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São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 2003

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FUNDO DO POÇO

Planejamento admite que política econômica derrubou PIB, mas diz que ela vai permitir a volta do crescimento

Governo vê na crise caminho para retomada

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao mesmo tempo em que fez uma defesa da política econômica, o governo admitiu ontem que ela foi responsável pela queda do PIB no segundo trimestre. Deixa claro, porém, que foi essa política, com corte de gastos e juros altos, que permitirá a retomada do crescimento a partir de agora.
"A firmeza na condução da política econômica resultou em melhoria significativa de todos os fundamentos macroeconômicos, permitindo reversão gradual das políticas contracionistas desde junho último", afirma nota divulgada ontem pelo Ministério do Planejamento sobre o resultado do PIB. A expectativa, diz o documento, é um aumento da atividade econômica já neste trimestre.
O BC, por sua vez, nega que o país esteja em recessão. "Não se trata propriamente de um quadro recessivo na atividade econômica, uma vez que a desaceleração não é generalizada e algumas atividades importantes, como a agricultura e setores ligados à exportação, vêm apresentando elevadas taxas de crescimento", diz o BC, que fez sua análise antes dos dados divulgados ontem.
A afirmação consta na ata da mais recente reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), que reduziu os juros para 22% ao ano na semana passada. O documento foi divulgado pouco antes de o IBGE informar os dados do PIB do primeiro semestre.
A retração da economia no segundo trimestre foi maior do que a esperada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). A última projeção oficial do instituto, feita em junho, era uma queda de 0,9% do PIB no segundo trimestre em relação ao primeiro. A queda foi, na realidade, de 1,6%.
"Os resultados do PIB no segundo trimestre [...] refletem os ajustes monetário e fiscal que o governo foi obrigado a implementar para debelar os choques adversos ocorridos em 2002 e conter as expectativas inflacionárias dos agentes econômicos", reconhece a nota do Planejamento.
Para o BC, a queda dos juros ocorrida nos últimos meses deve fazer o país voltar a crescer, principalmente a partir do fim do ano.
Ontem, o presidente da instituição, Henrique Meirelles, defendeu, durante seminário em Brasília, a atual política econômica. "Governos devem se pautar por realismo, não por ideologia. Não vamos ceder à tentação fácil de repetir os erros do passado, o que poderia, por exemplo, trazer de volta a inflação", disse, em uma referência indireta às críticas de que o BC deveria reduzir os juros de forma mais acelerada.

Poder de compra
Para o Ministério do Planejamento, "políticas monetária e fiscal mais expansionistas [pró-crescimento] e inflação cadente começam a se fazer sentir pela elevação do poder de compra dos salários e aumento das vendas".
Ainda de acordo com o Planejamento, os estoques indesejados na indústria começaram a diminuir desde junho, e a produção de papelão ondulado para embalagem, importante indicador do nível de atividade econômica, cresceu 8% nas primeiras quatro semanas deste mês.


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