São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 2002

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PIB EM TRANSE

Presidente do BC rebaixa previsão de crescimento; para mercado, PIB cresce 1,5%; previsão do Ipea é de 1,7%

Brasil vai crescer apenas 1,3%, diz Armínio

MARCIO AITH
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

O presidente do BC (Banco Central), Armínio Fraga, rebaixou sua previsão de crescimento da economia brasileira de 2% para 1,3%, com tolerância de 0,25 ponto percentual para cima ou para baixo.
A nova estimativa foi feita em Nova York na última terça-feira, durante encontro promovido pelo banco de investimentos Goldman Sachs do qual participaram 24 dos mais importantes analistas de mercado. É a terceira previsão oficial de crescimento da economia brasileira desde janeiro. Em 2001, o PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas no país) cresceu 1,5%.
Armínio exibiu aos analistas tabelas e gráficos indicando que o balanço de pagamentos e o fluxo de caixa do governo estão garantidos em 2002. Para 2003, Armínio disse que as condições também serão favoráveis, desde que o próximo governo adote políticas monetária e fiscal responsáveis e mantenha o programa com o FMI (Fundo Monetário Internacional), garantindo as receitas de US$ 24 bilhões prometidas pelo Fundo para o próximo governo.
"Analistas que estavam indecisos saíram do encontro com Fraga com um leve otimismo", disse à Folha o brasileiro Paulo Leme, vice-presidente do Goldman Sachs que organizou o encontro. "É verdade que Fraga rebaixou a previsão para o PIB, mas é admirável que a economia brasileira ainda vá crescer em 2002, levando em consideração o corte abrupto do crédito privado verificado nos últimos meses", disse Leme.
As previsões das consultorias e bancos brasileiros já apontavam para uma projeção de crescimento de cerca de 1,5% para este ano. Em julho, o relatório Focus, do BC, indicava que a média das previsões do mercado havia ficado em 1,9%. No final de agosto, a previsão baixou para 1,5% de crescimento em 2002.
O presidente do BC brasileiro, no entanto, parece ter adotado uma projeção mais conservadora e pessimista do que a de analistas do setor privado. Mesmo o Ipea, órgão de pesquisa ligado ao governo, prevê crescimento maior do que o projetado por Armínio. Segundo o Boletim de Conjuntura da entidade, divulgado ontem, prevê crescimento de 1,7%.
A projeção do Citibank, por exemplo, é de crescimento de 1,5%, ante os 1,8% projetados anteriormente. O economista-chefe do banco, Carlos Kawall, diz que a deterioração do cenário econômico e as altas taxas de juros, que retraem o crédito, levaram à reavaliação da taxa de crescimento prevista pelos economistas do Citibank para este ano.
"As taxas de juros futuro cederam um pouco, mas ainda estão muito altas", diz Kawall. Na avaliação do economista, as oscilações da taxa de câmbio também acabam contaminando as expectativas dos empresários, contribuindo para a redução dos investimentos e do nível de produção. "As expectativas sempre se deterioram um pouco por causa da instabilidade da taxa de câmbio", afirma o economista.
O crescimento deste ano deve ser "salvo", na avaliação de Armínio, pelo setor agrícola. Segundo o executivo da Goldman Sachs, Fraga explicou que há uma série de contrastes na economia brasileira e que, apesar de o setor industrial ter sido duramente golpeado pela falta de financiamento, o desempenho do setor agrícola tem sido excepcional. As projeções do Ipea são de que o PIB do setor agropecuário cresça 4,4% este ano, enquanto a indústria deve crescer apenas 0,4%.
Armínio disse ainda que a equipe econômica deverá levar a bancos europeus o mesmo apelo feito em Nova York para que o setor financeiro mantenha sua exposição geral ao Brasil. Depois disso, Armínio deverá reunir-se com representantes de bancos centrais e reguladores na Basiléia, na Suíça.
Na segunda-feira, dezesseis dos maiores bancos privados internacionais comprometeram-se a manter "o nível geral" de seus negócios no Brasil. Durante a reunião com analistas, um dia depois, Armínio disse que o governo brasileiro não quis formalizar um acordo com o bancos por acreditar que o envolvimento do setor privado deve ser o mais voluntário possível. Caso contrário os bancos terão receio de retomar suas operações no país.


Colaborou Marcelo Billi, da Reportagem Local


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