São Paulo, terça-feira, 29 de agosto de 2006

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Depois de cinco dias, negociações entre a montadora e o sindicato não avançam

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

As negociações entre Volkswagen e Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (filiado à CUT) emperraram depois de cinco dias de reuniões entre executivos e dirigentes sindicais.
Sem acordo, os trabalhadores devem decidir hoje à tarde em assembléia em São Bernardo do Campo como pretendem enfrentar as demissões e os cortes de benefícios que a montadora planeja efetuar.
"Prova da falta de acordo foi a decisão do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]", disse José Lopez Feijóo, presidente do sindicato. Ele se referiu à decisão anunciada ontem pelo governo de suspender temporariamente empréstimo de R$ 497,1 milhões para a VW.
O banco informa que os recursos do financiamento, acertados em abril, estão suspensos até a montadora acertar impasse na fábrica de São Bernardo.
"A decisão é acertada. Não se pode conceder dinheiro público para quem ameaça demitir ou fechar uma fábrica. É bom que o BNDES reviu sua posição. Essa deveria ser uma política de governo e deve ser estendida a toda e qualquer empresa privada que venha a agir da mesma forma", disse Feijóo.
Para o sindicalista, a suspensão do empréstimo não pode ser interpretada como interferência política do governo na questão da reestruturação de uma empresa privada.
"Não significa [interferência] por uma simples razão: recursos públicos, como os do BNDES, pertencem à sociedade. Quando se anuncia o fechamento de uma fábrica, é um ataque à sociedade, porque a empresa vai causar um prejuízo social", afirmou.
A Volks não se pronunciou sobre o assunto nem sobre o rumo do impasse, que começou em maio deste ano, quando anunciou que precisava demitir para tornar-se mais competitiva e evitar prejuízos com as exportações.
Na semana passada, a Volkswagen informou que, se os trabalhadores não aceitarem negociar medidas para reduzir os custos em 15%, a montadora pode demitir 6.100 dos 12,4 mil empregados e fechar a unidade do ABC. Mesmo se fechar um acordo com o sindicato, a empresa quer demitir 3.672.
As demissões podem ocorrer a partir de novembro, quando termina acordo de estabilidade negociado em 2001 na matriz alemã por Luiz Marinho -hoje ministro do Trabalho e, na época, sindicalista. A VW quer redimensionar suas atividades no país desde 2001, mas enfrenta resistência do sindicato.
Os trabalhadores estão apreensivos e divididos sobre a questão, segundo alguns relatos feitos à Folha ontem pelo telefone. Parte deles acha que a montadora está blefando. Outra parte diz que tem medo de decretar greve e dar motivo para a montadora os demitir.


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