São Paulo, quarta, 29 de julho de 1998

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PREÇOS
Fipe projeta taxa anual de 1,37% após deflação de 0,39% na última quadrissemana; nos EUA, índice é de 1,70%
Inflação já é mais baixa que nos EUA

da Redação

Pela primeira vez na história, um índice de inflação anual no Brasil vai ficar, neste mês, abaixo do norte-americano.
Em julho, a taxa dos últimos 12 meses projetada pela Fipe é de 1,37%. Nos Estados Unidos, o Índice de Preços ao Consumidor no mês passado ficou em 1,70%.
São os dois números mais observados nos dois países e, por isso, são comparáveis, embora as circunscrições sejam distintas: o índice dos EUA é nacional e a Fipe limita-se à cidade de São Paulo.
A previsão da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) foi feita ontem após ter sido apurada deflação de 0,39% na terceira quadrissemana do mês. (Quadrissemana é o período de quatro semanas consecutivas que não coincide necessariamente com o mês do calendário.)
Trata-se da maior queda média de preços desde setembro do ano passado, quando foi registrado recuo de 0,58%.
Com o resultado deste mês, a inflação brasileira se aproxima também do índice anual da Alemanha, que está em 1,20%.
A Alemanha e os Estados Unidos são duas economias que tratam o combate à inflação de maneira obsessiva. O Bundesbank e o Fed, bancos centrais respectivos, ameaçam com alta de juros ao menor sinal de pressão inflacionária.

Queda inesperada
Com o resultado da última quadrissemana, a deflação neste mês deverá ser de 0,40%, duas vezes mais forte do que a prevista no início do mês por Heron do Carmo, coordenador do IPC (Índice de Preços ao Consumidor).
A taxa de 12 meses até julho, se confirmada a previsão da Fipe, será a menor desde outubro de 1949, quando houve deflação de 0,50%. A queda em relação ao 1,87% até junho deverá ser de meio ponto.
A Fipe trabalha com a perspectiva de que a inflação vai continuar nos próximos dois meses. A tendência deverá até ser intensificada pela redução dos preços dos combustíveis, que praticamente não terá impacto nos preços neste mês. O novo preço de diesel, por exemplo, entra em vigor hoje, três dias antes do fim do mês.
Se a previsão de 2% para 1998 for confirmada, será a menor da história da Fipe num ano completo.
A inflação muito baixa é sinal de estabilidade. Mas a deflação, quando registrada por períodos mais prolongados, costuma estar associada à recessão.

Queda generalizada
Os alimentos foram novamente os responsáveis pela queda do índice de preços na terceira quadrissemana, apresentando queda generalizada. Foi registrada retração de 1,13%. Na quadrissemana anterior, a queda havia sido de 1,06%.
Os alimentos semi-elaborados recuaram 1,28%, puxados pela queda de 17,25% do feijão. As carnes também estão em queda, e o arroz já começa a subir menos.
Os preços dos produtos "in natura" apresentaram retração de 2,76%, queda menor em relação à registrada na quadrissemana anterior (-3,27%).
O grupo habitação também contribuiu para a queda do índice geral. Na terceira quadrissemana, apresentou queda de 0,13%. Os aparelhos eletroeletrônicos, que estavam subindo desde maio, recuaram 1,14%. O aluguel registrou queda de 0,19%.
Os transportes recuaram 0,20%, levados pela retração do custo da manutenção do veículo (-0,54%). Esse item inclui a gasolina e o álcool, que apresentaram retração de 0,30% e 2,27%.
Entre os demais grupos estão as despesas pessoais e os gastos com saúde, que caíram 0,11% e 0,26%, respectivamente.
A pressão de alta do vestuário continua caindo. Na quadrissemana, o aumento foi de 0,49%, contra 1,40% da anterior.
O grupo educação apresentou alta de 0,13%.
Em agosto, a deflação deve ser maior, principalmente pela pressão de queda do vestuário, devido às liquidações, e dos preços dos combustíveis. Mas a taxa acumulada em 12 meses poderá até subir, porque em agosto de 97 a deflação foi forte, chegando a 0,76%.


Colaborou Alessandra Kianek, da Redação



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