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São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 2003

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O PESSIMISTA

"Se houve reação, não vi", diz Klein

DA REPORTAGEM LOCAL

Michael Klein, 53, diretor administrativo da Casas Bahia, uma das maiores redes de varejo do país, ainda não sentiu o gosto do espetáculo do crescimento, prometido pelo presidente Lula. "Se isso já começou, me passa o endereço", diz. A seguir, os principais trechos da entrevista com Klein.
(FÁTIMA FERNANDES)

Folha - A redução dos juros e do compulsório dos bancos teve algum efeito no consumo?
Michael Klein -
Essas medidas estão no caminho certo. Só que, até agora, não tiveram o impacto que gostaríamos. Falta o item mais importante: o aumento do emprego e da renda.

Folha - A Casas Bahia reduziu os juros para os consumidores?
Klein -
No mês passado, reduzimos a taxa máxima de juros de 6,9% para 5,9% ao mês e, para alguns produtos, esticamos os prazos de financiamento de 12 para 18 meses. Só que, nem por isso, as vendas cresceram.

Folha - Qual era sua expectativa?
Klein -
Esperávamos um acréscimo de 15% a 20% nas vendas. Infelizmente, isso não aconteceu até agora. O desemprego é alto e o consumidor está com muito medo de perder o emprego.

Folha - Qual será o desempenho da rede neste ano?
Klein -
Estamos vendendo um pouco mais do que no ano passado só porque abrimos 35 novas lojas. Se considerarmos os mesmos pontos, o faturamento é igual ao de 2002. Esperamos fechar este ano com um faturamento de R$ 5 bilhões, R$ 800 milhões a mais do que no ano passado. Estimamos um lucro líquido da ordem de R$ 60 milhões, R$ 10 milhões a mais do que o de 2002.

Folha - Apesar de o consumo estar fraco, a Casas Bahia vai faturar e lucrar mais neste ano?
Klein -
Nós só conseguimos crescer com o aumento no número de lojas. Não podemos esquecer também que, no segundo semestre do ano passado, o Brasil parou por causa das eleições.

Folha - Para a Casas Bahia, quando foi o fundo do poço das vendas?
Klein -
Foi o primeiro trimestre deste ano. No segundo trimestre o consumo foi melhor por causa do Dia das Mães, que sempre tem um efeito positivo nas vendas.

Folha - Quais os produtos mais procurados pelos consumidores neste ano?
Klein -
Telefones celulares e móveis. Desde maio, vendemos cerca de 200 mil telefones celulares por mês. No ano passado, comercializávamos a metade disso. Neste ano, a expectativa é vender 1,6 milhão de aparelhos. As vendas de móveis também estão 30% maiores do que as de 2002.

Folha - E os menos procurados?
Klein -
As vendas de televisores e refrigeradores já caíram 20% neste ano. Vendemos cerca de 70 mil TVs, 30 mil refrigeradores e 22 mil lavadoras de roupas por mês -menos do que no ano passado.

Folha - Qual a sua expectativa para o último trimestre deste ano?
Klein -
Se o consumidor tiver mais confiança na economia e achar que vai continuar empregado, ele pode voltar a comprar. Agora, se isso está longe ou não de acontecer, não tenho idéia. Em agosto, senti reação nas vendas por causa do Dia dos Pais. Depois, o consumo despencou de novo.

Folha - O espetáculo do crescimento já começou?
Klein -
Não. O que sinto é que as medidas tomadas pelo governo estão no caminho certo, mas o reflexo delas deve vir só mesmo a partir do ano que vem.


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