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São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 2003

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FUNDO DO POÇO

Mercado interno enfraquece com queda no consumo das famílias, nos investimentos e nos gastos do governo

PIB interno cai pela 8ª vez e encolhe 7%

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado interno encolheu pelo oitavo trimestre consecutivo, ao registrar queda de 7%, de abril a junho deste ano, em relação ao segundo trimestre do ano passado, segundo estudo da consultoria Tendências. O tombo tem sido sistemático, mesmo nos trimestres em que o PIB (Produto Interno Bruto) mostrou crescimento.
O que está enfraquecendo o mercado interno é a queda do consumo das famílias, dos investimentos das empresas e dos gastos do governo. Os três itens compõem o que os economistas chamam de "absorção interna" -a parte da riqueza produzida no país consumida internamente.
A queda sistemática desse indicador é um sintoma do empobrecimento do país. "A vida dos brasileiros piorou, e muito, desde o terceiro trimestre de 2001, quando a "absorção interna" começou a cair por conta da crise energética. Eles estão consumindo menos", diz Juan Jensen, economista da Tendências.
No segundo trimestre deste ano, o consumo das famílias sofreu o maior tombo da história, de 7,1%, em relação ao segundo trimestre do ano passado. Os investimentos minguaram (queda de 9%) e o consumo do governo teve um aumento marginal de 0,8%.
Com o freio puxado do lado interno, o PIB vem sendo alimentado pelo setor externo. É o crescimento da "absorção externa" -resultado das exportações menos importações- que sustenta a economia desde o ano passado.
No segundo trimestre deste ano, o PIB não caiu mais, em relação ao segundo trimestre de 2002, graças à performance do setor externo. As exportações cresceram 30,1% e as importações recuaram 6%. "O PIB teria caído 7% em relação ao segundo trimestre do ano passado se não fosse o setor externo", diz Jensen.
Para alguns analistas, os bons resultados obtidos no comércio exterior e o encolhimento do mercado interno são faces da mesma moeda. Ambos decorrem do ajuste que o país teve de fazer desde 2001 para reduzir o déficit em transações correntes (que contabiliza o resultado de todas as transações com o exterior).
"Quando um país faz um ajuste forte, como o Brasil fez, é razoável que o mercado interno encolha", diz Francisco Faria, economista da LCA Consultoria.

Virada
Para os economistas, a deterioração do mercado interno já começa a se inverter. "Os dados do IBGE mostram o comportamento da economia até junho. De lá para cá já há indicadores de que a virada está começando", diz Jensen.
O economista destaca que o desemprego caiu por dois meses consecutivos, a inadimplência está menor e algumas categorias profissionais começam a ter ganhos nominais de salários. "Com a inflação baixa, qualquer reajuste nominal vira ganho real e estimula o consumo", diz Jensen.
Todos esses fatores, aliados à queda dos juros, deverão impulsionar a retomada da economia nos próximos meses. Para Farias, o consumo das famílias deverá aumentar no terceiro trimestre e puxar a produção e os investimentos em 2004. "A retomada do crescimento virá pelo consumo interno, mas isso não significa que o setor externo irá encolher."
As projeções da Tendências apontam uma contribuição menor do setor externo para o crescimento do PIB em 2004. Alguns segmentos, como siderurgia e agropecuária, estão no limite de sua capacidade de expansão.
A LCA também projeta uma desaceleração do setor externo. O saldo da balança comercial, estimado em US$ 18,4 bilhões neste ano, deverá recuar para US$ 16,5 bilhões no ano que vem.
Segundo as duas consultorias, o que deverá puxar a economia daqui para a frente será o mercado interno. A Tendências projeta um crescimento de 3,8% da "absorção interna" no ano que vem, impulsionado principalmente pelo aumento do consumo das famílias. Essa recuperação deverá sustentar um crescimento do PIB estimado em 2,8% para 2004.
Segundo Jensen, o investimento das empresas, outro componente da "absorção interna", deverá demorar de seis meses a um ano para ser retomado. "Há muita capacidade ociosa na indústria, e é possível expandir a produção para atender à retomada do consumo sem novos investimentos."


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