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São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 2003

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FUNDO DO POÇO

Ciclo baseado apenas no consumo tem fôlego curto, dizem economistas; regulação indefinida é criticada

Infra-estrutura pode sustentar crescimento

VINICIUS MOTA
DA REPORTAGEM LOCAL

A economia brasileira vai sair aos poucos do "fundo do poço", mas o fôlego dessa nova retomada pode ser curto. Para especialistas consultados pela Folha, um novo ciclo de investimentos em infra-estrutura (portos, rodovias, ferrovias, energia elétrica etc.) é a melhor alternativa para que, desta feita, o país vença a rotina dos "vôos de galinha".
A recuperação que se vislumbra se inicia pela via do consumo, estimulado pela redução do custo de tomar dinheiro emprestado.
Fábio Silveira, da MB Associados, explica a lógica desse movimento cíclico da economia brasileira: o orçamento familiar precisa comportar um gasto novo, por exemplo com uma parcela mensal referente ao financiamento da compra de um bem durável.
Francisco Pessoa Faria, da LCA, também afirma que o consumo liderará a recuperação do crescimento. Além dos juros e da inflação cadentes, cita outros fatores que podem estimular a demanda a partir deste semestre: o afrouxamento sazonal da política fiscal (o setor público brasileiro economizou mais do que a meta de superávit no começo do ano) e a redução de IPI para automóveis.

Fôlego para crescer
A incerteza é sobre a capacidade desse ciclo de crescimento de perdurar no tempo. Pequenos surtos de crescimento liderados pelo consumo e entremeados por períodos de estagnação têm marcado a economia brasileira nas últimas duas décadas.
Para vencer essa rotina, o investimento precisaria substituir o consumo como o fator a liderar o crescimento em algum ponto da trajetória de retomada.
Gastos com novas fábricas e equipamentos geram um fluxo de renda -por exemplo com o salário dos trabalhadores contratados para erguer uma nova unidade fabril. Além disso, também têm a capacidade de, após maturados, ampliar a capacidade de oferta de bens e serviços da economia.
Silveira e Faria convergem no diagnóstico de que um novo ciclo de inversões em infra-estrutura é a melhor opção de que o país dispõe para evitar que o novo crescimento tenha vida curta.
Investimentos pesados, que exigem a mobilização de grande volume de capital e cujo retorno só se pode dar num período dilatado de tempo, os dispêndios com nova infra-estrutura estão diretamente relacionados à política econômica. O Estado delimita as regras, inclusive a remuneração, de boa parte desses investimentos.
O governo federal já definiu que irá destinar R$ 191 bilhões do Orçamento para obras de infra-estrutura, de 2004 a 2007. A soma representa uma média de desembolso de 3,5% do PIB ao ano. É uma cifra considerada insuficiente para, sem que haja uma participação relevante de outras fontes de financiamento públicas e privadas, produzir grande impacto na economia como um todo.
A esse respeito, os dois economistas apontam na indefinição de regras para os investimentos em infra-estrutura o principal entrave a bloquear iniciativas privadas nesse terreno.


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