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São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 2003

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Construção civil leva tombo maior

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar do desempenho medíocre do setor industrial no primeiro semestre deste ano, a construção civil sobressaiu de maneira mais negativa: foi o único subsetor da indústria a apresentar queda, de 6,5%, no acumulado do primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2002. O tombo da construção civil no segundo trimestre deste ano foi de 11,1% sobre igual trimestre ano passado.
Pelo levantamento do IBGE, o subsetor de serviços industriais de utilidade pública (2,2%), a indústria de extração mineral (1,9%) e mesmo a de transformação (0,8%) tiveram resultados positivos no semestre passado.
""A construção civil se alimenta de investimentos que todos os setores fazem no Brasil, seja governo, famílias, indústria ou comércio", argumenta Eduardo Zaidan, vice-presidente do Sinduscon-SP. ""Em época recessiva, como essa dos últimos anos, o primeiro item a desaparecer é o investimento, e o setor não cresce", completa.
A piora dos indicadores de desempenho é seguida pelo nível de emprego. De acordo com o Sinduscon-SP, de janeiro a maio (o dado mais recente) foram fechadas 17,27 mil vagas na construção civil somente em São Paulo. Segundo o Ministério do Trabalho, até o final de maio, o setor empregava (de maneira formal) 1,146 milhão de trabalhadores em todo o Brasil. Em 1997, último ano de crescimento do emprego nessa indústria, havia 1,215 milhão de trabalhadores formais.
A queda do PIB da construção civil no último semestre havia sido antecipada por uma série de indicadores de segmentos coligados. De janeiro a junho, segundo a Abinee (representa empresas de telefonia, energia e eletrônica), as vendas de material elétrico de instalação, usado em segmentos como habitação, recuaram 14%.
No mesmo período, a demanda por cimento caiu 10,4% sobre o primeiro semestre do ano passado, segundo o Snic (Sindicato Nacional da Indústria do Cimento).
""O consumo de cimento reflete apenas a queda da renda da população, que não tem como gastar em construção e reformas, e a falta de investimentos na construção civil, não apenas em edificação, mas em infra-estrutura. As obras no país de modo geral estão paradas", afirma José Otávio Carvalho, secretário-executivo do Snic.
Semelhante avaliação parte do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial). ""O declínio da construção civil reflete a falta de flexibilidade fiscal do governo. Faz falta uma política pública de habitação e saneamento", diz Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi.
O vice-presidente do Sinduscon-SP afirma que uma recuperação do setor, mesmo que ocorra aquecimento da economia no último trimestre do ano, somente seria perceptível a partir de meados de 2004. ""Confirmada uma melhora no último trimestre deste ano, o começo de 2004 vai servir para a economia como um todo formar alguma poupança. Somente então é que começam a maturar os projetos", diz Zaidan.


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