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FUNDO DO POÇO
Mercado interno enfraquece com queda no consumo das famílias, nos investimentos e nos gastos do governo
PIB interno cai pela 8ª vez e encolhe 7%
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O mercado interno encolheu
pelo oitavo trimestre consecutivo,
ao registrar queda de 7%, de abril
a junho deste ano, em relação ao
segundo trimestre do ano passado, segundo estudo da consultoria Tendências. O tombo tem sido
sistemático, mesmo nos trimestres em que o PIB (Produto Interno Bruto) mostrou crescimento.
O que está enfraquecendo o
mercado interno é a queda do
consumo das famílias, dos investimentos das empresas e dos gastos do governo. Os três itens compõem o que os economistas chamam de "absorção interna" -a
parte da riqueza produzida no
país consumida internamente.
A queda sistemática desse indicador é um sintoma do empobrecimento do país. "A vida dos brasileiros piorou, e muito, desde o
terceiro trimestre de 2001, quando a "absorção interna" começou a
cair por conta da crise energética.
Eles estão consumindo menos",
diz Juan Jensen, economista da
Tendências.
No segundo trimestre deste
ano, o consumo das famílias sofreu o maior tombo da história, de
7,1%, em relação ao segundo trimestre do ano passado. Os investimentos minguaram (queda de
9%) e o consumo do governo teve
um aumento marginal de 0,8%.
Com o freio puxado do lado interno, o PIB vem sendo alimentado pelo setor externo. É o crescimento da "absorção externa"
-resultado das exportações menos importações- que sustenta a
economia desde o ano passado.
No segundo trimestre deste
ano, o PIB não caiu mais, em relação ao segundo trimestre de 2002,
graças à performance do setor externo. As exportações cresceram
30,1% e as importações recuaram
6%. "O PIB teria caído 7% em relação ao segundo trimestre do
ano passado se não fosse o setor
externo", diz Jensen.
Para alguns analistas, os bons
resultados obtidos no comércio
exterior e o encolhimento do
mercado interno são faces da
mesma moeda. Ambos decorrem
do ajuste que o país teve de fazer
desde 2001 para reduzir o déficit
em transações correntes (que
contabiliza o resultado de todas as
transações com o exterior).
"Quando um país faz um ajuste
forte, como o Brasil fez, é razoável
que o mercado interno encolha",
diz Francisco Faria, economista
da LCA Consultoria.
Virada
Para os economistas, a deterioração do mercado interno já começa a se inverter. "Os dados do
IBGE mostram o comportamento
da economia até junho. De lá para
cá já há indicadores de que a virada está começando", diz Jensen.
O economista destaca que o desemprego caiu por dois meses
consecutivos, a inadimplência está menor e algumas categorias
profissionais começam a ter ganhos nominais de salários. "Com
a inflação baixa, qualquer reajuste
nominal vira ganho real e estimula o consumo", diz Jensen.
Todos esses fatores, aliados à
queda dos juros, deverão impulsionar a retomada da economia
nos próximos meses. Para Farias,
o consumo das famílias deverá
aumentar no terceiro trimestre e
puxar a produção e os investimentos em 2004. "A retomada do
crescimento virá pelo consumo
interno, mas isso não significa
que o setor externo irá encolher."
As projeções da Tendências
apontam uma contribuição menor do setor externo para o crescimento do PIB em 2004. Alguns
segmentos, como siderurgia e
agropecuária, estão no limite de
sua capacidade de expansão.
A LCA também projeta uma desaceleração do setor externo. O
saldo da balança comercial, estimado em US$ 18,4 bilhões neste
ano, deverá recuar para US$ 16,5
bilhões no ano que vem.
Segundo as duas consultorias, o
que deverá puxar a economia daqui para a frente será o mercado
interno. A Tendências projeta um
crescimento de 3,8% da "absorção interna" no ano que vem, impulsionado principalmente pelo
aumento do consumo das famílias. Essa recuperação deverá sustentar um crescimento do PIB estimado em 2,8% para 2004.
Segundo Jensen, o investimento
das empresas, outro componente
da "absorção interna", deverá demorar de seis meses a um ano para ser retomado. "Há muita capacidade ociosa na indústria, e é
possível expandir a produção para atender à retomada do consumo sem novos investimentos."
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