São Paulo, terça-feira, 29 de agosto de 2006

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Governo suspende financiamento à Volks

Liberação de R$ 497,1 mi pelo BNDES ficará condicionada à conclusão de negociações com trabalhadores sobre demissões

Crédito havia sido acertado em abril, antes de a empresa ameaçar fechar fábrica no ABC paulista; montadora não comenta decisão


José Varella/CB
O ministro do Trabalho, Luiz Marinho (à dir.), dá entrevista ao lado de Demian Fiocca, do BNDES


JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo decidiu suspender a liberação de R$ 497,1 milhões em recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a Volkswagen até que a direção da empresa conclua as negociações com os trabalhadores sobre o processo de reestruturação da montadora.
Em reunião entre governo e representantes da VW, os ministros Luiz Marinho (Trabalho) e Dilma Rousseff (Casa Civil) e o presidente do BNDES, Demian Fiocca, comunicaram a suspensão do repasse de recursos à companhia. A operação de empréstimo do BNDES fora anunciada em abril.
Até a semana passada, Fiocca vinha afirmando que o empréstimo não tinha nenhuma relação com a manutenção de empregos por parte da companhia e que o dinheiro seria liberado. As declarações destoavam da posição adotada por Marinho, que defendia a não-concessão do empréstimo, já que a montadora ameaçava fechar a unidade do ABC paulista.
Ontem, o governo acertou o discurso. "Enquanto não consolidar essa negociação [com empregados], o BNDES vai suspender [a liberação do empréstimo] e aguardar a consolidação do acordo", disse Marinho depois da reunião.
Segundo ele, a suspensão não tem uma vinculação direta com a "manutenção ou ampliação" dos empregos. "Está vinculada ao processo de investimentos da empresa, mas essa questão de fechamento de fábrica é um fato novo", acrescentou.
Fiocca explicou que até agora não havia sido liberado nenhum centavo do financiamento para a VW porque o banco ainda trabalhava nos trâmites técnicos da operação. Ele esclareceu que no encontro de ontem a empresa declarou que só será possível garantir se manterá o plano de investimentos apresentado na época em que o empréstimo foi negociado depois de concluídas as conversas com os funcionários.
"Como apareceram fatos novos na imprensa [fechamento da unidade], o BNDES tem de reavaliar se haverá mudança nos planos de investimento. A empresa nos respondeu que só vai ter o desenho final de sua estratégia de investimento quando concluir o acordo com os sindicatos. Então, vamos aguardar", disse Fiocca.

Modernização
Após a reunião, realizada no Palácio do Planalto, os diretores da VW não quiseram falar com a imprensa. O empréstimo acertado com o BNDES é destinado à modernização de fábricas, à reelaboração e modernização de design de vários modelos e à implantação das linhas de produção de modelos mais atualizados. Desde 2000, a VW já recebeu mais de R$ 2 bilhões em crédito do banco.
A reestruturação da Volks no Brasil prevê a demissão de pelo menos 3.600 dos 12,4 mil empregados na fábrica Anchieta, em São Bernardo do Campo. Além disso, a empresa quer cortar direitos trabalhistas na tentativa de reduzir seus custos em 15% e ganhar mais competitividade. Diante da resistência dos trabalhadores, a companhia começou a falar em demitir cerca de 6.100 funcionários e em fechar a fábrica Anchieta.
Marinho disse que a reestruturação da montadora está se dando no mundo inteiro. "Nós queremos que as partes tenham maturidade e possam consolidar a negociação preservando as unidades." Para representantes do setor automotivo, há problemas de competitividade no Brasil por causa dos juros altos e da carga tributária.


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