São Paulo, segunda-feira, 29 de julho de 2002

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FOLHA INVEST

Carteiras de fundos de pensão, que tradicionalmente alugam papéis, se desvalorizam com operação

Locador de ação dá corda para a própria forca

DA REPORTAGEM LOCAL

O grande crescimento das operações com aluguel de ações e seus efeitos danosos sobre o mercado estão fazendo os tradicionais alugadores de papel, os fundos de pensão, rever suas posições. "Muitos dos locadores não querem mais ceder seus papéis, pois o crescimento das vendas a descoberto e do giro rápido acaba desvalorizando suas carteiras", diz Álvaro Bandeira, diretor da Corretora Ágora.
Na opinião de Paulo Possas, diretor da Eagle Capital, "os fundos de pensão, ao alugar suas ações, dão a corda para serem enforcados". Isso porque as operações dos bancos com vendas a descoberto só retiram dinheiro do mercado, enfraquecendo a Bovespa e deteriorando os preços dos papéis que as fundações têm em carteira.

Falhas operacionais
O aluguel de ações é um mecanismo criado em 1996 pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), o xerife do mercado de capitais. Desde aquele ano a CBLC (Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia) oferece o produto por meio do seu banco de títulos, no qual investidores que pretendem manter um papel por muito tempo em carteira oferecem-no para alugar.
Para o locador, a vantagem é obter algum rendimento extra, além da valorização da ação e dos dividendos que ela paga. Para o locatário, há várias utilidades. Uma delas é resolver falhas operacionais na compra e venda de ações e, com isso, diminuir a volatilidade e a inadimplência no mercado.
"Esse foi o principal objetivo da criação do mercado de aluguel de ações", diz Wagner Anacleto, gerente de riscos da CBLC .
Um exemplo de falha é o registro errado da ordem de venda de um cliente por parte do operador de uma corretora. "A instituição tem três dias para disponibilizar as ações. Se vendeu Petrobras, em vez de Eletrobrás, como mandou o cliente, e não tem esse papel para liquidar a operação, pode alugá-lo para honrar a venda", explica Anacleto.
Segundo Anacleto, o aluguel de ações também é usado como hedge (proteção) em negócios no mercado de opções e de derivativos (aplicações em índices futuros de Bolsa).

Proteção
Por exemplo: se um investidor tem um contrato de opção de venda de um papel e no dia do vencimento não dispõe da ação para entregar, terá de comprá-la no mercado à vista, correndo o risco de pagar um preço alto. "Se ele alugar o papel, estará livre de ter de ir ao mercado e pagar caro pela ação", diz Anacleto.
Outra finalidade do aluguel de ações é propiciar ganhos a quem vislumbra uma oportunidade no mercado, mas não tem o papel em carteira. Foi essa modalidade que mais se desenvolveu nos últimos dois anos, favorecendo giros especulativos na Bolsa de Valores. No início do ano passado esse mercado chegou a movimentar R$ 1,1 bilhão.


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