São Paulo, Quarta-feira, 29 de Setembro de 1999
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MERCOSUL
Calçadistas limitam exportação em iniciativa apoiada pelos dois governos; setor de papel acerta hoje
Acordo reduz tensão com Argentina

ANDRÉ SOLIANI
de Buenos Aires

Empresários brasileiros e argentinos do setor de calçados e papéis finalmente chegaram a um acordo, distendendo as relações comerciais entre o governo dos dois países.
Os acordos serão assinados apenas por representantes do setor privado, embora contem com o apoio dos dois governos.
"Estamos muitos satisfeitos que os setores privados demonstrem sensatez e capacidade de resolver pendências. Os acordos colaboram para o crescimento de nossa sociedade", disse o secretário de Relações Econômicas Internacionais argentino, Jorge Campbell.
Hoje, em Montevidéu, representantes da Abicalçados (associação de produtores de calçados do Brasil) e da CIC (os produtores argentinos) assinarão o documento que limita a exportação brasileira de sapatos, entre outubro e dezembro, em 1,7 milhão de pares. Desde o início do ano, o Brasil colocou 9,5 milhões de pares na Argentina.
Com o acerto, o volume de exportação deste ano será similar ao de 98, aproximadamente 11 milhões de pares. O acerto também prevê cota de 4,4 milhões para no primeiro semestre de 2000.
O presidente da CIC, Carlos Bueno, não se mostrou satisfeito com o entendimento. "Por nós, a entrada de calçados brasileiros seria zero", disse ele. Mas, o presidente da CIC, também acha que o acordo não é aquele que os brasileiros desejavam. A Abicalçados queria cota de 2 milhões de pares.
"Mas pelo menos é um acordo e dá tranquilidade para os produtores dos dois lados", disse Bueno.
Os dois governo enfatizam que o acerto entre o setor privado foi voluntário. Mas a Folha apurou que a pressão dos governos sobre os empresários foi fundamental, sobretudo do lado argentino.
Depois que o Brasil decidiu retaliar as medidas argentinas que impediam a entrada de calçados e de papéis brasileiros, os negociadores argentinos se empenharam numa solução para a crise.
Os argentinos perceberam que teriam mais a perder com o controle da entrada de 400 produtos no mercado brasileiro que a ganhar com a proteção da indústria de calçados e de papéis.
O conflito começou no mês passado, quando a secretária de Indústria e Comércio anunciou que iria exigir autorizações prévias e certificados de qualidade para importação de sapatos.
Em setembro, os argentinos anunciaram que estipulariam as mesmas exigências para o setor de papéis. A resposta brasileira foi ameaçar adotar barreiras técnicas para os produtos argentinos.
O acordo entre os papeleiros será assinado amanhã, em Buenos Aires. O acerto prevê cota de exportação de 5.000 toneladas de papel por mês. O volume é inferior a média exportada pelos brasileiros nos primeiros oito meses do ano, 6.630 toneladas.
Hoje, deputados brasileiros se reunirão com seus pares argentinos, em Buenos Aires. O deputado Júlio Redecker (PPB-RS) disse que pedirá aos legisladores argentinos que não aprovem a lei que estabelece um conteúdo nacional de 50% para carros fabricados na Argentina. O Brasil ameaça suspender as negociações do acordo automotivo do Mercosul, caso a Argentina adote essa lei.

Exportação suspensa
Cerca de 1,16 milhão de pares de calçados brasileiros estão parados em aduanas, depósitos de empresas transportadoras e armazéns das indústrias devido à demora na concessão de licenças por parte do governo argentino.
A exportação praticamente parou desde o dia 9 último, quando o governo argentino revogou a concessão das licenças de importação automáticas, submetendo o produto a uma série de medidas burocráticas que podem atrasar o processo de importação.
De acordo com a Abicalçados, 700 mil pares estão em postos da fronteira em caminhões e instalações das transportadoras. Outros 460 mil pares estão em armazéns.


Colaborou Marcelo Teixeira, da Agência Folha


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