São Paulo, sábado, 29 de julho de 2006

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Doha só será retomada em alguns meses, dizem EUA

Sergio Moraes/Reuters
A americana Susan Schwab e o chanceler brasileiro, Celso Amorin, brincam antes de entrevista do hotel Copacabana Palace


Representante americana está no Rio para debater rodada comercial com Amorim

País deve rever programa de tarifas menores de importações de nações em desenvolvimento, do qual o Brasil é beneficiário

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Diante do fracasso da Rodada Doha, a representante de comércio dos EUA, Susan Schwab, disse ontem no Rio que são necessários, ao menos, seis meses para destravar as negociações para a liberalização comercial, suspensas nesta semana. Se forem retomadas no máximo até o início de 2007, ela estima que sua conclusão se dará em "um ou dois anos".
Para Schwab, que chegou ontem ao Brasil e se reúne novamente hoje com o chanceler Celso Amorim, não faz sentido reabrir negociações formais no âmbito da OMC agora logo após o fracasso das tratativas que buscam reduzir tarifas e subsídios no comércio global, iniciadas em novembro de 2001 em Doha (Qatar).
Ainda assim, a representante comercial (cargo correspondente ao de ministro) dos EUA disse estar fazendo contatos com diversos países a fim de obter consenso sobre três temas: acesso a mercados (indústria e serviços), tarifas e subsídios (especialmente agrícolas).
A embaixadora disse já ter feito contato com negociadores de alto nível de Malásia, Índia, Nova Zelândia, Canadá, Hong Kong, Austrália e Indonésia depois do fracasso da reunião de Genebra. Pessoalmente, o primeiro país a ser visitado por ela é o Brasil, líder do G20, grupo de nações em desenvolvimento junto com a Índia.
Schwab traçou cenários para a Rodada Doha. Num desfecho mais pessimista, ela não descarta que a rodada se encerre sem um acordo. Ela recorda, porém, que a rodada da OMC anterior, a do Uruguai, ficou três anos paralisada antes de ser retomada e concluída com relativo êxito.

Corrida contra o tempo
No caso de Doha, entretanto, há o agravante de que o "fast track", autorização prévia do Congresso dos EUA que concede aval ao Executivo para negociar acordos comerciais que depois são aprovados em votação única pelo Legislativo -não artigo por artigo-, vence na metade de 2007. Um esboço do acordo precisa ser apresentado ao Legislativo dos EUA 90 dias antes do fim do mecanismo. "Estamos lutando contra o relógio", afirmou Schwab.
E ela sabe das dificuldades de chegar a um consenso. A posição dos EUA, diz, é atingir o acordo mais amplo possível, envolvendo um maior grau de acesso a mercados agrícolas, industrial e de serviços, em contrapartida ao fim de subsídios.

Brasil na mira
Susan Schwab comentou ainda a pressão de setores do Congresso americano e do Partido Republicano para reduzir o programa que estabelece tarifas de importação menores para países desenvolvidos, do qual o Brasil é um dos principais beneficiários.
Segundo a representante de comércio, o programa tem de sofrer alterações com o objetivo de impedir que países mais desenvolvidos não tomem espaço de nações com menor nível de desenvolvimento -o que, em tese, é ruim para o Brasil, se a idéia se concretizar.
"Índia Brasil e Tailândia são os principais beneficiários. O que queremos é que os mais desenvolvidos não firam os menos desenvolvidos nessa equação [repartição dos subsídios]. Pretendemos trabalhar com o Congresso para renovar e estender o programa", disse Schwab, indicando ainda que não diretamente que pode haver alguma regra restritiva a esses países no programa de preferências comerciais.
No ano passado, os EUA importaram US$ 27 bilhões de países em desenvolvimento por meio do programa. Desse total, 1/3 teve como origem Brasil, Índia e Tailândia.


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