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OPINIÃO ECONÔMICA
Os fazendeiros de Minnesota
BENJAMIN STEINBRUCH
Saiu no "New York Times", na
semana passada, a seguinte declaração sobre o Brasil: "No futuro, o país pode se transformar em
uma potência como a Opep e determinar os preços da soja em todo o mundo".
A frase não é de um brasileiro
ufanista -foi dita por um especialista em soja da Universidade
de Minnesota, Seth Naeva, que se
diz preocupado com o crescimento das exportações agrícolas brasileiras. É mais um sinal de que o
avanço brasileiro em agronegócios incomoda concorrentes mundiais. Alguns incidentes comerciais das últimas semanas apontam na mesma direção, como o
embargo chinês à soja, o obstáculo russo e argentino à carne brasileira e a disputa do algodão com
os EUA.
A própria declaração do professor de Minnesota foi feita no contexto de uma nova reação contra
um produto do agronegócio brasileiro, o álcool. Os fazendeiros de
Minnesota estão indignados com
uma multinacional norte-americana, que, aliás, tem sede nesse
mesmo Estado norte-americano,
porque ela está montando um
plano para exportar álcool brasileiro para o mercado dos EUA.
Para reduzir a poluição, vários
Estados norte-americanos já adotaram a mistura do álcool à gasolina. O Brasil é o maior e mais eficiente produtor mundial de álcool combustível. Pode fornecê-lo
ao consumidor norte-americano
por um preço muito menor do
que o do álcool de milho produzido pelos fazendeiros de Minnesota. Mas existe uma pesada restrição tarifária de US$ 0,54 por galão que praticamente impede a
exportação brasileira.
Para driblar essa tarifa, a multinacional norte-americana planeja construir uma fábrica em El
Salvador, cuja função seria desidratar o álcool brasileiro e reexportá-lo para os EUA. A operação
pode funcionar porque os EUA
mantêm um acordo que beneficia
produtos de Caribe com isenção
tarifária, dentro de certos limites.
É possível que a reação dos fazendeiros de Minnesota frustre a
operação caribenha da multinacional. Mas essa escaramuça, como as outras na área de commodities, exige que os próprios brasileiros se dêem conta da importância que o Brasil começa a assumir
no cenário mundial dos agronegócios.
Sinais claros disso estão nas estatísticas sobre as exportações
brasileiras. Fui mexer nos dados
semanais e observei um detalhe
importante, mais relevante até do
que o superávit semanal da balança comercial, que se aproxima
da casa do bilhão de dólares: o
Brasil exportou, na terceira semana de junho, US$ 440 milhões por
dia útil, em média. Esse valor,
multiplicado por 240 (número
médio de dias úteis por ano, no
Brasil), totaliza US$ 105 bilhões.
Ou seja, o nível atual das vendas
externas aponta um valor anual
já superior a US$ 100 bilhões em
exportações. Não vale, nesse caso,
dizer que isso é produto de alta
sazonal, porque na mesma época
do ano passado a média diária
era de US$ 294 milhões, que
apontava exportações anuais de
apenas US$ 70 bilhões.
As estatísticas animadoras revelam que o dinamismo não se
restringe a produtos do agronegócio. A média diária de exportações de manufaturados, de US$
197 milhões na terceira semana
de junho, também cresce de forma surpreendente -40% em relação a julho do ano passado.
A esta altura, é impossível contestar a idéia de que o crescimento que começa a se desvendar na
economia se deve, primordialmente, ao ímpeto exportador.
Vem daí também a expansão do
emprego e da massa salarial, que,
em breve, poderá puxar a demanda interna. Então, a pergunta que
se faz neste momento é se a produção conseguirá atender ao
mesmo tempo à demanda interna e às obrigações assumidas com
os clientes internacionais.
Alguns setores industriais já
operam praticamente à plena capacidade e não poderão expandir
produção sem novos investimentos. Já estamos atrasados, mas
ainda é tempo de olhar com cuidado para esse crucial problema
da paradeira nos investimentos,
uma advertência que, é bom lembrar, vale principalmente para o
governo.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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