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Tavares não vê modelo claro para o país crescer
Para Conceição Tavares, PAC "rasteja" como o início do Plano de Metas de JK
Economista diz que não
há sinais de que o país será
muito afetado pela crise nos mercados e elogia acúmulo de reservas feito pelo BC
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
A economista Maria da Conceição Tavares afirma que o
país está vivendo um ciclo de
crescimento desde 2006, com
aumento do crédito e do salário
mínimo. Esses fatores reativaram o mercado interno, mas,
segundo ela, ainda restam dúvidas sobre o modelo de desenvolvimento do país, principalmente com os gargalos na infra-estrutura.
Segundo Tavares, que deu
ontem a aula inaugural do curso do Centro Internacional
Celso Furtado de Políticas para
o Desenvolvimento, na sede do
BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) no Rio, o "PAC vai rastejando assim como as metas de
JK [de fazer o pais "avançar 50
anos em 5".] rastejaram no começo". Sem a solução para os
gargalos, a economista afirmou
que fica difícil antever o cenário de longo prazo. Além disso,
ressaltou que ainda não é possível prever se a reativação do
mercado interno é um ciclo de
curta expansão ou duradouro.
Para Tavares, resta articular
as relações entre Estado, capital estrangeiro e capital nacional para dinamizar as grandes
obras de infra-estrutura. Apesar dessas dificuldades, ela rechaça a hipótese de uma volta
ao modelo primário exportador. Segundo ela, essa hipótese
é falaciosa porque a indústria
brasileira não pode ser "implodida", embora possam ocorrer
novos arranjos e reestruturações de alguns setores. "Isso
aqui não é a Argentina ou o Chile", afirmou, em referência à hipótese de desindustrialização.
Na avaliação da economista,
o aumento das importações
nesse cenário é resultado de
uma natureza cíclica da economia brasileira, que importa
mais em períodos de expansão
e que foi parcialmente impulsionada pela alta do real.
Com a mesma veemência, refutou a hipótese de o Brasil
crescer em ritmo similar ao das
potências asiáticas. "O potencial de crescimento do Brasil
agora é maior do que o da maioria dos países da América Latina e da África, mas não é maior
do que o da Ásia, que ainda está
no ciclo de industrialização e
urbanização pesada", afirmou.
O Estado brasileiro sempre
teve um perfil intervencionista
e de promoção do desenvolvimento econômico, diz Tavares.
Descontadas algumas experiências de curto prazo, o único
governo "neoliberal" brasileiro
foi o de Fernando Henrique
Cardoso, diz a economista.
Sobre a política macroeconômica, mantida no governo Lula,
a economista elogiou o acúmulo de reservas feito pelo Banco
Central no período que antecedeu a crise e a redução da dívida
externa. "O lado bom do conservadorismo do BC foi subir as
reservas", disse.
Crise imobiliária
Para a economista, o Brasil
não deverá ser prejudicado pela
crise no mercado imobiliário
americano. A menos que a turbulência se transforme em depressão, o que levaria todas as
economias, inclusive a chinesa,
"para o beleléu", nas palavras
de Tavares. "Se houver uma desaceleração da economia americana? So what? Exportaremos um pouco menos. (..) Aqui
não aconteceu nada e já se fala
em subir juros", disse.
Segundo ela, há hoje uma crise ideológica de esquerda e de
direita. "A direita também não
tem duas idéias, é só olhar o
[Nicolas] Sarkozy. (...) Se é a favor da educação universal, da
seguridade social, dos pobres e
da distribuição de renda, você é
de esquerda, mesmo que os
partidos de esquerda tenham
ido todos para o caneco. A social democracia européia foi toda para o caneco. Dentro do PT
tem gente conservadora que
acha ótimo taxa de juro alta,
acha que assim é mais seguro."
Apesar do elogio à atitude do
BC, a economista continua com
a fala agitada de sempre. Sem o
cigarro do lado, só mostrou sinais de cansaço após quase três
horas de palestra. Logo de início, disse que, quando as pessoas começam a se preocupar
em fazer perfis, é porque pensam que o perfilado está perto
de morrer, mas que ainda pretende se manter "vivíssima". O
senador Aloizio Mercadante,
discípulo de Tavares, planeja
escrever um livro de memórias
a respeito da economista.
Os planos para o futuro da
economista incluem a conclusão de um estudo sobre o
BNDES em parceria com Luiz
Gonzaga Belluzzo.
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