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VENDA A DESCOBERTO/ANÁLISE
Fundos de hedge renovam estratégias e se proliferam nos EUA
France Press
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Operadores no pregão de ontem da Bolsa de Al Kuait, que recuou 2,5% na semana passada |
DANNY HAKIM
DO "THE NEW YORK TIMES"
É muito apropriado que o
índice industrial Dow Jones
tenha voltado aos seus níveis de
1998. John Meriwether, cuja corretora de fundos de hedge Long-Term Capital Management desabou de maneira espetacular naquele ano, agora volta a ganhar
terreno. Meriwether já tem US$ 1
bilhão em ativos em seu novo fundo, o JWM Partners, e registrou
lucro de 6% neste ano.
O segundo ato na carreira de
Meriwether, depois de causar tumulto nos mercados mundiais e
ser resgatado por uma dúzia de
bancos, serve como lembrete de
que alguém está sempre enriquecendo, não importa quão profunda seja a queda nas Bolsas.
Alguns dos titãs de Wall Street
que tiveram momentos de dificuldades durante o período de alta
sobreviveram para recuperar seu
prestígio agora, em meio à baixa.
As estratégias de alcance mundial,
no passado praticadas por George
Soros e John Meriwether, estão de
volta. Isso vale para os fundos que
investem em títulos problemáticos e em mercados emergentes e
para aqueles que apostam contra
o mercado acionário, vendendo a
descoberto. Apostar contra o dólar deu resultado para muitos.
Outros apostaram contra as ações
usando contratos futuros e comprando títulos.
O sucesso vem atraindo bilhões
de dólares aos fundos de hedge,
grupos de investimento que operam de maneira bastante sigilosa
e sob regulamentação tímida.
Atraem os ricos e, cada vez mais, a
classe média alta, bem como os
fundos de bolsas universitárias,
fundos de pensão e fundações. Os
ativos do setor subiram de US$
480 bilhões para US$ 563 bilhões
no ano passado. Acredita-se que o
ritmo seja semelhante neste ano.
"Um dos grandes desafios dos
fundos de hedge é que eles se tornaram uma parte convencional
do mercado", escreveu Lewis
Moore Bacon, presidente da
Moore Capital Management, uma
das maiores corretoras de fundos
de hedge, em carta enviada aos
seus investidores em maio. "O
grande número de fundos criados
recentemente dá motivo para
cautela", disse, acrescentando que
os investidores estavam sendo
conduzidos aos fundos pela
"mesma desconfiança quanto às
instituições que me conduziu às
operações especulativas, como
proteção contra as incertezas dos
EUA pré-Reagan".
Alguns analistas sugerem que a
proliferação de fundos contribuiu
para a recente instabilidade do
mercado, porque se espera que
esses fundos encontrem maneiras
de ganhar dinheiro, não importa
o ambiente. Mas as pessoas do setor respondem que os fundos mútuos -um setor muito maior-
estão sob pressão de venda, porque os investidores podem retirar
dinheiro a qualquer dia, em lugar
de uma vez por trimestre ou por
ano, como nas regras da maior
parte dos fundos de hedge.
Em teoria, o objetivo dos fundos
de hedge é reduzir riscos, porque
a abordagem clássica é adquirir
algumas ações e vender posições a
descoberto de outras, ou apostar
contra elas, portanto adquirindo
"proteção" (hedge) contra um declínio do mercado. Mas, na prática, os fundos de hedge cobrem
uma vasta gama de entidades, algumas adotando a abordagem
clássica e outras aumentando
enormemente os riscos, ao tomar
grandes quantias emprestadas ou
executar jogadas arriscadas. Alguns dos principais fundos, na era
da alta das Bolsas, adquiriram
montanhas de ações de tecnologia, mas não praticaram muito
hedge e entraram em colapso.
Velhos titãs
Soros e Meriwether fizeram
grandes apostas nos mercados
mundiais de câmbio, commodities, ações e títulos. Usaram dinheiro emprestado -em volume
considerável-, ainda que as táticas fossem bastante diferentes.
Do começo até a metade dos anos
90, os dois eram considerados titãs de Wall Street, mas pareciam
obsoletos ao final da década.
Afinal, quem gostaria de apostar nas flutuações da cotação do
dólar em relação ao baht tailandês
ou ao ringgit malasiano em 1999
quando se podia ganhar muito
mais dinheiro simplesmente
comprando ações da Cisco? Além
disso, investir via venda eletrônica é muito mais barato do que as
taxas cobradas pelos fundos de
hedge, no mínimo 1% ao ano e
20% de comissão sobre os lucros.
Mas, neste ano, alguns desses
administradores obtiveram lucros fazendo grandes apostas
contra o dólar. Um deles é John
Henry, o novo dono do time de
beisebol Boston Red Sox, que administra um fundo de US$ 1,4 bilhão, estruturado de maneira diferente de um fundo de hedge,
mas com algumas semelhanças.
O maior dos fundos de Henry
teve alta de 20% no primeiro semestre, enquanto o índice Standard & Poor's 500 caiu 13%. "Essa
devastação, essa espiral entorpecente de queda, é um ambiente
em que tendemos a nos sair bem",
disse Henry. "Mas me preocupo
com o que está acontecendo. Sou
americano. É desconcertante ver
esse declínio incansável."
Poucas administradoras de fundos de hedge se dispuseram a fazer comentários para esta reportagem, mas as informações sobre
seus retornos foram obtidas em
entrevistas com administradores
de fundos de hedge, investidores e
consultores, bem como em boletins trimestrais.
Alegria de poucos
Bruce Kovner, outro administrador de fundo de hedge que
aposta nas grandes tendências
econômicas, também estaria se
saindo bem, aparentemente. Sua
Caxton Associates, um dos maiores grupos de fundos de hedge do
mundo, exibia alta de 14%, depois
dos honorários, até maio.
Meriwether adota um estilo conhecido como investimento de
valor relativo, no qual ele faz
apostas quanto às diferenças de
preços de moedas semelhantes,
muitas vezes usando títulos. Seu
novo fundo aparentemente usa
US$ 10 em capital emprestado para cada US$ 1 em capital próprio.
A alavancagem é considerável,
ainda que a Long-Term Capital
Management tivesse o dobro desse nível de dívida quando entrou
em colapso. Diz-se que os retornos de Meriwether estariam entre
6% e 7% no primeiro semestre.
Soros, que agora tem papel menos ativo em seu império de investimentos, não vem exibindo
resultados tão brilhantes. Sua
Quantum Endowment, que administra US$ 7,4 bilhões e apresentou alta de 14% no ano passado, caiu 3% no primeiro semestre.
Tradução de Paulo Migliacci
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