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LUÍS NASSIF
Sonetos e emendas
A propósito da réplica da
economista Eliana Cardoso (publicada na edição de
terça de "Valor") à minha coluna de sexta-feira passada, na
qual rebato sua tentativa (de
20 de agosto) de desqualificar
trabalho recente meu, inclusive
com insinuações de plágio:
1) Em sua primeira coluna, a
economista sustentava que no
Brasil qualquer desvalorização
seria comida pela inflação, enquanto em 2000 defendia que,
na Argentina, com a economia
plenamente dolarizada, não
havia risco de inflação inercial.
Sua resposta: "Argumento
que uma desvalorização real é
possível em presença de uma
política monetária restritiva.
Mas, onde preços correm atrás
do câmbio, a política monetária não é restritiva e a desvalorização real não se sustenta. Ao
leitor atento, as citações escolhidas pelo jornalista demonstram por si mesmas a substância e a coerência do pensamento que defendo".
Demonstram coisa nenhuma. Na coluna em questão
("Valor" de 20 de agosto), ela
diz: "No médio prazo, uma
desvalorização do câmbio poderia aumentar as exportações
e reduzir a vulnerabilidade da
economia. Mas, nesse círculo
vicioso em que juros, câmbio e
preços correm uns atrás dos
outros, uma desvalorização em
termos reais dificilmente se
sustentaria". Poderia ter incluído uma vírgula no final do
texto e acrescentado "a menos
que o Banco Central adote
uma política monetária restritiva". Não o fez. Agora, tenta
emendar o soneto.
2) Na minha coluna, sustento
que, ao defender um modelo de
câmbio apreciado, Eliana parte do pressuposto de que os fluxos financeiros internacionais
se normalizarão -o que contradiz o que dizia em 1998, que
o país deveria se preocupar
com a vulnerabilidade externa,
porque o modelo de capitais
abundantes estava esgotado.
O que diz ela: "Meu argumento se refere apenas ao aumento ou redução de entrada
de capitais em resposta a um
aumento da taxa de juros. Não
existe contradição entre a minha entrevista citada pelo jornalista (10/10/1998, sobre o custo do financiamento externo e
o esgotamento do modelo de
1992-97) e o argumento da coluna do último dia 20, que
mostra como a política monetária recente ajudou a coordenar expectativas e reduzir a taxa de inflação. O regime de
câmbio flexível e metas de inflação se opõe ao modelo de
câmbio rígido que se esgotou
em 1998".
No primeiro artigo, ela chama de "círculo vicioso" a proposta de desvalorizar câmbio e
reduzir a vulnerabilidade externa e trata como "virtuoso" o
modelo de apreciação do câmbio com a estabilização da inflação, porque sustenta que o
efeito positivo da entrada de
capital financeiro (aquele que
ela dizia ser caro e raro, após a
crise de 1998) superaria o da redução das exportações.
Encerro por aqui a discussão,
que, creio, tenha sido relevante
apenas para demonstrar a lógica por trás de afirmações peremptórias de economistas como Eliana Cardoso -e seria
apenas uma curiosidade, não
fosse o custo gigantesco que esse tipo de postura impôs a toda
uma nação.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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