demais com custeio?
FIOCCA
- Há uma crítica muito comum de que o governo estaria gastando esse dinheiro com o inchaço da máquina ao contratar um monte de pessoas. Essa crítica é a que eu considero mais errada, inclusive porque ela se vale quase de uma desinformação. A desinformação resulta de utilizar termos para a opinião pública que, no jargão orçamentário, tem sentido diferente. Quais termos? Gasto corrente ou custeio, no jargão orçamentário e contábil, significam, na verdade, tudo o que não é investimento fixo. Agora, para a população, quando se diz que aumentou o custeio, fica a impressão de que o que se está gastando é com viagens, conta de luz ou celular. Isso é uma desinformação deslavada. Os gastos que estão sendo feitos são aqueles que resultam diretamente na prestação de mais serviços à população, de mais transferência de renda à população. São gastos com saúde ou com o Bolsa-Família, mas que são chamados de custeio.

FOLHA - A política fiscal não seria a principal causa dos juros altos?
FIOCCA
- A política fiscal não pode ser responsabilizada pelo atual nível de juros. Se você pegar países como Japão, Índia, Colômbia, França, EUA, Inglaterra, Canadá e México, todos têm a relação dívida/PIB parecida com a do Brasil ou ainda maior, e, mesmo assim, os juros são mais baixos. Se compararmos o déficit nominal do Brasil em relação a 14 países, aqueles com os maiores déficits, a taxa de juro média desses países é de 0,7%, e eles possuem o mesmo nível de déficit nominal do Brasil.


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