São Paulo, terça-feira, 29 de junho de 2004

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LUÍS NASSIF

Da tecnologia bélica...

O mercado internacional de mísseis tem alguns grandes competidores -como EUA, França, Rússia e Israel- e outros menores -como Brasil e África do Sul.
Hoje em dia, a disputa não está mais na mecânica dos mísseis, mas na portabilidade. Um míssil transportável, que custa US$ 100 mil, pode derrubar um avião de US$ 3 milhões.
Brasil e África do Sul estão tentando desenvolver tecnologias nessa área. A África do Sul tem enfrentado grande problema para reter sua mão-de-obra qualificada, em razão de uma política de cotas nas empresas que, mal aplicada, está desmontando sua estrutura de pesquisas.
Como reação ao apartheid, seguiu-se uma política de cotas, inclusive em áreas críticas, sem levar em conta o tempo necessário para preparar uma geração de técnicos negros que pudesse substituir a maioria branca que dominava os postos de mais alta qualificação.
Para competir nesse mercado, o Brasil entra com preço e com suporte pós-venda. As grandes acabam não fornecendo o suporte por restrição de preços. Os mercados potenciais brasileiros são América Latina, Oriente e Ásia.
O Brasil produz mísseis de terceira geração. Não avançou em áreas mais sofisticadas por questão de custo. Neste momento, está em análise na Força Aérea Brasileira um projeto sul-africano de míssil de quinta geração. Os sul-africanos não têm recursos para terminar o projeto e propuseram uma parceria com o Brasil, na qual os investimentos de US$ 100 milhões serão divididos.
Em circunstância semelhante, a China aceitou uma parceria com a Embraer, mas colocou como sócia uma empresa local, para absorver tecnologia. Os sul-africanos colocaram como condição para desenvolver o projeto que não houvesse uma empresa nacional associada. Propõem apenas a parceria com a Força Aérea, sem envolver a indústria. Ora, sem um parceiro empresarial, do lado de cá, jamais haverá transferência de tecnologia.
O trabalho de absorção de tecnologia no projeto AMX (com os italianos) só foi possível porque havia a Embraer, que montou uma verdadeira operação de transferência, envolvendo-se diretamente na fabricação.

...e da paz
Da coluna de 20 de setembro de 2001, quando se julgava que a sociedade norte-americana trilharia um caminho sem volta para a direita:
"Estão contados os dias de uma das piores pragas da ecologia política mundial: os "falcões", insufladores da Guerra Fria. Nos primeiros dias após os atentados contra os EUA, diversos estudiosos entenderam, corretamente, que se tratava de um marco anunciando a nova ordem mundial. Mas que nova ordem seria essa?
Há um risco concreto e imediato de os "falcões" se prevalecerem da situação atual, encontrarem pela frente um presidente americano sem energia e deflagrarem uma campanha indiscriminada de retaliações. Mas apenas adiarão o último vôo. O cenário que vai se robustecendo cada vez mais é que não haverá saída fora de um amplo concerto mundial em torno da paz, devido à impossibilidade de qualquer outra forma de combate ao terror. (...) O cenário alternativo ao da paz seria a montagem de uma estrutura de segurança universal. Mas seria financeira e fisicamente factível? (...)".

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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