|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUNDO DO POÇO
Ciclo baseado apenas no consumo tem fôlego curto, dizem economistas; regulação indefinida é criticada
Infra-estrutura pode sustentar crescimento
VINICIUS MOTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A economia brasileira vai sair
aos poucos do "fundo do poço",
mas o fôlego dessa nova retomada
pode ser curto. Para especialistas
consultados pela Folha, um novo
ciclo de investimentos em infra-estrutura (portos, rodovias, ferrovias, energia elétrica etc.) é a melhor alternativa para que, desta
feita, o país vença a rotina dos
"vôos de galinha".
A recuperação que se vislumbra
se inicia pela via do consumo, estimulado pela redução do custo
de tomar dinheiro emprestado.
Fábio Silveira, da MB Associados, explica a lógica desse movimento cíclico da economia brasileira: o orçamento familiar precisa comportar um gasto novo, por
exemplo com uma parcela mensal referente ao financiamento da
compra de um bem durável.
Francisco Pessoa Faria, da LCA,
também afirma que o consumo liderará a recuperação do crescimento. Além dos juros e da inflação cadentes, cita outros fatores
que podem estimular a demanda
a partir deste semestre: o afrouxamento sazonal da política fiscal (o
setor público brasileiro economizou mais do que a meta de superávit no começo do ano) e a redução de IPI para automóveis.
Fôlego para crescer
A incerteza é sobre a capacidade
desse ciclo de crescimento de perdurar no tempo. Pequenos surtos
de crescimento liderados pelo
consumo e entremeados por períodos de estagnação têm marcado a economia brasileira nas últimas duas décadas.
Para vencer essa rotina, o investimento precisaria substituir o
consumo como o fator a liderar o
crescimento em algum ponto da
trajetória de retomada.
Gastos com novas fábricas e
equipamentos geram um fluxo de
renda -por exemplo com o salário dos trabalhadores contratados
para erguer uma nova unidade fabril. Além disso, também têm a
capacidade de, após maturados,
ampliar a capacidade de oferta de
bens e serviços da economia.
Silveira e Faria convergem no
diagnóstico de que um novo ciclo
de inversões em infra-estrutura é
a melhor opção de que o país dispõe para evitar que o novo crescimento tenha vida curta.
Investimentos pesados, que exigem a mobilização de grande volume de capital e cujo retorno só
se pode dar num período dilatado
de tempo, os dispêndios com nova infra-estrutura estão diretamente relacionados à política econômica. O Estado delimita as regras, inclusive a remuneração, de
boa parte desses investimentos.
O governo federal já definiu que
irá destinar R$ 191 bilhões do Orçamento para obras de infra-estrutura, de 2004 a 2007. A soma
representa uma média de desembolso de 3,5% do PIB ao ano. É
uma cifra considerada insuficiente para, sem que haja uma participação relevante de outras fontes
de financiamento públicas e privadas, produzir grande impacto
na economia como um todo.
A esse respeito, os dois economistas apontam na indefinição de
regras para os investimentos em
infra-estrutura o principal entrave a bloquear iniciativas privadas
nesse terreno.
Texto Anterior: Economia já mostra sinais de recuperação Próximo Texto: O pessimista: "Se houve reação, não vi", diz Klein Índice
|