UOL


São Paulo, domingo, 29 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESPETÁCULO DO CRÉDITO

Instituições cobram taxa mais alta nas grandes redes; varejo amplia lucro com taxa do crediário

Juros são maiores nas lojas que vendem mais

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

As financeiras cobram juros mais altos para a venda de produtos em grandes redes varejistas. Já em lojas menores, com um ou dois estabelecimentos, a taxa acaba sendo menor, o que torna o preço final menos salgado.
Irritado com a atual política do setor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou duramente as financeiras na sexta-feira, classificando-as como empresas de crédito que cobram 333% de juros ao ano para uma simples compra de um liquidificador. Disse que isso está "matando o povo".
O juro do comércio é cobrado em toda a venda parcelada, no formato de carnês, e é a financeira que bate o martelo e decide a taxa que o consumidor vai ter de arcar.
Levantamento da Folha realizado na semana passada em 11 redes de varejo mostra que uma mesma financeira determina taxas diferentes para lojas de um mesmo segmento (eletrônico, construção civil, supermercados etc.).
A taxa em uma cadeia de grande porte chega a ser quase o dobro do que numa loja menor. Ambas vendem os mesmos itens.

Diferença
Exemplo: um televisor de 20 polegadas (tamanho mais comum) da marca LG custa R$ 649 na rede Fast Shop, em São Paulo. Em seis vezes, as parcelas serão de R$ 133,65. Os juros estão na casa de 6,4% ao mês para operações em até seis vezes na loja da rede no Shopping Paulista, na capital.
Os juros são fixados pela Cetelem, financeira do Grupo BNP (Banque Nationale de Paris), que também opera com a rede Denovo, de pequeno porte e localizada no litoral sul de São Paulo. Lá, a mesma TV da marca LG custará menos: seis vezes de R$ 112,23, com juros mais baixos, de 3,5% ao mês. A taxa é válida para operações em até oito vezes.
Não é um caso isolado. A Losango, financeira do banco Lloyds TSB, é responsável pelas operações da cadeia de lojas Franco Eletro, com 38 lojas nos Estados de Goiás, Tocantins e Maranhão. A taxa varia de 5,4% a 6,4% ao mês.
Na rede Tele-Rio, do Rio de Janeiro, com 28 pontos-de-venda, paga-se menos. A taxa na venda parcelada está em 4,5% por mês.
Dados da Anefac, associação dos executivos de finanças, mostram que o juro cobrado em grandes redes se "descolaram" da praticada em médias e pequenas lojas neste ano, a partir de março. A puxada fez com que o juro médio do setor passasse de 6,66%, em fevereiro, para 6,75% em março. É a maior alta desde janeiro de 1999.

Receita financeira
Analistas lembram, no entanto, que há lojas que passaram a negociar com as financeiras taxas mais elevadas para conseguir abocanhar uma margem de lucro maior na operação, e, com isso, elevar a receita financeira da rede de lojas.
A estratégia consiste em tentar lucrar mais mesmo que haja uma retração nas vendas. Há cinco meses consecutivos o varejo no país registra queda no volume de itens vendidos.
Segundo Alberto Serrentino, sócio da Gouvêa de Souza & MD, por conta desse cenário, há redes que vendem sem garantir lucro com a operação, mas tentam segurar o resultado na parte financeira. "Na teoria, isso não deveria ocorrer. Lojas maiores deveriam fechar mais operações e, com isso, faturar mais com a venda, não com juros", diz Eugênio Foganholo, da Mixxer Consultoria.
Cobrar diferentes taxas de acordo com o porte da loja não é algo comum, rebatem as financeiras. São casos isolados.
Afirmam que certos segmentos (como eletrônico e informática) têm taxas de inadimplência mais elevadas em grandes lojas e, com isso, o risco de a financeira tomar calote passa a ser maior. Portanto, como medida de segurança são definidos juros mais elevados.
Além disso, em períodos de demanda reprimida e renda em queda, quando aumenta o número de clientes com parcelas em atraso, o juro se eleva. "Isso infelizmente acontece se a inadimplência sobe muito", diz Cecília Pinto, gerente de crédito direto ao consumidor do PanAmericano.


Texto Anterior: Investimento não deve passar de US$ 10 bi
Próximo Texto: "Concorrência" da Caixa já reduz taxas
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.