São Paulo, quarta-feira, 29 de setembro de 2004

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SINAL VERDE

Reserva da Petrobras para absorver variação dos preços externos se esgota; valor do barril em NY vai a US$ 49,90

Lula dá aval para aumento dos combustíveis

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já deu aval à Petrobras para anunciar em breve um aumento do preço dos combustíveis devido à alta do barril de petróleo no mercado internacional. Motivo: esgotou-se uma reserva de até US$ 2 bilhões da empresa para absorver variações do preço externo do produto.
Oficialmente, governo e Petrobras negam ingerência política no reajuste dos combustíveis. Teoricamente, a estatal é independente, mas Lula e os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Dilma Rousseff (Minas e Energia) são sempre consultados e informados pelo presidente da Petrobras, o ex-senador José Eduardo Dutra (PT-SE), quando o assunto é alta dos preços. Ontem, Dutra disse que a companhia ainda não decidiu se fará o reajuste.
A Petrobras vinha "segurando" o aumento por uma razão técnica e outra política, segundo a Folha apurou. A técnica era a decisão de aguardar por tempo mais longo as recentes variações, quase sempre para cima, do preço do barril do petróleo no mercado internacional e avaliar se isso configurava mudança de patamar.
Ontem, o barril fechou a US$ 49,90 em Nova York, a maior cotação da história. Desde o começo do ano, a commodity registra alta de 52%. No período, houve um reajuste de preços no Brasil -em junho, a gasolina subiu 10,8% e o diesel, 10,6% nas refinarias.
A demora em repassar os aumentos das cotações internacionais fez a estatal registrar uma perda de receita de R$ 700 milhões neste ano, segundo a consultoria CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura). A cifra é contestada pela Petrobras.
Ou seja, se o aumento veio para ficar no mercado internacional, a Petrobras deveria fazer um reajuste para recompor seu preço nesses parâmetros, apesar de produzir cerca de 90% do petróleo consumido no Brasil.
Como o "colchão" (reserva) para absorver essas variações no mercado internacional está esgotado, a Petrobras avalia que precisa reajustar o preço da gasolina.
Já a motivação política que retardava o aumento atendia pelo nome de eleições municipais.
O governo tinha a preocupação de aumentar a gasolina na temporada eleitoral e assim prejudicar a imagem dos candidatos do PT e dos partidos aliados nas eleições do próximo domingo, quando se realiza o primeiro turno.
Nos últimos dois dias, em reuniões no Palácio do Planalto, Lula debateu com auxiliares a conveniência de um aumento do preço dos combustíveis. Concluiu-se que deveria ser dado "sinal verde" para a Petrobras, o que foi feito.
O temor de um efeito negativo nas eleições é menor hoje. Auxiliares do presidente argumentaram que duas notícias negativas nas últimas duas semanas não abalaram eleitoralmente os candidatos do PT e dos aliados.
Foram elas o aumento da taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto percentual e a elevação do superávit primário neste ano. A Selic passou de 16% para 16,25% ao ano. E a meta fiscal -economia para o pagamento de juros- foi elevada de 4,25% para 4,5% do PIB (Produto Interno Bruto).
Assim, o Palácio do Planalto avalia que não há como evitar um aumento da gasolina quando o preço do barril de petróleo está perto de US$ 50. A questão eleitoral passou a pesar menos.


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