São Paulo, quarta-feira, 29 de setembro de 2004

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VAREJO

Fabricantes promovem mudanças em embalagens e fórmulas e recolocam itens no mercado com reajustes até acima da inflação

Indústria relança produtos e eleva preços

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O consumidor vai ao supermercado e percebe, por exemplo, que não há mais o sabão em pó Campeiro. Agora é o Campeiro Surf, com nova embalagem desde maio e mais caro que o quase homônimo. Sumiu o Lux Skincare (barra) em 2003. No lugar há o novo Lux, com forte ação de mídia neste ano e outro design com "exclusiva fórmula". Em relação ao modelo antigo, está 10% mais caro hoje.
Mais mudança virá por aí. A Nestlé está reformulando agora algumas de suas embalagens com o apoio de três empresas de design, apurou a Folha, assim como a Bunge Alimentos acabou de fazer com mais de 80 embalagens.
Terreno propício para fazer reajustes de preços, o movimento de relançamentos de mercadorias tomou força neste ano -com a melhora no humor da economia- e trouxe mudanças nas tabelas. Algumas o consumidor percebe, outras nem tanto.
Dados obtidos pela Folha em tabelas de preços de supermercados de São Paulo -antes e após o relançamento de certas mercadorias nos últimos 12 meses- mostram que o aumento varia de 10% a 12% na linha de limpeza e higiene e beleza, por exemplo.
É fato que aumentos podem ser conseqüência de pressão inflacionária nos setores -resultado de maiores custos em insumos ou pelo ato de agregar uma nova tecnologia, cara inicialmente, ao processo de produção. Há aumentos, porém, que superam a inflação oficial. Segundo o IPCA, a taxa inflacionária no país no mesmo período (últimos 12 meses) acumula 6,81%. O IPC-Fipe encostou nos 7,34%.
Levantamento da consultoria ACNielsen feito a pedido da Folha mostra que os segmentos de mercearia, higiene pessoal e limpeza tiveram mais lançamentos ou relançamentos no primeiro semestre do ano. Não há dados só de relançamentos. O recorde ocorreu com biscoitos e bolachas - 441 lançamentos em um semestre. Isso equivale a quase 2,5 lançamentos por dia. Em seguida está o vinho, com 300 novidades.
Na marca Campeiro, por exemplo, a mudança para Campeiro Surf ocorreu neste ano. O produto tem "preço acessível" e "um aroma floral combinado com acordes almiscarados", diz a fabricante Unilever. Em fevereiro, três meses antes de o Surf aparecer, o Campeiro (1 kg) custava de R$ 2,99 a R$ 3,89, apurou a Folha. Logo depois, ao chegar ao mercado paulista em maio, o novo Campeiro Surf custava de R$ 3,39 a R$ 4,20 (valor ao consumidor). Na semana passada, era vendido em um encarte promocional, por tempo limitado, a R$ 2,89.
O sabonete Lux, relançado em 2003 e fabricado pela Unilever, teve uma alta de 10% no preço de julho de 2003 a agosto de 2004, apurou a Folha. A inflação do setor de higiene no período foi de 6,23% (IPC-Fipe). Essa inflação é da capital paulista. Os dados de reajustes também referem-se a supermercados da cidade.

Estratégia
As indústrias afirmam que os aumentos de preços não são o principal motivador para as ações relançamentos. E podem ocorrer ou não, segundo a estratégia da empresa e a situação do mercado.
Em meados do ano passado a Kimberly-Clark Kenko reajustou "em menos de 10%", diz a empresa, o preço da sua nova linha de fraldas Turma da Mônica Tripla Proteção. Antes era dupla proteção. Em junho deste ano ela relançou outro modelo que batizou como nova geração. Mas diz que, nesse caso, não fez reajustes.
"Queremos ganhar no volume. O aumento de preço ocorre quando aquilo que entra de novidade no produto custa para a empresa mesmo", afirma Eduardo Aron, diretor de categoria da Kimberly.
Na avaliação de Alexandre Catelam, diretor da Ipsos Novaction, divisão do instituto de pesquisa Ipsos, há uma necessidade urgente de inovar como parte do movimento de evolução dos produtos. A chance de aumentar o preço pode ser oportuna nessa hora.
"Há empresa que quer aumentar um relançamento em 15%, 20%. Dizemos que é uma decisão delicada. O consumidor está "antenado" e vai comprar a mercadoria se a novidade valer a pena."
"Existem casos em que uma empresa precisa fazer um aumento e o segura por meses. E quando relança algo, pode "aproveitar" o momento para reajustar", diz Genevieve Junqueira, diretora de cuidados femininos da Kimberly.


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