São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 2002

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CONJUNTURA

Instituto ligado ao governo federal prevê dólar a R$ 2,77 no final do ano

Economia cresceu só 0,6% no semestre, estima Ipea

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

As previsões do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) relativas aos principais indicadores de desempenho da economia brasileira este ano pioraram em relação às que o órgão, subordinado ao Ministério do Planejamento, havia feito em abril.
Para o PIB no primeiro semestre, a ser divulgado amanhã pelo IBGE, o Ipea prevê crescimento de 0,6%.
Segundo o "Boletim de Conjuntura" de julho, divulgado ontem, o PIB (Produto Interno Bruto), a soma dos bens e serviços produzidos em um determinado período, crescerá 1,7% e não 2%; a taxa de desemprego média do ano será de 7,2%, e não de 6,4%; e a inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, índice oficial de inflação) alcançará 6,6%, e não os 5,2% da previsão anterior. Para 2003, a previsão é de crescimento econômico de 3,2% e não mais de 3,6%, como foi previsto em abril.
O órgão avalia que o câmbio chegará ao fim do ano em R$ 2,77 por um dólar, contra uma previsão anterior de R$ 2,52, e que os investimentos externos no país ficarão em US$ 17 bilhões este ano, e não em US$ 18 bilhões. A taxa de investimentos, para a qual o Ipea previa um crescimento de 0,8%, agora deverá ser de 0,5%.
"Estamos vivendo os efeitos da instabilidade financeira. As incertezas ligadas ao processo eleitoral e a alguns choques, como a alta dos preços dos combustíveis em abril, que interrompeu a queda dos juros, tudo isso compõe um quadro de incerteza no mercado financeiro que acaba vazando para o lado real da economia", disse Paulo Levy, coordenador do Grupo de Acompanhamento Conjuntural do Ipea.
Para Levy, o fato de a previsão para o crescimento do PIB ainda ser maior que a de 1,3% feita pelo Banco Central "está dentro da margem de erro" e não reflete diferença na análise geral do quadro econômico.

Setor externo
Embora o dólar tenha fechado ontem cotado a R$ 3,12, o Ipea avalia que, passadas as eleições, as incertezas irão se acalmar e haverá espaço para a queda de cotação da moeda norte-americana, justificando a previsão de fechamento do ano em R$ 2,77.
O novo quadro permitiria também que a taxa básica de juros, hoje em 18%, caísse para uma média de 17,3% no último trimestre e para 17,7% na média do ano.
Segundo Levy, a expectativa de melhoria do quadro econômico após as eleições independe de quem venha a ser eleito presidente da República.
O Ipea avalia que a valorização do real em relação ao dólar não afetará adicionalmente o desempenho da balança comercial (exportações menos importações), que fechará o ano com superávit de US$ 7,7 bilhões (US$ 5,3 bilhões na previsão de abril).
Graças ao bom desempenho da balança comercial, o déficit nas contas externas do país será de US$ 17,2 bilhões, e não mais de US$ 20,3 bilhões.

Impostos ou cortes
Para o período a partir de 2003, o Ipea avalia que a taxa de crescimento econômico será influenciada pelo modelo de poupança pública (superávit primário) adotado pelo novo governo.
Se for por meio de um aumento de impostos, o crescimento será maior nos primeiros anos e cairá depois, porque a escolha comprometeria a capacidade de investimento do setor privado.
Se o aumento da poupança for por meio de corte de gastos, a redução de investimentos do governo prejudicará o crescimento nos primeiros anos, mas o setor privado terá mais dinheiro para investir e o crescimento será maior a partir de 2006.


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