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SAIA JUSTA
Membros do grupo criado pelo presidente dizem que país vive crise sem precedentes; Tarso Genro afirma que há "alarmismo"
Conselho de Lula faz críticas ao governo
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Após mais de três horas de reunião, o CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), órgão criado com apoio do
governo para buscar soluções para o crescimento do país, tornou-se ontem palco de duras críticas
ao próprio governo.
O conselho é formado por lideranças empresarias, sindicalistas
e ministros de Estado.
Na avaliação de empresários
que estiveram nesse encontro
-em palavras ditas durante a
reunião, ocorrida em São Paulo-, "falta ousadia ao governo".
E a equipe econômica perdeu o
"timing" ao deixar de reduzir de
forma mais ampla a taxa de juros.
Na semana passada, o governo
anunciou corte de 1,5 ponto percentual da taxa Selic, que passou
de 26% ao ano para 24,5% anuais.
"Crise sem precedentes"
"Estamos vivendo uma crise
que só se assemelha àquela vivida
em 1965", disse Eugênio Staub,
presidente do CDES e um dos primeiros empresários a apoiar publicamente o então candidato
Luiz Inácio Lula da Silva.
Em 1961, com a renúncia de Jânio Quadros e a deflagração de
uma crise sucessória, o apoio externo desapareceu, voltando em
1965. Na época, a inflação cedeu
com um rígido aperto fiscal.
"Estamos vivenciado uma crise
sem precedentes", disse Horacio
Lafer Piva, presidente da Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Essa crise se
instaurou "de forma rápida e violenta", segundo ele. Há chances,
afirmou, de que esse cenário atinja o desempenho do setor no primeiro trimestre de 2004.
"Pátios estão lotados, as prateleiras cheias e o comércio amargurado", afirmou Piva.
Para Luiz Carlos Delben Leite,
presidente da Abimaq, órgão que
representa o setor de máquinas,
"o governo perdeu o "timing" ao
deixar de reduzir os juros na última semana", disse no encontro.
"Agora, devemos criar formas de
fazer a economia respirar logo."
Representante do governo durante a reunião de ontem, Tarso
Genro, secretário de Desenvolvimento Econômico e Social, disse
não concordar que o atual cenário
seja um dos mais delicados que o
país já atravessou. E afirmou acreditar que o conselho é um canal
que possibilitará avanços ao país.
Para ele, o que existe, em parte, é
uma "imprensa fazendo alarmismo" com a atual situação.
Algumas propostas, na tentativa de reaquecer rapidamente a
demanda no mercado interno, foram discutidas ontem.
Eugênio Staub apresentou algumas propostas ao conselho que
poderiam "mudar em 30 ou 60
dias o astral da nossa economia".
Ele sugeriu: 1) correção dos salários pela inflação futura; 2) redução dos juros reais para 8% ao
ano, ainda em 2003, e para 5% em
2004; 3) redução do spread bancário a ser negociado com a Febraban, entidade dos bancos no país;
4) investimento em habitação.
Piva, da Fiesp, defendeu a intenção de Staub de formular um "pacote" que dê fôlego à economia "e
que possa movimentar o mercado" de forma imediata.
Polêmica
A questão da reposição de rendimentos pela inflação futura
causou polêmica. Sindicalistas ligados à Força Sindical foram contra. Staub, que saiu da reunião antes de seu final -por razões pessoais-, chegou a propor um modelo de correção da inflação passada. Ele teria dito que isso poderia ser pago aos poucos aos trabalhadores, segundo relatou um dos
integrantes do conselho. Nada foi
definido.
Luiz Marinho, presidente da
CUT (Central Única dos Trabalhadores), sugeriu um modelo de
empréstimo aos trabalhadores.
Aposentados poderiam pegar dinheiro -no valor máximo de sua
aposentadoria- com a Caixa
Econômica Federal. O valor seria
pago em 24 vezes, com juros ainda a serem definidos.
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