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São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 2003

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SAIA JUSTA

Membros do grupo criado pelo presidente dizem que país vive crise sem precedentes; Tarso Genro afirma que há "alarmismo"

Conselho de Lula faz críticas ao governo

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Após mais de três horas de reunião, o CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), órgão criado com apoio do governo para buscar soluções para o crescimento do país, tornou-se ontem palco de duras críticas ao próprio governo.
O conselho é formado por lideranças empresarias, sindicalistas e ministros de Estado.
Na avaliação de empresários que estiveram nesse encontro -em palavras ditas durante a reunião, ocorrida em São Paulo-, "falta ousadia ao governo". E a equipe econômica perdeu o "timing" ao deixar de reduzir de forma mais ampla a taxa de juros.
Na semana passada, o governo anunciou corte de 1,5 ponto percentual da taxa Selic, que passou de 26% ao ano para 24,5% anuais.

"Crise sem precedentes"
"Estamos vivendo uma crise que só se assemelha àquela vivida em 1965", disse Eugênio Staub, presidente do CDES e um dos primeiros empresários a apoiar publicamente o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva.
Em 1961, com a renúncia de Jânio Quadros e a deflagração de uma crise sucessória, o apoio externo desapareceu, voltando em 1965. Na época, a inflação cedeu com um rígido aperto fiscal.
"Estamos vivenciado uma crise sem precedentes", disse Horacio Lafer Piva, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Essa crise se instaurou "de forma rápida e violenta", segundo ele. Há chances, afirmou, de que esse cenário atinja o desempenho do setor no primeiro trimestre de 2004.
"Pátios estão lotados, as prateleiras cheias e o comércio amargurado", afirmou Piva.
Para Luiz Carlos Delben Leite, presidente da Abimaq, órgão que representa o setor de máquinas, "o governo perdeu o "timing" ao deixar de reduzir os juros na última semana", disse no encontro. "Agora, devemos criar formas de fazer a economia respirar logo."
Representante do governo durante a reunião de ontem, Tarso Genro, secretário de Desenvolvimento Econômico e Social, disse não concordar que o atual cenário seja um dos mais delicados que o país já atravessou. E afirmou acreditar que o conselho é um canal que possibilitará avanços ao país.
Para ele, o que existe, em parte, é uma "imprensa fazendo alarmismo" com a atual situação.
Algumas propostas, na tentativa de reaquecer rapidamente a demanda no mercado interno, foram discutidas ontem.
Eugênio Staub apresentou algumas propostas ao conselho que poderiam "mudar em 30 ou 60 dias o astral da nossa economia". Ele sugeriu: 1) correção dos salários pela inflação futura; 2) redução dos juros reais para 8% ao ano, ainda em 2003, e para 5% em 2004; 3) redução do spread bancário a ser negociado com a Febraban, entidade dos bancos no país; 4) investimento em habitação.
Piva, da Fiesp, defendeu a intenção de Staub de formular um "pacote" que dê fôlego à economia "e que possa movimentar o mercado" de forma imediata.

Polêmica
A questão da reposição de rendimentos pela inflação futura causou polêmica. Sindicalistas ligados à Força Sindical foram contra. Staub, que saiu da reunião antes de seu final -por razões pessoais-, chegou a propor um modelo de correção da inflação passada. Ele teria dito que isso poderia ser pago aos poucos aos trabalhadores, segundo relatou um dos integrantes do conselho. Nada foi definido.
Luiz Marinho, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), sugeriu um modelo de empréstimo aos trabalhadores. Aposentados poderiam pegar dinheiro -no valor máximo de sua aposentadoria- com a Caixa Econômica Federal. O valor seria pago em 24 vezes, com juros ainda a serem definidos.


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