São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 2002

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LUÍS NASSIF

Os indicadores sociais

A ciência dos indicadores começa a penetrar em todos os setores da vida brasileira, mas apenas na vanguarda de cada um dos setores. Trata-se de um princípio básico de gestão, repetida por todos os propagadores dos programas de qualidade: toda ação tem de ser medida para ser avaliada.
Na área social, mais do que nunca há necessidade do uso de indicadores, especialmente agora que as grandes corporações começam a investir pesadamente no marketing social. Os indicadores são necessários como prestação de contas, para avaliar as ações, reprogramar, buscar resultados, dar credibilidade às organizações e, dentro de alguns anos, será ferramenta fundamental para a captação de recursos no mercado.
Mas a criação e o uso de indicadores adequados é ciência que precisa ser desenvolvida gradativamente. Experiência interessante de criação de indicadores sociais tem sido desenvolvida na Associação Comunitária Brasileira, uma entidade fundada em 1967 por empresários, que movimentou orçamento de R$ 5 milhões neste ano.
Sua ação é na área da educação de primeiro e segundo graus, com formação voltada para o trabalho profissional dos alunos. Há algum tempo, assumiu a direção Paulo Sérgio Bravo de Souza, executivo aposentado do mercado financeiro e que resolveu trazer sua experiência para a área. A necessidade de indicadores foi identificada rapidamente.
A montagem dos indicadores passa pelas seguintes etapas prévias:
Clara definição da missão de organização e do programa de ação social;
Traduzir a missão em objetivos e metas operacionais gerenciáveis;
Definir um conjunto de indicadores qualitativos e quantitativos capazes de mensurar o impacto social da organização (o que muda na vida das pessoas);
Sistema de coleta e processamento das informações de forma a permitir o monitoramento dos indicadores e a avaliação dos resultados.
Sob a orientação da professora Maria Cecília Roxo Nobre Barreira, da PUC-SP, formada em Pittsburgh (centro de excelência na construção de indicadores sociais), criou-se o Samis (Sistema de Avaliação de Mudanças e Impactos Sociais), com 15 indicadores.
Os indicadores foram subdivididos em cinco áreas: a) sucesso no projeto Primeiras Letras, que atende crianças dos quatro aos seis anos; b) sucesso no projeto Crê-Ser, dos sete aos 14 anos; c) melhoria nas condições de saúde; d) desenvolvimento, sociabilidade e cidadania; e) mudança de condição e status social. A medição será feita em seis comunidades atendidas pelos projetos do grupo.
Em relação ao primeiro item foram definidos quatro indicadores: 1) percentual de crianças matriculadas na escola; 2) evolução das notas e conceitos escolares da criança, comparando a criança com ela; 3) comparativo com outras crianças da mesma escola e classe, buscando como meta um desempenho melhor; 4) comparativo da defasagem idade versus série, com pesquisa regular do MEC Estado por Estado.
No segundo item foram definidos três indicadores: 1) porcentagem de crianças com conceito "ótimo" e "bom" nos eixos educativos "Aprender a Conhecer" e "Aprender a Ser"; 2) tempo médio de permanência no Crê-Ser (a meta são sete anos, para combater a evasão escolar); 3) índice médio de evasão anual do Crê-Ser, separando evasão administrável (desemprego do pai ou da mãe) da não-administrável (mudança de cidade).
A melhoria das condições de saúde mereceu cinco indicadores: 1) porcentagem de crianças com acompanhamento médico; 2) porcentagem de crianças com acompanhamento odontológico; 3) evolução das crianças na curva idade versus peso versus altura; 4) porcentagem de problemas de saúde com encaminhamento; 5) frequência de casos de uso de drogas.
No item Desenvolvimento da Sociabilidade e Cidadania, o indicador utilizado é o de porcentagem de crianças com conceito "ótimo" e "bom" nos eixos educativos. No item Mudança de Condição e Status Social, o indicador usado é a porcentagem de meninos que ingressam no programa de Iniciação ao Trabalho ou no ensino médio.
São indicadores desse tipo que precisam ser disseminados não apenas pela área social, mas por toda entidade que se submeta aos sadios preceitos da transparência pública.

E-mail - lnassif@uol.com.br


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