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MERCOSUL
Calçadistas limitam exportação em iniciativa apoiada pelos dois governos; setor de papel acerta hoje
Acordo reduz tensão com Argentina
ANDRÉ SOLIANI
de Buenos Aires
Empresários brasileiros e argentinos do setor de calçados e
papéis finalmente chegaram a um
acordo, distendendo as relações
comerciais entre o governo dos
dois países.
Os acordos serão assinados apenas por representantes do setor
privado, embora contem com o
apoio dos dois governos.
"Estamos muitos satisfeitos que
os setores privados demonstrem
sensatez e capacidade de resolver
pendências. Os acordos colaboram para o crescimento de nossa
sociedade", disse o secretário de
Relações Econômicas Internacionais argentino, Jorge Campbell.
Hoje, em Montevidéu, representantes da Abicalçados (associação de produtores de calçados
do Brasil) e da CIC (os produtores
argentinos) assinarão o documento que limita a exportação
brasileira de sapatos, entre outubro e dezembro, em 1,7 milhão de
pares. Desde o início do ano, o
Brasil colocou 9,5 milhões de pares na Argentina.
Com o acerto, o volume de exportação deste ano será similar ao
de 98, aproximadamente 11 milhões de pares. O acerto também
prevê cota de 4,4 milhões para no
primeiro semestre de 2000.
O presidente da CIC, Carlos
Bueno, não se mostrou satisfeito
com o entendimento. "Por nós, a
entrada de calçados brasileiros seria zero", disse ele. Mas, o presidente da CIC, também acha que o
acordo não é aquele que os brasileiros desejavam. A Abicalçados
queria cota de 2 milhões de pares.
"Mas pelo menos é um acordo e
dá tranquilidade para os produtores dos dois lados", disse Bueno.
Os dois governo enfatizam que
o acerto entre o setor privado foi
voluntário. Mas a Folha apurou
que a pressão dos governos sobre
os empresários foi fundamental,
sobretudo do lado argentino.
Depois que o Brasil decidiu retaliar as medidas argentinas que
impediam a entrada de calçados e
de papéis brasileiros, os negociadores argentinos se empenharam
numa solução para a crise.
Os argentinos perceberam que
teriam mais a perder com o controle da entrada de 400 produtos
no mercado brasileiro que a ganhar com a proteção da indústria
de calçados e de papéis.
O conflito começou no mês passado, quando a secretária de Indústria e Comércio anunciou que
iria exigir autorizações prévias e
certificados de qualidade para importação de sapatos.
Em setembro, os argentinos
anunciaram que estipulariam as
mesmas exigências para o setor
de papéis. A resposta brasileira foi
ameaçar adotar barreiras técnicas
para os produtos argentinos.
O acordo entre os papeleiros será assinado amanhã, em Buenos
Aires. O acerto prevê cota de exportação de 5.000 toneladas de
papel por mês. O volume é inferior a média exportada pelos brasileiros nos primeiros oito meses
do ano, 6.630 toneladas.
Hoje, deputados brasileiros se
reunirão com seus pares argentinos, em Buenos Aires. O deputado Júlio Redecker (PPB-RS) disse
que pedirá aos legisladores argentinos que não aprovem a lei que
estabelece um conteúdo nacional
de 50% para carros fabricados na
Argentina. O Brasil ameaça suspender as negociações do acordo
automotivo do Mercosul, caso a
Argentina adote essa lei.
Exportação suspensa
Cerca de 1,16 milhão de pares de
calçados brasileiros estão parados
em aduanas, depósitos de empresas transportadoras e armazéns
das indústrias devido à demora
na concessão de licenças por parte
do governo argentino.
A exportação praticamente parou desde o dia 9 último, quando
o governo argentino revogou a
concessão das licenças de importação automáticas, submetendo o
produto a uma série de medidas
burocráticas que podem atrasar o
processo de importação.
De acordo com a Abicalçados,
700 mil pares estão em postos da
fronteira em caminhões e instalações das transportadoras. Outros
460 mil pares estão em armazéns.
Colaborou Marcelo Teixeira, da Agência Folha
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