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Depois de cinco dias, negociações entre a montadora e o sindicato não avançam
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
As negociações entre Volkswagen e Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (filiado à CUT)
emperraram depois de cinco
dias de reuniões entre executivos e dirigentes sindicais.
Sem acordo, os trabalhadores devem decidir hoje à tarde
em assembléia em São Bernardo do Campo como pretendem
enfrentar as demissões e os
cortes de benefícios que a montadora planeja efetuar.
"Prova da falta de acordo foi a
decisão do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social]", disse José Lopez Feijóo, presidente do
sindicato. Ele se referiu à decisão anunciada ontem pelo governo de suspender temporariamente empréstimo de R$
497,1 milhões para a VW.
O banco informa que os recursos do financiamento, acertados em abril, estão suspensos
até a montadora acertar impasse na fábrica de São Bernardo.
"A decisão é acertada. Não se
pode conceder dinheiro público para quem ameaça demitir
ou fechar uma fábrica. É bom
que o BNDES reviu sua posição. Essa deveria ser uma política de governo e deve ser estendida a toda e qualquer empresa privada que venha a agir
da mesma forma", disse Feijóo.
Para o sindicalista, a suspensão do empréstimo não pode
ser interpretada como interferência política do governo na
questão da reestruturação de
uma empresa privada.
"Não significa [interferência]
por uma simples razão: recursos públicos, como os do
BNDES, pertencem à sociedade. Quando se anuncia o fechamento de uma fábrica, é um
ataque à sociedade, porque a
empresa vai causar um prejuízo social", afirmou.
A Volks não se pronunciou
sobre o assunto nem sobre o rumo do impasse, que começou
em maio deste ano, quando
anunciou que precisava demitir para tornar-se mais competitiva e evitar prejuízos com as
exportações.
Na semana passada, a Volkswagen informou que, se os trabalhadores não aceitarem negociar medidas para reduzir os
custos em 15%, a montadora
pode demitir 6.100 dos 12,4 mil
empregados e fechar a unidade
do ABC. Mesmo se fechar um
acordo com o sindicato, a empresa quer demitir 3.672.
As demissões podem ocorrer
a partir de novembro, quando
termina acordo de estabilidade
negociado em 2001 na matriz
alemã por Luiz Marinho -hoje
ministro do Trabalho e, na época, sindicalista. A VW quer redimensionar suas atividades no
país desde 2001, mas enfrenta
resistência do sindicato.
Os trabalhadores estão
apreensivos e divididos sobre a
questão, segundo alguns relatos feitos à Folha ontem pelo
telefone. Parte deles acha que a
montadora está blefando. Outra parte diz que tem medo de
decretar greve e dar motivo para a montadora os demitir.
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