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Consumo familiar tem queda de 4%
LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL
JULIANA RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
O consumo das famílias no segundo trimestre deste ano teve
uma retração de 4% em comparação com o primeiro trimestre, segundo divulgou ontem o IBGE. A
diminuição é resultado do desemprego alto e das sucessivas quedas
da renda do trabalhador.
Em relação ao segundo trimestre de 2002, a queda no consumo
entre abril e junho foi de 7,1%. O
que é recorde para o IBGE, que
possui no seu banco de dados levantamentos sobre o assunto desde 1991.
Para especialistas em economia,
psiquiatria e finanças pessoas, as
consequências da retração no
consumo geralmente são muito
ruins. Há um aumento de depressões, o que leva muita gente a desistir de procurar emprego.
Por outro lado, existe uma busca por bens não-materiais, como
o contato com amigos. O que pode trazer benefícios à sociabilidade das pessoas.
Depressões
O psiquiatra José Del-Fraro afirmou que 10% de seus pacientes
atuais têm problemas com dívidas. Cerca de 3% possuem débitos acima de R$ 200 mil. "A busca
por tratamento no meu consultório tem crescido muito, mas pouca gente possui condições de pagar os R$ 100 a R$ 150 que cobro
por sessão", disse Del-Fraro.
Ele afirmou que o número de
pessoas que buscam soluções mágicas para seus problemas, como
ganhar nos bingos, cresceu muito. O que acaba em vício. Várias
entidades de auxílio a essas pessoas têm sido abertas em diversas
cidades do país.
O consumo de antidepressivos
também cresceu. "Mas eles apenas reequilibram os neurotransmissores. Não representam a solução para os pacientes", disse
Del-Fraro.
Segundo ele, muitas pessoas entram em depressão com as dificuldades econômicas porque a
sociedade brasileira é capitalista e
valoriza o sucesso profissional e a
aquisição de bens.
"Quem não tem uma visão crítica do mundo que vive ou possui
uma psique mais frágil tem maior
propensão a entrar em depressão", afirmou Del-Fraro.
Para o economista Eduardo
Giannetti da Fonseca, a redução
na renda familiar leva inevitavelmente a conflitos familiares. "Os
membros da família precisam decidir o que cortar nos gastos para
se adequarem ao novo orçamento. O que leva a conflitos. Se não
fizerem isso rápido, os conflitos
serão piores, pois a família já estará endividada", disse Giannetti.
O economista afirmou, no entanto, que a falta de dinheiro pode
levar também as pessoas a visitarem os amigos, em vez de jantarem fora. Ou procurarem passatempos gratuitos.
"Esse é um lado positivo da crise", disse o economista. Na sua
opinião, as pessoas podem ficar
mais sociáveis e menos ligadas a
bens materiais.
Para Erasmo Vieira, administrador de empresas e especialista
em finanças pessoais, a retração
econômica pode ter um efeito
mais pesado nas pessoas pessimistas.
"Com as notícias ruins, os pessimistas tendem a desistir de procurar vagas. Os mais otimistas
mantêm a rede de contatos e têm
mais chances de arrumar um emprego", disse Vieira.
Segundo ele, o problema do endividamento começa a pesar na
avaliação que as empresas fazem
de candidatos para o preenchimento de vagas.
"As companhias começam a
consultar cadastros de inadimplentes antes de contratar. O dono de uma empresa não quer um
administrador que não soube cuidar das próprias contas pessoais",
disse Vieira.
Contenção
Salvador Werneck, economista
do Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), afirma que
a retração no consumo pode ser
também um sinal de que as pessoas deixaram de comprar porque previam que as taxas de juros
para financiamento iriam diminuir, como aconteceu de fato a
partir de julho.
"É natural que no cenário de retração econômica as famílias fiquem mais precavidas. O consumo dos supérfluos certamente
tem uma queda maior, já que a
prioridade é a alimentação, o
transporte e o vestuário", afirmou
Werneck.
O economista Marcelo Neri, da
FGV (Fundação Getúlio Vargas),
concorda. "Se existe uma expectativa de queda dos juros, é melhor
deixar o dinheiro aplicado do que
se endividar no crediário."
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