São Paulo, quarta-feira, 29 de setembro de 2004

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SINAL VERDE

Crise na Nigéria é o principal motivo para a indefinição, diz Dutra

Alta dos derivados não está decidida

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Apesar da disparada do preço internacional do petróleo devido à crise na Nigéria, o presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, disse que a estatal ainda não decidiu se aumentará o preço dos combustíveis. Um dos motivos da indefinição, afirma Dutra, é justamente o conflito no país africano, que alterou a tendência das cotações no mercado internacional.
Segundo ele, a empresa continua monitorando o mercado em busca de uma maior estabilidade antes de optar por um reajuste. O objetivo, diz ele, é não transferir as volatilidades do cenário externo para os preços domésticos.
Na sexta-feira passada, Dutra havia dito que aguardaria mais dez dias antes de definir um aumento. Ontem, afirmou que a situação já mudou: "Entre o que eu falei na semana passada e hoje já existem outros fatos como o início da crise de produção na Nigéria".

Preocupação
Indagado se o preço recorde do petróleo é um fator de preocupação, respondeu: "O mundo todo está preocupado com o preço do petróleo. E eu, como habitante do mundo, também estou preocupado, mas não há nenhuma novidade por parte da Petrobras em relação à mudança de preço no Brasil".
Dutra reclamou que foi mal-interpretado na sexta-feira passada, quando disse, segundo ele, que havia indícios de que o preço do óleo poderia definir um novo patamar. Ele afirmou que não fez referência às eleições ao falar nos dez dias.
"Não vou fazer análise porque, quando falei na semana passada que nos próximos dias teríamos mais elementos para formar uma convicção a respeito de preço, disseram que a gente iria aumentar [a gasolina] depois das eleições", disse Dutra, que participou ontem da cerimônia de conclusão das obras da P-43. A construção da plataforma, que irá operar no campo de Caratinga (bacia de Campos), atrasou 18 meses.

Perdas
A demora em repassar os aumentos das cotações internacionais fez a estatal registrar perda de receita de R$ 700 milhões neste ano, segundo a consultoria CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura).
O diretor financeiro da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, contesta a eventual redução de faturamento. Diz que a estatal não perde porque seus custos de produção são em reais, ou seja, menores do que os das concorrentes internacionais e do que os embutidos nos preços de referência.
Para Helder Queiroz, especialista do Grupo de Economia da Energia do Instituto de Economia da UFRJ, sempre existe "uma tentação, de qualquer Executivo", em conter reajustes às vésperas das eleições.
Isso, diz, não é uma "exclusividade" do governo Lula. Ele lembra das eleições presidenciais de 2002, quando o dólar bateu em R$ 4 e a estatal ficou mais de três meses sem aumentar os preços.
Embora não defenda um alinhamento automático, Queiroz afirma que o problema é que o preço internacional sobe continuamente desde meados de 2003, superando o patamar utilizado pela estatal em seu último reajuste -em junho (alta de 10,8% para a gasolina), quando a referência era de US$ 35 a US$ 37 o barril.


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