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CRÉDITO
Ex-presidente do BC teme falso otimismo com uma queda rápida
Juro baixo no crediário
ainda deverá demorar
da Redação
Há uma grande expectativa em
torno da queda mais consistente
dos juros nas operações de crédito, o que ajudaria a recuperação
da economia. Mas, ainda que a taxa básica caia mais alguns pontos
em poucos meses, dificilmente o
consumidor terá à disposição empréstimos a custos civilizados.
Entre as taxas básicas da economia, aquelas que servem de parâmetro para as aplicações (a taxa
Selic, dos títulos públicos, e o CDI,
do juro interbancário), e os juros
cobrados do consumidor, vai
uma grande distância.
Tomando como referência do
custo dos empréstimos para pessoas físicas a taxa média do crédito pessoal em 14 bancos, pesquisados pelo Procon-SP, os juros estão neste mês no menor patamar
do Plano Real.
A pesquisa feita nos últimos
dias 11 e 12 indica taxa média
mensal de 5,58%, contra um juro
básico de 1,55% no CDI, conforme projeção para o acumulado
do mês pelo mercado futuro.
A diferença é de quatro pontos
percentuais. Em taxas anualizadas ela fica mais nítida: 19,23% no
CDI e 86,26% ao ano no crédito
pessoal, calculando pelo método
de dias úteis (a taxa de 5,58% acumulada por 12 vezes dá mais:
91,86% ao ano).
A taxa real no crédito é ainda
maior. Com inflação projetada de
8% no ano, seria de 72,46%. Isso
sem falar que essa inflação dificilmente será reposta nos salários e
que há taxas mais altas no mercado. A média no cheque especial,
por exemplo, chega a 10,46% ao
mês, segundo o Procon-SP.
Mesmo que os juros básicos
caiam mais, a taxa do crédito enfrentaria resistências em acompanhá-los de forma rápida porque a
diferença não está apenas no lucro do banco ou da financeira.
Gustavo Loyola, ex-presidente
do Banco Central e hoje na consultoria Tendências, ao comentar
a recente decisão do BC de examinar as causas das elevadas taxas
de juros ao consumidor, mostrou-se preocupado com o falso
otimismo que isso possa criar na
sociedade e no meio político.
Ele entende serem oportunos os
estudos do BC, mas afirma que
"não existe milagre que faça as taxas de juros ao consumidor caírem rápida e substancialmente no
Brasil, como fruto de uma ação
isolada do Banco Central".
Loyola vê raízes estruturais nas
elevadas taxas, e a solução, como
depende de várias medidas de naturezas distintas, poderá vir só a
médio e longo prazos.
As causas dos juros altos, na visão de Loyola, podem ser resumidas em cinco tópicos: a) incerteza
macroeconômica; 2) risco de crédito; 3) custos tributários e da regulamentação, incluindo efeitos
dos depósitos compulsórios; 4)
custos bancários; e 5) margem líquida da instituição financeira, o
que depende da concorrência e da
capacidade utilizada (alavancagem).
São questões complexas que, segundo Loyola, dificilmente poderão ser equacionadas em prazo
relativamente curto.
Mudanças nos custos de regulamentação e de tributação teriam,
teoricamente, efeitos mais rápidos sobre o crédito, mas Loyola
lembra que há, como empecilho,
os graves problemas fiscais. O
mesmo ocorre com os compulsórios, ligados à política monetária.
Nos EUA, por exemplo, não há
praticamente compulsório, o que
facilita com que os "spreads" dos
empréstimos sejam mais baixos.
Mas o que mais importa, no caso dos países ricos, é mesmo a
maior previsibilidade do cenário
econômico. São economias estabilizadas, que permitem a concessão de crédito de longo prazo a juros prefixados.
No Brasil, qualquer operação de
crédito embute as incertezas do
cenário econômico. Nas recentes
crises, a alta dos juros básicos
complicou a vida também de
quem emprestou a juros prefixados a prazos mais longos.
A sucessão de crises aumentou
ao mesmo tempo a inadimplência, que acaba pressionando os juros finais. A taxa de risco, numa
ciranda perversa, é transferida
também a quem paga em dia.
(GABRIEL J. DE CARVALHO)
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