São Paulo, terça-feira, 29 de junho de 2004

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CONTAGEM REGRESSIVA

Segundo o Banco de Compensações Internacionais, países altamente endividados devem ser atingidos

Para o BIS, juro maior nos EUA afeta o Brasil

MARCELO BILLI
ENVIADO ESPECIAL À BASILÉIA

A economia brasileira pode sofrer um impacto negativo com a elevação das taxas de juros internacionais, avalia o gerente-geral do BIS (sigla em inglês para Banco de Compensações Internacionais), Malcolm Knight.
Hoje, o Fed (banco central dos EUA) inicia uma reunião de dois dias em que vai determinar se mexe ou não na taxa de juros do país -hoje em 1% ao ano, a mais baixa em mais de 40 anos. A previsão é que haja uma elevação de 0,25 ponto percentual.
"Claramente há riscos para os países altamente endividados. [A elevação dos juros] será, em certa medida, um grande desafio para o Brasil. Por causa da natureza da sua dívida, porque ela é em grande parte atrelada a taxa de juros de curto prazo e a movimentos da taxa de câmbio", disse Knight.
Ele, no entanto, insinua que não há muito o que o governo possa fazer, pelo simples motivo de que a receita dele para que o país enfrente o cenário internacional no futuro próximo é manter a mesma política econômica que foi adotada desde o início do governo. "A economia mundial está se recuperando, as perspectivas para crescimento [da economia brasileira] são melhores, o governo manteve de maneira consistente um grande superávit primário. Essas são as políticas adequadas para minimizar os riscos", diz o gerente-geral do BIS.
Para o BIS, não há dúvida de que o período de juros baixos nos mercados internacionais está próximo do fim. Pelo contrário, a instituição até recomenda elevações de juros nas principais economias desenvolvidas.
Willian White, economista-chefe da instituição, diz que um aperto monetário mundial, iniciado pela alta dos juros nos EUA, já é certo. A dúvida, avalia White, é o quão rápido ou forte ele será.
Pela primeira vez em muitos anos, avalia o economista, o mundo vai crescer de forma sincronizada -todas a regiões devem ter desempenho positivo.
A expansão, em parte, é resultado das políticas fiscal e monetária expansivas adotadas pelos países desenvolvidos, avalia o BIS. Ou seja: parte do crescimento mundial é alimentada por gasto público abundante e os juros mais baixos nos últimos 50 anos.
Agora, diz White, os países têm que aproveitar a bonança do período de crescimento mundial sincronizado que já começou e reajustar as políticas: juros mais altos para evitar pressões inflacionarias e contenção fiscal para ajustar as contas públicas e tentar diminuir, ou eliminar, os déficits públicos. "Temos que aproveitar as épocas de bonança para nos prepararmos para os períodos difíceis", diz o economista.
O tamanho do aperto, ou seja, o quanto os juros irão subir, ainda é uma incógnita. "Vai depender muito do que ocorrer com a inflação", diz o economista. Segundo ele, se por um lado o aumento da produtividade e da concorrência na economia mundial atuam de forma a conter as taxas de inflação, os preços de commodities e o aquecimento econômico exercem pressão no sentido contrário.

Basiléia
Os principais banqueiros do mundo aprovaram no final de semana o novo Acordo da Basiléia (Basiléia 2). O objetivo é evitar crises financeiras por meio da criação de normas e medidas de supervisão e regulação do setor financeiro que sejam comuns a todos os países e que evitem crises do sistema financeiro.
Um dos eixos do documento define as recomendações para o cálculo do "requerimento mínimo de capital", que, na verdade, define qual a quantidade mínima de recursos que um banco deve ter para fazer um determinado volume de operações.
A supervisão das operações dos bancos faz parte do segundo eixo. Os supervisores devem assegurar que os bancos estão avaliando corretamente os riscos envolvidos nas operações que efetuam e, portanto, se eles estão respeitando a necessidade mínima de capital.
O terceiro eixo baseia-se no aumento da transparência das instituições financeiras.


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