São Paulo, quinta-feira, 29 de julho de 2004

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PÚBLICO E PRIVADO

Depois de ser consultado por Meirelles, novo diretor previu a clientes privados a queda de Candiota

Relatório de banco antecipa troca no BC

Jamil Bittar/Reuters
Luiz Augusto Candiota, que deixa a Diretoria de Política Monetária do Banco Central


LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na segunda-feira, o então economista-chefe do CSFB Garantia, Rodrigo Azevedo, assinou um boletim distribuído aos clientes do banco apostando no aumento das pressões políticas para que o diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz Augusto Candiota, fosse substituído.
O que o texto apresentava como uma avaliação do cenário era, na verdade, uma certeza, segundo a Folha apurou. Um dia antes, Azevedo recebera um telefonema do presidente do BC, Henrique Meirelles. Soube que substituiria Candiota no cargo. Na segunda-feira à tarde, em Brasília, o convite foi feito formalmente.
Ontem, tudo se tornou oficial. Meirelles anunciou pela manhã a saída de Candiota, cinco dias depois de a revista "IstoÉ" ter publicado reportagem segundo a qual Candiota é suspeito de sonegação de impostos e evasão de divisas.
Meirelles, também citado na reportagem como suspeito de irregularidades fiscais, voltou a negar as acusações e afirmou que não pretende se afastar da presidência da instituição. O anúncio, feito pela manhã, começou com a indicação de Azevedo para a Diretoria de Política Monetária.
No boletim do CSFB Garantia, esse desenrolar já estava previsto. Escrito em inglês, o texto avaliava que a reportagem publicada pela "IstoÉ" não era "importante o bastante" para levar a uma substituição ou pedido de demissão de Meirelles. "No entanto nós acreditamos que a reportagem possa provocar um aumento das pressões políticas para a substituição de Candiota."
Azevedo acrescentava: "Se Candiota sair, nós acreditamos que o presidente Meirelles, o ministro da Fazenda, [Antonio] Palocci, e o presidente [Luiz Inácio] Lula [da Silva] estariam inclinados a substituí-lo por alguém que apóie totalmente a orientação atual da política econômica".
O relatório avaliava que o episódio não iria ameaçar a posição do BC na condução da política monetária nem a orientação "geral da política econômica desta administração".
O interesse de Meirelles para que Rodrigo Azevedo ocupasse o cargo de diretor no BC não era novo, segundo a Folha apurou. Em meados de agosto do ano passado, quando o então diretor de Assuntos Internacionais do BC, Beny Parnes, comunicou a seus superiores que iria deixar o banco, Meirelles procurou o economista Alexandre Schwartsman (Unibanco) e Azevedo pensando na substituição de Parnes.
A preferência maior de Meirelles era por Azevedo, que não aceitou o convite. Schwartsman, então, acabou sendo escolhido.
Por meio de sua assessoria, o BC informou que não faria comentários sobre o relatório de Azevedo, por ser texto de banco privado.
Segundo reportagem publicada na sexta-feira pela revista "IstoÉ", Candiota deixou de declarar à Receita Federal a existência de duas contas abertas por ele em bancos dos Estados Unidos. Por uma das contas, mantida no MTB Bank de Nova York, teria passado US$ 1,291 milhão entre 1999 e 2002.
No dia em que a reportagem foi publicada, Candiota estava no escritório do BC em São Paulo. Foi então chamado de volta à Brasília, onde falou com Meirelles. No final daquele dia, divulgou nota negando as acusações.
No domingo, foi divulgada outra nota, com explicações mais detalhadas para as supostas irregularidades. Diante da repercussão negativa, os demais diretores do BC foram informados, na terça-feira, sobre sua saída.
Azevedo, de perfil conservador, é doutor em economia pela Universidade de Illinois. Seu nome precisa ser aprovado pelo Senado.

Colaborou Ney Hayashi da Cruz, da Sucursal de Brasília


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