São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CONTAS PÚBLICAS
Setor público pode até gastar R$ 2,2 bi a mais do que arrecadar neste mês que ainda assim atinge saldo previsto
Meta com FMI deve ser cumprida com folga

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal está perto de cumprir as metas fiscais acertadas com o FMI (Fundo Monetário Internacional) para o terceiro trimestre deste ano.
Entre janeiro e agosto, as receitas obtidas pelo setor público superaram os gastos em R$ 31,22 bilhões, descontadas as despesas com juros. O acordo com o Fundo prevê que, até setembro, o superávit primário deve ser de, no mínimo, R$ 29 bilhões.
Isso quer dizer que, neste mês, o setor público -governos federal, estaduais e municipais, além das empresas estatais- pode gastar até R$ 2,22 bilhões a mais do que arrecadar e, ainda assim, a meta será cumprida.
Em agosto, houve um superávit primário de R$ 6,49 bilhões.
No mês de julho, o superávit foi de R$ 1 bilhão.
O governo federal e o Banco Central foram os principais responsáveis pelo resultado positivo do mês passado, obtendo um superávit de R$ 5,25 bilhões.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, um dos motivos do bom resultado do setor público, no mês passado, é a última parcela de R$ 3,06 bilhões recebida pelo Tesouro Nacional pela venda de concessões para a exploração de serviços de telefonia -antigo sistema Telebrás.

Estatais
Além disso, as receitas obtidas pelas empresas estatais federais, em especial pela Petrobras, também ajudaram.
Essas companhias colaboraram com R$ 1,75 bilhão para o superávit primário, quantia quase oito vezes maior do que o montante obtido em julho.
O superávit primário é o dinheiro que o governo economiza para pagar parte de sua dívida. Além do superávit primário, o governo federal pôde contar com a receita vinda da venda de ações da Petrobras. Essa operação rendeu R$ 6,63 bilhões aos cofres do governo, quantia utilizada para abater parte da dívida do setor público.
Com todas essas receitas, a dívida pública registrou um pequeno recuo. Em julho, a dívida do setor público representava 45,6% do PIB (Produto Interno Bruto).
No mês passado, esse número caiu para 44,7%.
De acordo com Lopes, o objetivo é chegar ao fim deste mês com uma dívida de R$ 550 bilhões.
Em agosto, ela ficou em R$ 544,17 bilhões.

Juros
O destaque negativo das contas públicas foi o aumento dos gastos com juros, que dobraram entre julho e agosto. No mês passado, foram gastos R$ 10,92 bilhões, contra R$ 5,17 bilhões em julho.
Em 2000, agosto foi o mês em que o setor público mais gastou com juros. Nos últimos 12 meses, o setor público gastou R$ 73,394 bilhões em juros -6,44% do PIB.
De acordo com Lopes, o motivo foi a forte alta registrada pelo dólar no mês de agosto. Grande parte da dívida pública é corrigida pela variação cambial.
No mês passado, o dólar subiu 2,7%. A alta do IGP-DI (Índice Geral de Preços, da Fundação Getúlio Vargas), outro importante indexador da dívida, nos últimos meses também colaborou para a elevação dos gastos com juros.
Se considerados os gastos com juros, o setor público teve, em agosto, um déficit de R$ 4,44 bilhões. Nos últimos 12 meses, o déficit acumulado é de R$ 36,25 bilhões, equivalente a 3,17% do Produto Interno Bruto.
Segundo Lopes, esse déficit (chamado tecnicamente de nominal) deve encerrar o ano em um valor próximo a 3,8% do PIB.


Texto Anterior: Privatizar sistema financeiro no Brasil não é dogma, afirma o FMI
Próximo Texto: Ano eleitoral não desequilibra contas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.